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A Viúva Clicquot conta uma história de amor transcendental

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Durante o seu bloco inicial, A Viúva Clicquot se comporta narrativamente como um delírio da imaginação, uma poesia imagética sobre um casal de criadores de vinho e champagne. Não existe um conceito tradicional de leitura de roteiro, e seguimos observando essas duas figuras históricas em sua liturgia romântica. Infelizmente isso não é disso que se compõe o escopo do filme na totalidade, mas também o filme não se coloca de maneira formal. Esse lugar do interlúdio de imagens segue pela duração do longa (que é bem curto, inclusive), e o que parecia mais uma provocação com a cara de Jane Campion se integra a um lugar menos poético. A força do que é visto se dilui, mas não se extingue. 

Thomas Napper dirige seu segundo longa narrativo, após bem sucedida carreira entre os videoclipes e as minisséries de TV. O tratamento que parece procurar um lugar de observação mesmo dentro de um campo histórico encontra também eco na versão de O Morro dos Ventos Uivantes concebida por Andrea Arnold, mas o cineasta aqui não tem tanto interesse assim em encerrar suas imagens em um campo distante. Por isso A Viúva Clicquot se equilibra em uma corda interessante de acompanhar, indo de uma abordagem menos quadrada a respeito de um amor transcendental até precisar cumprir os códigos impressos em uma biografia, ainda que não-tradicional. 

Não existe necessariamente um rebuscamento do que é contado, mas também não se trata de uma biografia que estamos acostumados a ver. A julgar de que temos a impressão que o filme parece mais se ater ao tempo em que vivem, as mudanças que o período enfrentava e uma história de amor que parece propícia unicamente à época. Ao mesmo tempo, existe um deslocamento de importância de campos mais tradicionais da biografia, como datas e locais. A Viúva Clicquot se isenta dessas preocupações para conseguir empregar cada sensação vivida na tela, que surgem com outras diretrizes. Transportar o espectador para a intensidade dos eventos, e tentar dessa forma fazê-lo assimilar cada sentimento. 

O trabalho de Haley Bennett é fundamental para isso. A jovem atriz, de carreira ainda promissora e estando duplamente em cartaz nos cinemas no momento (ela também estrela Borderlands), talvez tenha aqui seu momento mais marcante. A personagem-título que ela encarna é dotada de muitas possibilidades de expressão, indo da mais profunda dor diante da perda até um recorte de uma paixão que a arrebatou sem fazê-la perder sua individualidade. E estamos falando de uma época onde isso não era o esperado, onde seu marido faria dela uma parceira também nos negócios, mas que igualmente a via como uma mulher, logo subordinada de muitas formas. A atriz domina cada momento de sua jornada, e emprega um misto de sensibilidade e muita força.

O contraste que existe entre essas passagens contemplativas e um rigor maior de ritmo e leitura que é exigido à protagonista quando toma as rédeas de cada acontecimento pode criar um filme que se aplica a mais de um público. Isso é conseguido sem desequilibrar cada lado, e o que vemos é um produto capaz de comunicação ampla. Existe também em A Viúva Clicquot uma tentativa de mostrar uma feminista antes do próprio termo ser cunhado, e o desfecho que a narrativa apresenta a sua protagonista deixa claro o teor da obra, fazendo crescer uma produção modesta em sua aplicação. A reta final do filme mostra o lugar de autonomia que uma mulher precisa bancar para conseguir estabelecer parâmetros para si mesma, no futuro. 

Entre os homens do elenco, Sam Riley (de Control) e Ben Miles (de Napoleão) são os pontos altos, e o primeiro estabelece uma química com Bennett que define a segunda metade da produção. É como se o crescimento de seu personagem movesse a viúva para decisões ainda mais reveladoras acerca de um lugar de mulher que ainda não tinha sido configurada. Surpreendentemente, A Viúva Clicquot mostra um olhar descaracterizado para romances históricos, acrescentando poesia no cotidiano tradicional em um campo desgastado. 

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