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Borderlands: Eli Roth adapta HQ para o cinema

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Eli Roth não é um diretor que consegue avançar muito para longe da seara que ocupa com excelência: o horror, ou um espaço onde a violência seja preponderante. No primeiro encontro que teve com Cate Blanchett e Jack Black, o pouquíssimo memorável O Mistério do Relógio na Parede (alguém lembra desse filme?), um olhar para a diversão familiar se fazia presente ali. Grande parte dos cineastas, ao terem filhos, sentem falta de que suas obras possam ser assistidas pelos pequenos, já que suas produções geralmente tem escopo adulto, e no caso de Roth, adulto e impróprio para menores. Pois eis que chegamos a Borderlands, que parece uma pincelada por muitas coisas que o diretor já fez, mas tentando alcançar um público de adaptação de HQs. O que isso significa em tese? Acertou quem respondeu que o rugido do leão, aqui, mais parece o miado de um gatinho. 

Ao mesmo tempo em que nada mostrado em Borderlands peça para ser levado a sério ou tenha um caráter maior do que deveria, vivemos um tempo em que, ainda que assentido pela Disney, qualquer Deadpool consegue estraçalhar dezenas de pessoas e o sangue (ainda que de CGI) espirrar na tela. Baseado em uma série de videogame que, imagina-se tenha uma dose absurda de violência, é no mínimo desconcertante ver o cineasta que nos deu o sanguinolento O Albergue conceber um filme tão fora de seus propósitos aparentes. Não é uma ideia de misantropia a que tento recorrer, mas o universo em questão é apresentado (e reapresentado a todo momento) como um ambiente violento, desgraçado, sem salvação; ora, as únicas gotas de sangue extraídas do filme estão na apresentação de Blanchett. E só.

A partir de então, o filme avança sempre apresentando um grande número de ações em contexto de massacre; as lutas do filme na maioria das vezes envolvem o pequeno grupo de anti-heróis e um exército que eles precisam exterminar. Pois nada ali é explícito, ou sequer acreditamos na efetividade das ações apresentadas, tendo em mente que é uma coreografia elaborada onde ao final da performance, um dublê cairá. O espectador não consegue acreditar na gravidade dos confrontos, parece tudo realmente muito distante do que as falas querem nos fazer acreditar. Tentando criar um universo de pretenso perigo, Roth parece se aproximar mais de uma sátira de Star Wars do que de um mundo verdadeiramente perigoso. 

Sim, Borderlands é um filme que tem a comédia como um dos gêneros, mas não teria porque enxertar apenas um deles como matéria principal. Da forma como é apresentado, tudo parece desconjuntado, porque não é impulsionado para qualquer lado efetivamente. Nem consegue nos fazer rir de verdade, nem provoca alguma apreensão, tampouco lida de maneira assertiva com os valores tradicionais desses títulos que se pretendem ‘buddy movies’, porque claramente precisava fazer nascer daquele grupo uma ideia de pertencimento (como em um Guardiões da Galáxia, por exemplo) e isso igualmente não se fortalece. Da forma como seus elementos se colocam em cena, pouco estará na memória ao fim da sessão. 

Se a ideia era entregar diversão familiar ligeira – o filme tem pouco mais de uma hora e meia – sem qualquer tipo de amplitude, a intenção foi alcançada. Na linha de excessos, Borderlands acaba por não encontrar uma personalidade de destaque. Mesmo em sua gana por não afetar um público mais conservador com suas ideias, haveria uma apropriação de identidade a ser cumprida pelo projeto. O que vemos, no entanto, mesmo quando muito agudo em cenários e figurinos, soa desgastado de outras paragens. E aí, o que seu autor poderia inserir que trouxesse a sua assinatura, que seria a possibilidade de perigo iminente, uma tensão desenfreada que justificasse tamanha mobilização, não acontece. Tudo que se consegue ali é planificado, sem algo que lhe exerça relevo. 

A presença dos talentos artísticos não faz qualquer diferença, e nos perguntamos se Cate Blanchett tinha ideia de que faria algo tão discrepante, sendo ao mesmo tempo feérico e absolutamente esquecível. Sua imagem não se arranha, pelo contrário; tudo que de melhor tem em Borderlands está em acompanhar uma atriz tão excepcional entrando em um parquinho de beira de estrada para se divertir. O arco de sua personagem está em confluência da importância de seu tamanho, e segue Blanchett rumo ao seu clímax particular, que é o que de mais esteticamente interessante tem na produção. Ou seja, ainda que não cumpra o que poderia ter sido desenvolvido com facilidade pelo projeto, ter em mãos uma atriz com a luz e o magnetismo de Cate Blanchett faz sim a diferença, ainda que por pouco. 

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