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A Redenção: A História Real de Bonhoeffer faz releitura tensa de um herói da fé

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Fervido no calor de uma trilha sonora composta por Antonio Pinto e Gabriel Ferreira, A Redenção: A História Real de Bonhoeffer passou a ser usado como peça retórica da ala cristã mais alinhada com a ultradireita, numa associação política dos fatos históricos nele retratados com estratégias de evangelização. Esse uso publicitário, numa dimensão exterior ao filme em si, deve ser filtrada na análise de seus dispositivos discursivos no âmbito do thriller e da biopic. A reconstituição em tom espetaculoso dos feitos do pregador e teólogo luterano Dietrich Bonhoeffer (1906-1945), interpretado numa curva existencialista por Jonas Dassler, inflama a tela com seu olhar sobre formas intelectuais (e religiosas) de luta ao avanço do nazismo na Europa dos anos 1930 e 40.

Uma fala acerca do risco corrido pelas vozes de oposição a Hitler – “Melhor um alvo (no peito) do que uma suástica” – traduz o espírito de resistência de seu personagem central e da dramaturgia estabelecida pelo roteiro, escrito pelo próprio realizador do longa-metragem, Todd Komarnicki. Porém, irregularidades na condução da cartilha do suspense embotam sua excelência.    

A Redenção

Um dos autores do script de Sully: O Herói do Rio Hudson (2016) e diretor de Resistência (também conhecido como “Amor e Guerra”), de 2003, Komarnicki é um dramaturgo nascido na Filadélfia que rodou A Redenção: A História Real de Bonhoeffer em diferentes locações da Europa, a começar pela Irlanda. A Bélgica foi outro foco das filmagens, realizadas ao longo de 2023, de janeiro a março.

John Mathieson assina direção de fotografia, corriqueira demais para o timbre épico esboçado numa espinha dorsal antibélica. Seu colorido carece de temperaturas mais cálidas.  

A partir de situações reais (revisitadas com licenças poéticas alvejadas de controvérsias), A Redenção acompanha o processo de formação protestante de Dietrich desde a sua juventude. Sua interpretação passional da Bíblia, capaz (paradoxalmente) de preservar uma linha filosófica crítica, fez dele um líder humanista da cristandade germânica. Na primeira metade da trama delineada por Komarnicki, desenha-se sua indignação diante do desabrochar da intolerância nazista, sobretudo no repúdio que sente pelo ódio hitlerista aos judeus. Esse hemisfério inaugural é centrado na palavra, em embates reflexivos que, na montagem, ganham contagiante agilidade. 

O filme segue ágil no segundo hemisfério, quando Bonhoeffer (sempre bem defendido pela atuação de Dassler) parte para a batalha mais pragmática, aproximando-se da conspiração para assassinar Hitler. Esse episódio, retratado antes em títulos como “Operação Valquíria” (2008), é estruturado por Komarnicki sem o mesmo viço, sem alcançar o aprofundamento necessário na tela. O que sobre é o calvário de um herói que fez da fé sua arma.

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