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O Aprendiz: Sebastian Stan personifica Donald Trump

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Eu tenho grande resistência a atuações baseadas em mimetizar figuras históricas, justamente, por isso, apesar de todos os elogios que Sebastian Stan já tinha recebido, a primeira grande qualidade de O Aprendiz (The Apprentice, 2024) é mesmo a absurda personificação do protagonista em Donald Trump. Porque não é só isso, não é um simples imitar de trejeitos, é uma atuação completa! Uma construção progressiva de personagem: no início, o ator romeno-americano parece imaginar bem a versão jovem do político que todos conhecemos já idoso; até que, no final, ele surge assustadoramente igual ao 45° Presidente dos Estados Unidos, numa representação filmica da longa formação da personalidade de Donald Trump.

Por esse motivo, o cineasta Ali Abbasi constrói um longa-metragem em duas partes. Na primeira, Donald Trump é um jovem deslocado adotado como aprendiz por Roy Cohn — vivido de maneira hipnótica por Jeremy Strong (“Succession”, 2018—2023). Aos poucos, Trump vai ganhando forma e adotando para si a personalidade do mentor, até se tornar, finalmente, protagonista da própria história. Aliás, é interessante perceber como o diretor iraniano transporta esse papel de coadjuvante que Trump teve na vida real, vivendo à sombra de Roy Cohn, para a estrutura do longa-metragem.

Além disso, também é interessante a forma estilizada com que Ali Abbasi adapta o roteiro de Gabriel Sherman, construindo a Nova York dos anos 70 e 80. O granulado característico das gravações em filme daquela época é adornado pelo brilho cafona e pela estética extravagante dos figurões da Quinta Avenida naquela Manhattan destruída e decadente. A “Cidade Que Nunca Dorme” é uma personagem fundamental de O Aprendiz.

Se Donald Trump prosperou tanto, e de modo tão suspeito (repare como o texto de Sherman faz questão de não explicar como ele ficou tão rico antes mesmo da Trump Tower ficar pronta), ele deve tudo aos ensinamentos terríveis de Roy Cohn e à falência econômica, ética e moral de Nova York durante seus anos de formação, aos 30 e poucos anos. Por isso, a capital financeira do mundo é reimaginada por Ali Abbasi em seu período mais difícil, no final dos anos 1970, como uma espécie de Gotham City da vida real. Se você vir exageros ali, saiba: essa representação é coerente historicamente.

Desse modo, O Aprendiz se comporta como um filme de origem não somente do ex-presidente estadunidense, mas também como o embrião do movimento político que ele levará às urnas na próxima eleição dos Estados Unidos, no mês que vem. Pois as bases filosóficas que Donald Trump e Roger Stone adotaram para si, e sintetizam a virulência e negação da realidade dessa extrema-direita atual, estão todas reunidas neste longa-metragem, como a obra terrível de um terceiro criador, o mentor de ambos: Roy Cohn.

Rodrigo Torres
Rodrigo Torreshttps://rodrigotorrex.wixsite.com/rt-port
Formado em Letras para servir bem à comunicação e ao jornalismo. Crítico membro da Abraccine e filiado à Fipresci.

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