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Super/Man: A História de Christopher Reeve

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Durante Super/Man: A História de Christopher Reeve, algumas vezes elaboramos mentalmente questões que serão verbalizadas pela narração em off da produção em seu encaminhamento para o desfecho. Afinal, o que é ser um herói? Ainda que o filme cometa o pecado de tentar responder (ou de responder, factualmente) tais reflexões, é difícil não embarcar em suas respostas como as únicas possíveis. Não é exatamente necessário conhecer a história por trás do homem que viveu Clark Kent originalmente e seu alter-ego nos cinemas. Ou melhor, não existe quem não conheça sua história, mas parece que ele encarnou tão intensamente tais palavras, até que não houve outra alternativa, a não ser tornar-se a definição de cada uma delas. 

Não é apenas através das imagens que Christopher Reeve remeterá eternamente ao filho de Krypton – e, de verdade, tenho pena de quaisquer que sejam os futuros donos do manto vermelho; Reeve é, cada vez mais, o rosto absoluto do Homem de Aço. Através de uma humildade a toda prova e de uma entrega absoluta em estar no lugar onde esteve e ser a pessoa que foi preciso ser, o ator de teatro se tornou maior que a profissão que escolheu, para tornar-se muitos símbolos em profusão. Super/Man nos lembra de cada detalhe que o levou a chegar onde chegou, saindo de um anonimato que jovens atores clássicos já estiveram, para representar o rosto mais representativo de Hollywood durante uma geração. 

Super/Man, contudo, não é apenas um desfiar de valores moralmente respeitáveis pelos quais deveríamos encarar como meta enquanto indivíduos. Por trás deste conto da vida real a respeito de um ator que recusou ser engolido pelo personagem que lhe deu fama, existe um documentário ansioso por ser maior que seu formato. Não apenas no que representa, mas em como tal moldura é conseguida, o filme tem consciência da conexão popular que representa. A ameaça do lugar quadrado que um documentário almeja existe; a estrutura de ‘cabeças falantes’ não é uma prisão para o filme. Isso acontece porque a montagem inspirada da produção eleva o que vemos, e utiliza-se da observação entre dois tempos separados por 20 anos é capaz de montar para o cinéfilo. 

O filme se situa, em grande parte do tempo, entre a descoberta de Reeve durante os testes de Superman: O Filme, sua vida exatamente anterior a isso e o momento igualmente exato onde ele deixa de ser um promissor ator dos palcos para tornar-se o rosto mais famoso do Cinema, e o acidente trágico que o deixou tetraplégico. Otto Burnham é o responsável pela montagem do filme dirigido por Ian Bonhôte e Peter Ettedgui, e transforma a experiência que acompanhamos através de uma conexão muito aguçada a respeito do tempo. São dois momentos distintos, mas essa edição os torna parte de um mesmo pensamento narrativo – o homem prestes a dar um salto inimaginável para tornar-se uma lenda, e um salto acidental que ressignifica nosso olhar. 

O lugar tradicional onde o filme é inserido, das entrevistas emocionadas de cada um dos três filhos, o depoimento de amigos do naipe de Glenn Close, Jeff Daniels, Susan Sarandon e Whoopi Goldberg, e os bastidores de um clássico precursor, transformam Super/Man em algo tão emocionante quanto funcional. Se essa proximidade com o material não deixa de ser sensorial sempre, a análise técnica mostra que o material em mãos se situa no fio da navalha. Se o saldo acaba por ser positivo, é porque o equilíbrio emocional da produção acaba permitindo que a conexão seja universal. Enquanto os acertos de ritmo e a presença dessa emoção desbragada apontam para um lado, do outro lado encontra-se a fórmula empregada no filme, que aqui é vestida com suavidade. 

Graças ao vasto material que o filme amealha a respeito de um dos maiores heróis do nosso Cinema, Super/Man: A História de Christopher Reeve se parece muitas vezes com os extras de um DVD, sendo a montagem o principal ponto de atração do filme. No fim da observação, estamos diante de um projeto reverente a esse astro de primeira grandeza que infelizmente ficou marcado por um único tipo, mas cuja imortalidade foi definida pela forma como se relaciona com os outros. É a base do que é ser um herói que é esmiuçada aqui, e cujo resultado é daqueles onde a sala de cinema inteira está viva, unidos pelos sonoros soluços que ecoam, graças à descoberta de um homem maior do que se imaginava, há 45 anos. 

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