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Casa Roberto Marinho recebe exposição inédita de Ascânio MMM

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A Casa Roberto Marinho celebra a produção de Ascânio MMM em “Geometria inquieta“, exposição inédita, sob a curadoria de Lauro Cavalcanti. Com cerca de 100 trabalhos que percorrem a trajetória artística de seis décadas de um dos mais importantes escultores da arte brasileira, a mostra inclui uma seleção pessoal de Ascânio, que apresenta obras de seu acervo particular em diálogo com peças da Coleção Roberto Marinho, estabelecendo relações plásticas entre os artistas contemporâneos que marcaram seu percurso.

Ascânio MMM

“Ascânio MMM é um artista cuja obra reúne várias influências e questões centrais na arte brasileira e latino-americana dos últimos 60 anos, e esta exposição mapeia o percurso trilhado por ele. Sua produção mantém uma enorme coerência interna em domínios como o construtivismo, arquitetura, verdade dos materiais, dialética entre projeto e execução, tridimensionalidade e composição planar. A vontade da forma, inabalável a modismos, impulsionou o artista com suas peças precisas e surpreendentes, na retomada de um ideal construtivo. Nesta rota, o uso contínuo da geometria não lhe aboliu o acaso nem a poesia”, analisa Cavalcanti, diretor-executivo da Casa Roberto Marinho.

Nascido em Fão, Portugal, Ascânio Ascânio MMM imigrou para o Rio de Janeiro aos 17 anos, já com o desejo de estudar arquitetura. Mas foi na escultura que encontrou a linguagem para se comunicar com o mundo: “A escultura, para mim, é uma paixão, um modo de fazer poesia através do objeto. Seria impossível não fazer algo que grita dentro de mim”, declara o artista, que se diz um carioca nascido em Portugal.

Aos 83 anos, ele mantém a energia que o leva diariamente ao ateliê, dando continuidade a uma produção vigorosa que teve início nos anos 1960. A exposição permite um olhar retrospectivo sobre as seis décadas de percurso artístico de Ascânio, orientando-se pela evolução dos materiais e técnicas utilizados. Ele, no entanto, rejeita o termo “retrospectiva”: “Para mim, esse conceito se aplica quando o artista já encerrou a sua obra”.

No percurso de Ascânio, o raciocínio arquitetônico sempre esteve presente e Geometria Inquieta revela a pulsão construtiva desde as raízes em Portugal. Imagens que remetem a essas origens incluem a casa de férias em Ofir, projetada pelo arquiteto português Fernando Távora (1923–2005). Através do contato com essa construção modernista, o escultor percebeu que a arquitetura era o caminho para liberdade, porque através dela podia dominar o espaço e interagir com a luz e a sombra.

O uso da madeira como matéria-prima remete à tradição da construção naval no estaleiro de sua família, em Fão. A intimidade com as ferramentas de marcenaria abriu caminho para que fosse esse o meio de colocar no mundo os objetos que desejava. “No quintal de casa, eu aproveitava os pequenos pedaços de madeira que encontrava nas marcenarias. Com eles comecei a fazer minhas primeiras peças”, relembra o artista.

No primeiro grande salão da Casa Roberto Marinho, a escultura Fitangular Longo (1984) revela a imponência do material em sua forma natural, evidenciando uma técnica de colagem de ripas que cria uma gradação de tons e dá corpo à peça. Com mais de seis metros de comprimento, a escultura domina o espaço, interrompendo o diálogo visual entre o interior e o jardim através das amplas janelas de vidro. 

Na sala seguinte, a exposição retorna ao início da carreira, apresentando desenhos volumétricos, esculturas de parede da série Composição e algumas esculturas já pintadas de branco, antecipando a identidade estética que consolidaria o trabalho de Ascânio. 

Neste espaço também está a obra mais antiga da mostra, Escultura ENBA (1964), produzida em gesso, arame e sisal. O título, que faz referência à Escola Nacional de Belas Artes, remete ao contexto em que a peça foi criada, quando Ascânio cursou dois anos, entre 1963 e 1964, antes de ingressar na faculdade de Arquitetura. Embora distinta em termos materiais, a obra já traz o eixo como elemento estrutural, segundo aponta o crítico de arte Paulo Herkenhoff, no livro Poética da Razão.

Ainda no térreo, referências e influências que atravessaram o percurso artístico de Ascânio surgem numa seleção de obras da Coleção Roberto Marinho realizada por ele. “Este convite dá continuidade à tradição das individuais contemporâneas do Cosme Velho, onde artistas convidados não apenas exibem suas obras, mas também interagem e ressignificam o acervo da Casa”, explica o diretor Lauro Cavalcanti.

Ao retomar a prática curatorial – exercida entre 1983 e 1990 na Galeria dos Artistas, que funcionou no Centro Empresarial Rio, na Praia de Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro – Ascânio faz escolhas pautadas pela sua memória afetiva, trazendo à tona vivências pessoais. De um lado, homenageia os que influenciaram o início de sua carreira: Lygia Clark, com suas superfícies modulares, Amílcar de Castro e Franz Weissmann são alguns dos nomes que lhe impactaram, seja pela apropriação da forma geométrica, pela transgressão estética ou pelo uso do material.

Por outro lado, Ascânio MMM destacou parceiros da vanguarda dos anos 1960 e 1970, que ajudaram a construir uma arte inovadora e transformadora. Entre esses contemporâneos e companheiros de juventude estão Antonio Manuel, Artur Barrio, Cláudio Paiva e Raymundo Colares, representados em obras pertencentes à coleção particular de Ascânio e sua esposa, Ana Maria Monteiro. Lygia Pape, amiga próxima e influência fundamental na sua experiência neoconcreta, também está presente com uma obra da série Tecelares (1959).

No segundo andar, o público entra em contato com o processo criativo e construtivo do escultor. Sua formação em arquitetura se reflete nas pequenas maquetes – ou “projetos”, como prefere chamar – que funcionam como miniaturas de futuras obras em maior escala.

Miniaturas como as que compõem Estudo para Fitangulares, exibido no hall, ocupam as estantes do ateliê de Ascânio, ao lado de fotografias e objetos que carregam histórias e memórias. Esse espaço de trabalho, onde ele testa materiais e planeja cada etapa de seu processo, é recriado na exposição, evidenciando o quanto o cotidiano do ateliê é essencial em sua prática artística.

Presente em todas as fases de produção, Ascânio contraria a ideia de uma obra meramente intelectual, aproximando-se de uma prática construtiva, independente do material que utiliza. “A manipulação do material, a descoberta de novas possibilidades – tanto na madeira quanto no alumínio, no ato de cortar, furar, entre outros – têm sido fundamentais na pesquisa e na abertura de novos caminhos criativos”, reflete Ascânio em uma entrevista ao curador paulistano Paulo Miyada.

SERVIÇO: Visitação: 15 de dezembro até 30 de março de 2025 / Local: Instituto Casa Roberto Marinho
Rua Cosme Velho, nº 1105 / Estacionamento gratuito para visitantes, em frente ao local, com capacidade para 30 carros.

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Redação do site E-mail: contato@rotacult.com.br

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