Marina Lima faz show repleto de emoção e afetividade no Circo Voador

Com um Circo Voador inteiro gritando “Marina eu te amo”, a rainha da MPBPop subiu ao palco da lona carioca que lhe rendeu shows memoráveis desde os anos 1980, mas dessa vez foi diferente. Foi a primeira apresentação após a morte do irmão e autor da maioria de seus hits, Antonio Cicero. Logo na abertura, um texto com narração da própria cantora esclarecia a mudança de curso do show, que seria uma comemoração dos 69 anos de vida da cantora (daí o nome “Rota 69”) e 45 de carreira, e agora, passou a ser também um tributo a Cicero, que teve sua imagem estampada em diversos momentos entre as imagens e vídeos de arquivos em um telão ao fundo do palco. Após a primeira música, “Charme do Mundo”, Marina Lima declarou: “Eu quero celebrar a minha obra com ele. Meu irmão não queria pouco. Queria muito. Vamos com Cícero presente em tudo”. 

Aliás, Marina quis aquecer um pouco mais o público antes de detonar o primeiro hit da noite, a quarta música do show, o cover de Lobão “Me Chama”, logo após “Acho Que Dá” e “Lado Quente do Ser”.

No passado, época em que enfileirava hits nas rádios, Marina não era explosiva no palco. Isso foi mudando nos últimos 20 anos, quando foi se tornando mais expansiva, mas sem perder o ar classudo e reservado. A limitação vocal que a acometeu ainda em meados dos anos 90 consegue ser driblada em boa parte das músicas, usando artifícios como mais declamar do que cantar alguns trechos, mas a plateia sempre dá uma força cantando as notas mais altas como em “Virgem” e “Acontecimentos” (nessa a primeira estrofe é inteira com som do sistema). Uma técnica que ela desenvolveu para continuar se apresentando de forma satisfatória se mostra bastante eficaz escolhendo momentos estratégicos para ainda soar muito semelhante à forma como as canções ficaram eternizadas.

A banda competentíssima que a acompanha é formada por veteranos e jovens. Do lado dos mais velhos, estão o guitarrista, colaborador de longa data Gustavo Corsi, assim como o violonista Giovanni Bizotto, que inclusive foi professor de Marina, enquanto a baixista e tecladista Carolina Mathias (da dupla Troá) e a dançarina Carol Rangel – que fazia performances em momentos pontuais, representam a nova geração. Há um VS, porém não tira a organicidade. E a própria Marina ataca de guitar hero em “Difícil”. 

O show contou também com a presença de Adriana Calcanhotto, que subiu ao palco no melhor estilo” rolê aleatório”, puxando várias fãs da plateia para um bailão em “Lunch” (releitura esperta da faixa e Billie Eilish) e “Mesmo Que Seja Eu”. E dando ainda mais sentido emocional ao evento, era o aniversário do viúvo de Antônio Cícero, Marcelo Pies, que estava na plateia e ganhou um “Parabéns Pra Você” do público. 

O show apresenta um repertório que não deixa praticamente nenhum dos grandes sucessos de fora – curiosamente, “Criança”, música que não exigiria muito esforço vocal, não entrou no setlist. Outros destaques da noite são “Preciso Dizer Que Te Amo”, de Bebel Gilberto e Cazuza, “Pra Começar”, que mantém a tradição da pegada hard rock ao vivo, a infalível “À Francesa” e por fim, “Fullgás”, precedida de um trecho de “Billie Jean”, de Michael Jackson, no sistema de som. Todas com ótima adesão do público. Marina e banda se despedem e no telão sobem os créditos de toda a equipe, dando a entender que realmente era o fim do show. Mas claro que haveria um bis, que foi até generoso, com quatro músicas: uma versão acústica de “Eu Te Amo Você”, “Nada Por Mim”, “Nem Luxo Nem Lixo”, de Rita Lee, e o encerramento com “Uma Noite e Meia”, o certeiro blockbuster que se tornou uma espécie de hino oficial do verão carioca. 

Foi um show emocionante tanto para a cantora quanto para o público. “É o primeiro show depois da partida do Cícero. Vontade de chorar, vontade de ficar alegre, coisa muito misturada”, disse perto do fim. E somado a isso há a energia do Circo Voador, como ela definiu “o Circo é o Circo, né?”. Essa carga afetiva fortaleceu a comunhão do palco com a plateia.

Setlist:
1. Charme do Mundo
2. Acho Que Dá
3. Lado Quente do Ser
4. Me Chama
5. Lunch
6. Mesmo Que Seja Eu
7. Difícil
8. Na Minha Mão
9. Virgem
10. Preciso Dizer Que Te Amo
11. Acontecimentos
12. Pessoa
13. Keep Walking
14. Bloco do Prazer-Pierrot
15. Árvores Alheias
16. Pra Começar
17. À Francesa
18. Eu Não Sei Dançar
19. Billie Jean/Fullgás
Bis:
20. Eu Te Amo Você
21. Nada Por Mim
22. Nem Luxo Nem Lixo
23. Uma Noite e Meia