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Abraço de Mãe, um thriller de horror psicológico nacional

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Não é fácil fazer cinema de gênero no Brasil, por isso é animador ver a Netflix lançar um novo filme de terror nacional em sua plataforma: Abraço de Mãe, thriller de horror psicológico que reúne elementos clássicos do gênero em plena Zona Norte carioca, em uma trama que explora também a popularidade dos filmes baseados em fatos reais e a competência da atriz Marjorie Estiano. Pena que o diretor argentino Cristian Ponce nem sempre articule da melhor forma todos essas qualidades positivas à sua disposição.

Abraço de Mãe

Aliás, o prólogo é um bom exemplo do que Abraço de Mãe poderia ter sido. Um parque de diversões com lixeiras de palhaço sinistras estrategicamente desfocadas na profundidade de campo, uma atração bizarra que explora a anatomia humana, uma mãe mentalmente perturbada que leva sua filha dopada de remédios ao encontro de um feto e uma trilha sonora sinistra emolduram perfeitamente a “história de origem” de Ana (Marjorie Estiano), uma heroína que jamais superou o acidente que vitimou sua mãe após um incêndio misterioso.

Ana vive em função de superar esse trauma, de modo que vira cabo do Corpo de Bombeiros. As memórias de infância invadem o seu cotidiano e eventualmente a paralisam em serviço, mas ela é determinada e insiste para voltar ao serviço. A Cabo Ana volta ao serviço bem no dia em que um temporal no verão de 1996 massacra o Rio de Janeiro — o que por princípio, ou pela lógica, deveria ser um contexto específico, explorado no longa-metragem de acordo com suas particularidades, e isso servir à história. Mas não. Abraço de Mãe poderia se passar 1970 ou 2020 sem prejuízo algum à história.

Esse desperdício é uma constante do longa-metragem. Cristian Ponce e seus corroteiristas, Gabriela Capello e André Pereira, mostram um bom conhecimento do gênero na medida em que enumeram uma série de elementos característicos do terror. O asilo que é uma verdadeira casa mal assombrada, seus internos em um estado mental precário e uma aparência medonha, as visões da protagonista e, uma vez que o filme avança, um monstro indiscernível, claramente inspirado na obra clássica de H.P. Lovecraft. Mas nada disso parece se articular de forma coesa. Não há um momento em que todos elementos se unam e deem corpo à narrativa. São recursos atirados aleatoriamente no texto e em cena, sem jamais provocar alcançar seu potencial dramático.Abraço de Mãe é um thriller de horror sem grande impacto, infelizmente, não dá susto nem medo.

O monstro lovecraftiano não diz muito a que veio, tanto em termos de ameaça como de modo a se conectar coerentemente com a história pregressa e os traumas de Ana — uma clara ambição do roteiro que é só esboçada e jamais ganha corpo no filme. É também decepcionante a densidade emocional ou psicológica que se anuncia lá no prólogo e não se desenvolve durante o longa-metragem. O que Cristian Ponce faz de melhor, explorando o bom trabalho das equipes de som, fotografia e design de produção do longa-metragem, é construir uma atmosfera de suspense e uma certa apreensão pelo que virá, bem aproveitando o ponto de vista traumatizado de sua protagonista, interpretada por uma ótima atriz. Pena que essa boa antecipação jamais se concretize em tensão ou terror por completo. Falta trabalho de roteiro para aprofundar esses elementos atirados na superfície e provocar os sentimentos mais primitivos no público.

O time chega no dia 23 no catálogo da Netflix.

Rodrigo Torres
Rodrigo Torreshttps://rodrigotorrex.wixsite.com/rt-port
Formado em Letras para servir bem à comunicação e ao jornalismo. Crítico membro da Abraccine e filiado à Fipresci.

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