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A Última Sessão: Pan Nalin apresenta um melodrama social

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A Última Sessão, Novo filme de Pan Nalin traz um recorte tão comum no Cinema. O filme, que estreia duas semanas depois de A Contadora de Filmes, tem a mesma base de sustentação, porém, o resultado entre os filmes não poderia ser mais diferente. O que acaba realçando as características do que vemos aqui, é a certeza de que uma autoria faz toda a diferença, para qualquer resultado. Dessa forma, o que tematicamente representa algo já desgastado de fórmula, é ressignificado não apenas pelas imagens, mas principalmente pelas escolhas que são feitas.

Estamos diante de uma narrativa que em toda parte do mundo já foi desenvolvida, e que é também uma porta de entrada para outro viés. O mundo visto pelos olhos de uma criança, onde seu futuro é oficialmente dependente dos eventos do seu presente. Isso ainda se une a um olhar muito mais particularizado, que é onde filmes como Quem Quer Ser um Milionário? adentram, no que conhecemos acerca da Índia, ao menos pelo cinema exportado. Mais uma vez, sujeitos socialmente desprovidos de oportunidades verdadeiras sonham com uma realidade que parece não lhes caber. Ao redor do pequeno protagonista, todas as decisões já foram tomadas pelos seus pares; ele é o único que encontrou uma saída, ainda que nas imagens.

Nalin percorre um caminho conhecido para mostrar os horrores da ausência de inocência, e de como o cinema tem o poder de libertar quem acredita nele. Mas chama a atenção a maneira como andar por esse percurso que tantos já fizeram. Suas escolhas contemplam um filme que poderia cair no lugar comum, termina por encantar ao escolher um tom menos óbvio, do ponto de vista da construção dos planos, principalmente pela forma como se aproxima do campo de observação. Testemunhamos o olhar de Samay na direção de um sonho que ele nem consegue dimensionar ainda, absorto pela magia do projetor. A Última Sessão promete a seu protagonista a incursão por um desvio imagético que potencialize a poesia pensada para a estrutura.

Não é apenas o cinema que ocupa o cerne narrativo do filme, no entanto. Como se poderia imaginar, A Última Missão elabora um espaço de comentário social, no encontro com a família de Samay e nas condições com que esse núcleo familiar é desenhado. Mais do que seus personagens, o filme nos aproxima de um painel local que situa essa análise com as devidas camadas, refletindo as dificuldades do objeto filmado, mas também em como o afeto pode ser identificado de diferentes formas. O cinema seria uma delas, mas o recorrente uso da alimentação para demarcar tais signos do bem querer é difundido durante todo o filme. Seja na arte traduzida em desvelo de sua mãe, seja na relação que ele estabelece com o projecionista do cinema, ou ainda na loja de chá de seu pai, à beira da estação ferroviária e que sofre ameaças. 

O que Nalin elabora na textura de seus quadros é ampliar os significados do plano, quase como se fora uma espécie de discípulo de Apichatpong Weerasethakul, na maneira como desenvolve a luz, e em como o naturalismo pode encontrar a síntese do fantástico. Ao mesmo tempo em que povoa seu roteiro de comunicação direta com o espectador para que todas as construções sejam carregadas de verdade, o diretor escolhe dados sensoriais para o que filma. Aliás, todas as imagens têm traços de significado, mesmo que estejamos diante de uma natureza abstrata, sejam os homens ou os animais. Certamente, é uma proposta que se mostra das mais acertadas, porque um aspecto não anula o outro, e engloba muitas possibilidades de maravilhas. 

O que deveria então ser mais uma história que já vimos, é regado com as melhores e mais ambiciosas intenções. Pan Nalin consegue o que mesmo cineastas mais paramentados não atingem, com um ponto de partida tão relacionado previamente. Quando A Última Sessão investe então nas imagens tradicionais do melodrama, o espectador já mergulhou de cabeça em cada disposição de seus personagens. A cena final em particular (mas também igualmente a cena da pintura da fachada, e de como cada situação do filme parece apontar grandes tragédias, quando o filme reconfigura as expectativas) é um convite do diretor à emoção mais rasgada. O mais impressionante é o quanto quase tudo que é proposto por ser autor, é visivelmente acessado por quem o assiste de inúmeras maneiras, tanto concretas quanto subjetivas, colocando essa produção em um patamar que não poderíamos esperar. 

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