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Diretor de ‘O Conde de Monte-Cristo’ fala da esgrima com a literatura

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Com 9,2 milhões de ingressos vendidos em terras francesas de junho até hoje e cerca de US$ 76 milhões de arrecadação em salas de projeção europeias, “O Conde de Monte-Cristo” já se impõe como o maior sucesso de bilheteria da pátria presidida por Emmanuel Macron desde a pandemia, configurando-se como um fenômeno de faturamento do Velho Mundo nas telas. A receita dessa superprodução de duas horas e 58 minutos dirigida por Matthieu Delaporte e por Alexandre De La Patellière há de se ampliar com sua chegada às Américas.

No Brasil, o Festival Varilux é a primeira parada desta adaptação do romance homônimo publicado em capítulos, entre 1844 e 1846, por Alexandre Dumas (1802-1870). Delaporte – um prolífico roteirista também respeitado como realizador pelo sucesso “Qual É O Nome do Bebê”, de 2012 – está em solo carioca para acompanhar a maratona francófona. Esta noite, o diretor participa de uma sessão de gala do longa-metragem – promovida com o apoio do Telecine – no Cinesystem Botafogo, às 18h30. 

Aliás, neste fim de semana inicial de Varilux, é possível ver “Le Comte de Monte-Cristo” (título original da fita) nesta sexta, às 19h05, no Estação NET Gávea, e no sábado, no Estação NET Rio (às 14h) e no Kinoplex Fashion Mall (19h55). O enredo, extraído da escrita fina de Dumas, é centrado na cruzada vingadora de Edmond Dantès, papel confiado ao ator Pierre Niney. Vítima de uma conspiração quando ainda é muito moço, Dantès acaba sendo preso no dia de seu casamento, sob a acusação de um crime que não cometeu. Após 14 anos de detenção no castelo de If, ele consegue escapar e, com a ajuda de um homem misteriosos, ele se torna riquíssimo. Com o dinheiro que conquista, forja para si uma nova identidade: o Conde de Monte-Cristo. Sob essa alcunha, ele vai se vingar dos homens que o atraiçoaram.

Num papo ao sol do Arpoador, no Hotel Faimont, Delaporte conta ao jornalista Rodrigo Fonseca como foi sua imersão nos parágrafos de um dínamo da literatura da Europa.   

Desde a recente adaptação de “Os Três Mosqueteiros”, em 2023, a literatura de Alexandre Dumas tem servido de combustível para um cinema de forte comunicação popular. O que há de contemporâneo na prosa dele? 
Matthieu Delaporte: 
Dumas foi um grande conhecedor da História da França e, certamente, imprimiu um olhar muito particular sobre o tempo em cada um de seus livros, retratando o fim de uma época e a gênese de uma outra, à luz das guerras napoleônicas. “O Conde de Monte-Cristo”, que é lançado em meados do século XIX, tem o intuito de retratar o avanço da Revolução Industrial numa fase histórica de mudança do regime democrático, onde riqueza deixa de ser um sinônimo de aristocracia. Ele é um autor de um engajamento político muito particular. A Paris de que fala é diferente da metrópole multicultural que existe hoje, mas ele já vasculha elementos que estão ainda na base da cidade.   

Qual é a maior dificuldade de transportar o espírito literário dele – para além da trama – das páginas às telas?
Matthieu Delaporte: 
Cada escritor cria sua própria linguagem e, nela, uma musicalidade, uma rítmica peculiar nas palavras. O desafio numa transposição é encontrar essa música, esse tom. Não é questão de cópia ou de mimese, mas de diálogo. Sobre o espírito do tempo de Dumas, o que vai ao filme é a questão da “máscara”. É como eu chamo a construção de identidade que Dantès faz para poder realizar a sua vingança. Em sua essência, a trama acompanha a encenação de um espetáculo de vingança, na qual Dantès encena uma situação a fim de se vingar. O dinheiro faz dele um homem de poder, mas ele não gasta sua fortuna consigo para a fruição e, sim, para a revanche que arquiteta. Ele é o diretor desse espetáculo revanchista.  

Olhando assim, a lembrança de “Hamlet”, de Shakespeare, salta aos olhos, uma vez que esse também é o dispositivo empregado pelo Príncipe da Dinamarca contra o assassino de seu pai – a ponto de encenar uma peça sobre o mesmo crime, num gesto de metalinguagem. Existe essa proximidade?
Matthieu Delaporte: 
Shakespeare foi uma grande referência para Dumas. A questão em “O Conde de Monte-Cristo” é que a forma como Dantès emprega sua fortuna permite que ele possa ser visto como uma figura contemporânea.

O cinema francês é historicamente encarado como um terreno de narrativas palavrosas. É uma filmografia na qual se fala muito. O que a palavra representa para a sua obra?
Matthieu Delaporte: 
Se Shakespeare foi um pilar para a língua inglesa, Molière foi, no teatro, o cerne da língua francesa e ele influenciou muito Dumas. A partir da palavra, ele, surpreendentemente, encontra o caminho para expressar a Modernidade. O que eu tento, num diálogo com a prosa do século XIX, é buscar nessas palavras sentimentos que estejam conosco hoje.

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