- Publicidade -

O Figurante é uma comédia chapliniana sobre invisibilidade

Publicado em:

Solano empresta poesia a um homem acossado pela invisibilidade

Defensor da tese de que “a persistência é o caminho do êxito”, Charles Chaplin (1889-1977) dizia: “Você nunca achará o arco-íris se estiver olhando para baixo”. Fruto da mesma linhagem de tipos celebrizados pelo eterno Carlitos, Augusto, o personagem de Mateus Solano na hilária peça “O Figurante”, parece crer na tese do protagonista de filmes clássicos como “Tempos Modernos” e passa pelas mais dolorosas intempéries sempre a mirar o alto. Aliás, até seu café da manhã se faz de cabeça erguida, elaborando performances. O leite que bebe é mote para que ele improvise uma publicidade, com direito a jingle e frases vendedoras. A margarina que passa no pão inspira um comercial, que ele encena na cozinha de sua casa, para si mesmo. O problema dessas performances é o fato de elas serem sempre solitárias.

Em “O Figurante”, Augusto é seu próprio e único espectador. Plateia ele só encontra na emissora de TV onde faz figuração, cada dia uma diferente, mas sem ser notado. Augusto é um astro invisível.

A inteligente dramaturgia bolada a seis mãos por Isabel Teixeira, Miguel Thiré (que dirige com precisão o “O Figurante”) e o próprio Solano é, certamente, uma espécie de cartografia dos feitos de Augusto, com foco em sua esperança de, uma hora ou outra, ser vislumbrado como um talento, como um artista “danado”. Além disso, suas andanças de ônibus – expressas num trabalho corporal primoroso, somado a uma engenharia de som atenta a cada signo sonoro – são rituais performáticos nos quais eles troca com outros transeuntes suas impressões sobre o tempo, a solidão e sobre a falta de empenho. Acredita piamente que todos estão tristes por não trabalharem naquilo de que gostam, ao contrário dele, que ama o que faz e faz o que ama. Seu problema é o fato de a sociedade laboral – essa opressora – querer (como dizia Artaud) “suicidar” Augusto, apaga-lo. Seus devaneios, entretanto, protegem sua integridade.   

A partir da direção de movimento de Toni Rodrigues, sob o fino desenho de luz de Dani Sanches, Solano empresta poesia a um homem acossado pela invisibilidade, que tenta, a cada micropapel, em pontas seja como garçom ou como CEO de megacorporação, combater o anonimato de que é vítima, tentando fazer diferença. Além de gags físicas, o astro extrai humor da invenção de cada narrativa em que Augusto delira, fingindo ser estrela no teatro (vazio) de sua própria existência. É uma abordagem essencialmente chapliniana do mundo do trabalho, que nos leva a uma reflexão sobre a incapacidade nossa de olhar o próximo que está ao nosso lado e identificar nele uma história… de vida.

Saiba mais sobre a peça! 

Mais Notícias

Nossas Redes

2,459FansGostar
216SeguidoresSeguir
125InscritosInscrever
4.310 Seguidores
Seguir
- Publicidade -