Coletânea com Clarice Lispector entrevistando ganha nova edição

Não é segredo que Clarice Lispector detestava dar entrevistas, mas adorava entrevistar. O papel de entrevistadora lhe dava mais prazer do que o de cronista, uma vez que, num diálogo pontuado por perguntas e respostas, ela tinha oportunidade não apenas de falar – mas também de ouvir. Além dos seus notáveis romances e contos, a autora publicou muitas entrevistas que fez ao longo de toda a carreira, entre as décadas de 1940 e 1970. E, assim como ocorria em sua literatura, ela desenvolveu uma maneira singular de conduzir suas conversas com celebridades e grandes representantes da cultura, da política e do empresariado da época.

“Clarice Lispector Entrevista” chega às livrarias, pela Rocco, em uma novíssima edição, com capa dura e 35 novas entrevistas, entre as oitenta e três que compõem este volume. Elas foram produzidas paras as revistas Manchete (1968-69) e Fatos & Fotos: Gente (1976-77), e o livro De corpo inteiro (1975), que reuniu entrevistas previamente publicadas na Manchete e no Jornal do Brasil. A presente edição ainda traz um texto de apresentação inédito assinado pela professora britânica Claire Williams, chefe do Departamento de Literatura e Cultura Brasileira do St Peter’s College, Universidade de Oxford, e especialista na obra clariceana.

Entre as novidades, estão bate-papos da escritora com o ensaísta Austregésilo de Athayde, o paisagista Burle Marx, a cantora Maysa e Elke Maravilha, formando, em sua diversidade, um painel representativo do pensamento de grandes personalidades brasileiras da época. O livro também traz informações preciosas sobre seu método de trabalho. É sabido que Clarice preferia fazer anotações à mão a usar gravador nessas entrevistas, que aconteciam geralmente no seu apartamento, na casa ou no escritório do entrevistado, ou ainda no restaurante Antonio’s, no Leblon. Com o seu olhar arguto, capaz de capturar nuances que escapam do lugar-comum, Clarice revelou aspectos pouco conhecidos dos seus entrevistados, mas também deixou escapar valiosas informações pessoais e sobre seu processo criativo.