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O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim um eletrizante regresso à Terra-Média, sem Gollum

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Cerca de nove meses depois de “O Menino e a Garça” conquistar o Oscar, afirmando a relevância de Hayao Miyazaki na indústria do audiovisual, outro anime (termo usado para definir desenhos em 2D de origem japonesa), o eletrizante O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim, desafia a hegemonia hollywoodiana sobre o terreno da animação. Embora traga uma miscigenação cultural e mercadológica com os estúdios da Meca americana, assegurada pela Warner Bros. Animation, a superprodução ostenta um design gráfico nipônico. Prolífico artesão de telefilmes e séries (vide “Ghost in the Shell: Stand Alone Complex” e “Ultraman”), respeitado como realizador no cinema por “Ancien e o Mundo Mágico” (2017), Kenji Kamiyama foi escalado para empregar seus traços autorais no universo criado por John Ronald Reuel Tolkien (1892-1973) a partir de 1937, com a publicação de “O Hobbit”. 

O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim

Fora sua assinatura formal (marcada por um colorido rebuscado e uso moderado de closes), o cineasta é reconhecido por seu interesse recorrente em tramas sobre lealdade. Esse é “O” termo quando se avalia o pavimento temático de toda a literatura tolkeniana. É a partir dos apêndices de “O Senhor dos Anéis” (1954-55) que Kamiyama desenvolveu o interesse de explorar o ambiente da Terra-Média, o território fictício no qual Tolkien ambienta sua prosa, explorando outras latitudes e outros tempos que não foram abordados no cinema pelo diretor Peter Jackson.

Aliás, foi esse cineasta neozelandês quem filmou a Trilogia do Anel, lançada de 2001 a 2003, com estrondoso sucesso de bilheteria e um oceano de Oscars, expandindo a mítica de Tolkien e sua relevância como escritor. Uma das melhores frases dele, transformada em um bordão nerd, é: “As melhores histórias são aquelas que não foram contadas”. A partir desse pensamento, Kamiyama cavoucou o legado literário do autor com a supervisão e a produção de Philippa Boyens. Ganhadora do Oscar de Melhor Roteiro adaptado, há 20 anos, por “O Retorno do Rei”, ao lado de Fran Walsh e Jackson, ela sugeriu que o objeto dessa investida animada na Terra-Média se concentrasse no reino de Rohan. Nos escritos de Tolkien, a região é famosa por sua tropa de cavaleiros, os Rohirrim, e por um monarca tempestuoso, Helm Mão-de-Martelo. 

Fã de “Nausicaä do Vale do Vento” (1984), pérola (feminista) do já citado Miyazaki, Kamiyama preferiu se concentrar numa jovem mulher desse reinado, a filha de Mão-de-Martelo, Héra. Vitaminado por uma montagem taquicárdica, generosa com o tempo das sequências de ação, O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim não fala dos Anéis do Poder nem de seu dono, a entidade maligna Sauron, tampouco abre espaço para o Gollum (“My Precious!”, lembra?), ambientando-se 183 anos antes da saga filmada por Jackson. Também ignora muitos personagens e enredos da (lamentável) série “O Senhor dos Anéis” da Amazon Prime. O que interessa ao roteiro escrito por Phoebe Gittins, Jeffrey Addiss, Will Matthews e Arty Papageorgiou é o amadurecimento de Héra, uma moça rebelde, quando seu pai é cercado por hordas do povo Dunlending, liderado pelo traiçoeiro Wulf. A personagem, interpretada por Gaia Wise (dublada no Brasil por Jéssica Vieira), não é uma heroína justiceira clássica, mas sim uma filha leal a um pai protetor, ainda que de verve machista, a qual ela contesta. 

Lutas fervorosas e escolhas delicadas fazem com que ela cresça, desafie o sexismo e descubra o quanto a Terra-Média pode ser perigosa, sobretudo com a aparição de um certo Saruman, mago interpretado por Christopher Lee (1922-2015) nos longas de Jackson. Aliás, graças ao achado de um arquivo com falas dele, seu vozeirão pode ser reaproveitado. No elenco de intérpretes “A Guerra dos Rohirrim”, Brian Cox (de “Succession”) tem uma atuação (vocal) de relevo, lapidando o perfil intolerante (mas bravio) de Mão-de-Martelo, sendo dublado em telas brasileiras por Jorge Vasconcellos. 

Fiel ao traço dos animes dos anos 1980 e 90, com muito de Miyazaki na escala anatômica dos monstros, “A Guerra dos Rohirrim” se impõe como um dos mais maduros frutos da animação industrial de 2024, amparado por uma direção de artes estonteante. A sequência do ataque de mamutes é antológica e faz jus ao que Jackson nos deu de melhor. 

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