- Publicidade -

“Duas Irmãs & Um Casamento” levas aos palcos bodas de diamante com o riso

Publicado em:

É difícil existir uma palavra mais essencial à dramaturgia sobre relações do que a conjunção “mas”, que expõe precipícios e provoca maremoto, no entanto, na obra do inglês Peter Quilter, outro termo, “e se…”, é mais espalhafatoso, além de gerar metástases sentimentais capazes de alterar o rumo da ação. Seu monumental “Glorious!” (2005), sobre a ricaça dublê de cantora Florence Foster Jenkins (1868-1944), solapava o coração da plateia quando seus satélites se perguntavam “e se a tratássemos melhor?” e refletiam sobre a própria impostura. Seu “Duets”, que virou fenômenos popular no Brasil, vai pelo mesmo caminho, em quatro atos distintos, ao fazer seus personagens repensarem suas estratégias de ação em cena. Essa habilidade de encontrar o ponto preciso para que protagonistas se rachem numa dúvida provocar com isso um efeito de identificação nos espectadores, assegurando um recheio existencialista a comédias rasgadas. Dessa forma, “Duas Irmãs & Um Casamento” provoca gargalhadas ao retratar uma convivência perfumada de impaciência e intolerância no âmbito da fraternidade. 

Aliás, em “Duas Irmãs & Um Casamento” há que se destacar a elegância com que Maitê Proença e Debora Olivieri se equilibram em cena, numa esgrima cômica de maturidade e precisão. Uma se espeta daqui, outra se espeta dali. Uma evoca um possível fracasso de ontem, outra resgata um deslize esquecido. Cada vez que essa troca se dá, uma simbiose de almas se adensa, e um mar de risadas areja o clima pré-Verão de dezembro no Rio. Além disso, a direção de Ernesto Piccolo serve de metrônomo entre as duas estrelas, conduzindo a fervura dos embates a uma temperatura que jamais entorna o caldo da panela familiar. É uma história de acertos, de reencontro, de vedação de fissuras. A tal da dúvida brota quando cada uma enxerga o valor na outra. Elas, no fundo, querem-se muito bem. O difícil é enfrentar as encenações que a vida, essa danada, exige da gente.

Sob a iluminação apolínea de Luiz Paulo Nenen, uma casa bem classe média serve de arena para o combate (de solidões, de saudades, de memórias e de aspirações) entre as irmãs Rosa (Olivieri) e Catarina (Maitê), ambas na faixa dos 60 anos. Os figurinos de Marília Carneiro enchem os olhos do público de um colorido almodovariano conforme Maitê e Olivieri renovam os votos do teatro carioca com as bases sacras da comédia de costumes. 

Rosa (Olivieri) se sente solitária, e curte o dia a dia com uma serenidade invejável. Já Catarina (Maitê) levou uma rotina de muitos amores (fracassados) com homens ricos e está prestes a casar a filha. Porém, matrimônio é uma missão que Catarina não é capaz de executar sozinha, o que exige a ajuda de Rosa. Para isso, será necessária uma reconexão. Elas não brigaram, mas estavam afastadas. É hora de uma reaproximação. O problema é cada uma vê o mundo de um jeito. Certamente, a colisão entre essas duas figuras dissonantes é abordada por Quilter sem fúria. Não há ódio, nem mágoa, há, apenas, tempo perdido.

Saiba mais sobre a peça!

Mais Notícias

Nossas Redes

2,459FansGostar
216SeguidoresSeguir
125InscritosInscrever
4.310 Seguidores
Seguir
- Publicidade -