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“Meus olhos”, nova peça do dramaturgo João Cícero, em Copacabana

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Quanto de romance cabe no cotidiano de um casal marginalizado marcado pela profunda incerteza do amanhã? Que natureza de amor subsiste quando a dureza da vida suplanta qualquer fantasia romântica? Escrito e dirigido por João Cícero, “Meus Olhos (ou De medo e cuidado)” fala das expectativas de um casal da periferia carioca, diante de uma mudança iminente em sua rotina, em meio à perda de visão de um dos protagonistas e a volta para casa de um filho violento. Com Carlos Marinho e Cilene Guedes, o espetáculo está em cartaz no Espaço Abu, em Copacabana, até 30 de novembro, em diferentes dias da semana e horários. Algumas sessões possuem audiodescrição, recurso explorado também dramaturgicamente.

“Meus Olhos” narra um dia na vida de um casal que vive junto há oito anos em São Gonçalo. Alcina (Cilene Guedes) é mãe de um presidiário que retornará à liberdade no dia seguinte. Ednaldo (Carlos Marinho), 20 anos mais jovem do que ela, era o melhor amigo do jovem violento que voltará para casa e não sabe da relação dos dois. Alcina cuida de um idoso e luta para pagar o aluguel e as contas, numa situação de trabalho abusiva. Ednaldo, criado pelos vizinhos, resiste às limitações impostas pela deficiência visual grave que se instalou na infância e piora dia a dia. Para eles, o erotismo e o amor instauram-se sob a necessidade de cuidar um do outro e a sombra do medo. Mas o quanto é possível suportar para viver uma relação de amor?

O texto é o resultado de uma pesquisa dramatúrgica etnográfica e da experiência de quatro anos de João Cícero como professor de artes numa escola próxima à comunidade do Morro do Castro, em São Gonçalo, onde mora o casal da peça. As observações da pesquisa trouxeram para a trama um retrato da vida hoje nesse território. Estão na peça os choques do conservadorismo ideológico, as vivências religiosas de matriz africana e cristã, a proximidade da violência e do encarceramento e seu efeito devastador na vida familiar, o esforço desmedido das mulheres trabalhadoras, mães solteiras e viúvas para o sustento de seus lares, os relacionamentos amorosos com grande diferença de idade e a recusa (não de todo opcional) de lidar com a deficiência como um limitador da existência e do trabalho. Para o tema da cegueira João Cícero contou com a consultoria de Ana Maura, cantora lírica deficiente visual, que já teve baixa visão e hoje não enxerga mais. Algumas das sessões da peça são abertas com recital da artista, conforme a programação.

“Meus Olhos (ou de medo e cuidado)” compõe uma trilogia de amor não romântico com as peças “Meu coração (ou De carinho e de sexo)”, encenada no Rio de Janeiro, em 2022; e “Lábios Meus”, prevista para entrar em cartaz em 2025. “Busco histórias de amor vividas na periferia, em ambientes de violência e precariedade, relações normalmente desprezadas nos palcos de teatro. Falo de amor sob o ponto de vista de pessoas subalternizadas que lutam para sobreviver em espaços negligenciados por ações políticas, culturais e sociais”, explica João Cícero. 

SERVIÇO:
“Meus Olhos (ou De medo e cuidado)”
Datas/Hora:  Datas: 31 de outubro, 7, 14, 15, 16, 17, 21, 22, 23, 24, 28, 29 e 30 de novembro e 1º de dezembro 
Horário: Quinta a sábado, às 21h. Domingo, às 20h
Abertura com recital de Ana Maura e audiodescrição nos dias 31 de outubro, 7, 14, 21 e 28 de novembro
Local: Espaço Abu (Endereço: Av. NS de Copacabana, 249 – Loja E – Copacabana)
Ingressos: https://www.sympla.com.br
Classificação etária: 16 anos

Rota Cult
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Redação do site E-mail: contato@rotacult.com.br

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