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“Detalhes De Nós Dois” é um karaokê de recordações nos acordes do Rei

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Das muitas páginas escritas pelo semiólogo Roland Barthes (1915-1980) para tentar definir o benquerer, em “Fragmentos de um Discurso Amoroso”, brota uma linha capaz de sintetizar tudo – e de (nos) servir de parâmetro de análise para a mimosa peça “Detalhes de Nós Dois”: “desejo, teu nome é um perfume espalhado”. É desse espalhar, pelo espaço e pelo tempo, embalado nos hits de Roberto Carlos, que trata o texto escrito por Pedro Henrique Lopes leva suas plateias a cantar, a sorrir e a olhar para dentro de si. Parece até karaokê, vide o engajamento do público a cantarolar com os intérpretes em cena. Sob sua estrutura aparentemente simples – situações de humor + DRs + cantorias – reside um delicado exercício arqueológico no processo de se rememorar as fundações de uma paixão que deu errado – ou quase.

Detalhes De Nós Dois

A dimensão arqueológica do espetáculo se estende à história da cultura (pop) quando o casal protagonista, Laura (Helga Nemetik, infalível cena a cena) e Beto (o próprio Pedro Henrique), relembra a cultura das fitas K-7. Criada em 1963, a tecnologia sedimentou muita love story ao permitir que apaixonadas/es/os gravassem suas canções preferidas – diretamente das rádios ou de LPs – como forma de presentear o ser amado com um repertório de missivas melódicas. A peça flana por essa prática ao fazer um rewind (retroceder) no trajeto afetivo de Laura e Beto, calçado na direção musical de Tony Lucchesi. O que vemos no palco é uma volta ao passado, acompanhando tudo o que eles viveram, a fim de entendermos o que, no gerúndio da vida, os dois ainda poderão curtir a dois.

Trançando baladas rasga-coração como “Outra Vez” e “Falando Sério”, numa cadência de mel e de ironia, a direção azeitada de Diego Morais em “Detalhes De Nós Dois”, brinca com um jogo cromático de luzes ao narrar as idas e vindas – da memória – no papo entre seus protagonistas. Laura aceita rever Beto a fim de resgatar objetos perdidos de caixas que acumulam vivências compartilhadas pelos dois a partir de um encontro fortuito em seus tempos de estudantes. À época, a moça namorava Marcelo, um amigo de Beto que é citado ao longo de toda a dramaturgia, ora como nostalgia, ora como provocação. Isso porque os dois personagens centrais de “Detalhes…” se provocam sem parar, por vezes relembrando incongruências sentimentais pretéritas, por vezes encarnado em desempenhos coxos de alcova. Cada alfinetada entre eles é uma forma torta de dizer “Fica!”, “Dá mais uma chance”.

A dinâmica de cena emula a estrutura de espetáculos off-Broadway (dois atores em fricção, comentando temas cotidianos, numa linguagem mais casual), mas o que salta mesmo à mente é a lembrança da série de TV “Mad About You”. Helga lembra Helen Hunt e Paulo Henrique, Paul Reiser. Como no seriado, os dois passam em revista os ruídos da convivência – e também as suas delícias. 

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