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Avenida Beira-Mar faz reflexões a respeito da sexualidade e da adolescência

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Enquanto filmes que acreditam no poder de imersão do espectador, como Avenida Beira-Mar, continuarem a serem produzidos, seguirei como porta-voz da isenção de uma relação mais próxima com sinopses e trailers, inclusive abdicando dos mesmos para uma experiência completa. Escrito e dirigido por Bernardo Florim e Maju de Paiva, o filme nos captura de maneira muito rápida para dentro do seu universo, que se desenvolve de maneira imersiva, a ponto de nos desconectarmos do que é assistido. É o que nasce nas entrelinhas do que é mostrado e do que é sugerido, de como as protagonistas se arvoram por sua temática, que temos esse filme tão curioso chegando em momento oportuno para o nosso cinema. 

Avenida Beira-Mar

A princípio cercado de sutilezas e descobertas coletivas distribuídas entre público e personagens, o filme proporciona uma série de reflexões a respeito da sexualidade e da adolescência, ao passo que também apresenta um grupo de contradições dentro do que tenta dizer ou mostrar. Estamos no mesmo ponto de Rebeca, uma jovem de 13 anos que acaba de se mudar com a mãe. O muito óbvio (e também muito eficaz) espaço de observação para a descoberta das coisas novas e belas é o campo de onde Avenida Beira-Mar ousa começar seu ciclo. Ainda que possa vir a ser acusado de ingenuidade por um lado, didatismo por outro, e também um terceiro onde as mesmas vivências sejam realçadas hoje, o filme é bem sucedido nas opções que propõe para si.

Enquanto Rebeca encara com naturalidade a descoberta que fará, Mika é a agente das próprias escolhas, ainda que menor de idade. Os códigos vão sendo entregues: é a cor do par de patins, é a primeira ação que as futuras amigas se envolvem, nada é explícito e isso não é somente bom para o espectador, mas principalmente para a dramaturgia igualmente. Com isso, Avenida Beira-Mar apresenta um jogo de reconhecimento coletivo entre suas testemunhas, as de dentro da tela e as de fora. Rebeca e Mika reconhecendo suas similaridades, caminham juntas ao espectador, porque a adolescência caminha na zona das descobertas, que o filme absorve para si. 

Existe um jogo de sombras dentro de Avenida Beira-Mar evidenciado pela própria narrativa, com inúmeras sequências noturnas que se desenrolam sempre a deixar suas personagens em um quadro de mistério. Conforme o filme avança, temos a impressão de que tais sombras tenham vindo para tragar Mika, mas o objeto mais clichê dessa construção é reformulado quando percebemos que sua protagonista só se liberta à noite. A dupla de autores encaminha tais já citadas sutilezas até a página cinco, através das descobertas finas e do entendimento tácito entre as protagonistas, cuja comunicação não precisa ser verbalizada, certamente, está tudo no olhar, de uma para a outra. 

Apesar do talento descomunal, é jogado no colo de Isabel Teixeira a função de destrinchar os momentos mais arriscados da obra, quando a carga mais pesada de didatismo vem à tona. Tanto na cena do jantar quanto na da procura pela filha, Teixeira é a protagonista dos dois momentos, quando o filme não deixa qualquer mínima dúvida. É nesse momento que Avenida Beira-Mar não consegue segurar o equilíbrio entre o naturalismo procurado e a necessidade de comunicação, e o que é alcançado ao final. O didatismo não só tira a capacidade de entendimento do público, como o faz de maneira exagerada, retirando das cenas qualquer papel de mentor da obra que o espectador poderia alcançar sozinho. 

A delicada e naturalíssima interação entre as protagonistas Milena Pinheiro e Milena Gerassi promovem uma estatura à Avenida Beira-Mar. A já citada Teixeira e Andréa Beltrão têm momentos para mostrar um trabalho de compreensão de suas personagens, além do saudoso Emiliano Queiroz em uma entrega comovente. Mas é do futuro da dramaturgia que observa as novas gerações temáticas e seus encontros, e isso Pinheiro e Gerassi exalam com as provocações que suas personagens bancam. Não é simples falar de transexualidade na vida comum, dentro de um cenário banal, e graças ao envolvimento de suas protagonistas e acesso às suas sensibilidades, temos um filme que não tem interesse em panfleto. 

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