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Um Homem Diferente: Aaron Schimberg apresenta um thriller psicológico inquietante

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Indicado ao Globo de Ouro de melhor ator, na categoria ‘comédia’, Um Homem Diferente cai no lugar que detratores e amantes tendem a fazer de maneira errada, que é classificar previamente os longas da produtora em um escaninho. O que vemos durante quase duas horas vai além de uma classificação prévia que poderia soar preguiçosa e precipitada, porque as reais leituras a seu respeito são conseguidas com um tempo de maturação. 

Um Homem Diferente

Escrito e dirigido por Aaron Schimberg, o cineasta tem o ator Adam Pearson como fetiche, pois ele está nas três obras. Interessante perceber que essa relação provavelmente ultrapassa a profissional, ao ponto do diretor conceber uma parábola que tenha a condição do ator como protagonista. Pearson sofre de neurofibromatose, o que causou deformidades em seu rosto, e é mais conhecido por seu trabalho ao lado de Scarlett Johansson em Sob a Pele. O cineasta não explora a condição do ator, mas o que é proveniente de pessoas cuja deformidade está além da aparência, escondida à espreita para ser revelada. Como antítese, Schimberg escalou Sebastian Stan para uma espécie de inspiração vital que se mostra muito menos “humano” do que poderíamos supor. 

Na verdade, Um Homem Diferente não pretende flertar com outro estranhamento que não com o humano. O que salta aos olhos de seu protagonista não é o inicial estranhamento que seu visual possa provocar, mas o quanto suas características pessoais acabam por transformá-lo, ainda mais automaticamente. É em torno dessa moral da história que gira o roteiro, o campo onde nenhuma beleza pode esconder as reais imperfeições que podem ser abertas pela sensação que a perda de poder nos apresenta. Edward é um homem que ganha uma nova oportunidade ao se deparar com a possibilidade de ser cobaia em um experimento, mas que ao ser confrontado com a concretização dos sonhos, não percebe que perdeu mais que um rosto. 

A partir da metade da produção, as implicações que Schimberg prepara para o filme mostram as texturas de Um Homem Diferente correndo para outros lados, com mais consequências imagéticas do que o filme apresentava. De começo soturno, a fotografia de Wyatt Garfield (de A Vida de Diane) trabalha as sombras e a forma sutil com que seu protagonista submerge em sua inadequação social. A partir da metade da projeção, entra em cena Pearson, e com ele uma inesperada energia entra em cena. Colocados lado a lado, Stan representa a ambição noturna por trás das aparências, enquanto seu companheiro de elenco monta um arsenal solar que nos conecta de maneira irrestrita a ele. 

A cada nova entrada de Oswald em cena, mais o filme se ilumina e mostra uma outra discussão, talvez um pouco excessivamente passiva. Existe essa intenção de mostrar uma pessoa com uma condição onde os resultados de suas ações revelem sempre resultados positivos. Se é bem-vindo que um ator como Pearson possa ser colocado nos lugares onde o personagem efetivamente está, Um Homem Diferente não problematiza que alguém como ele não encontre qualquer empecilho na direção do sucesso, criando uma blindagem que inexiste na vida real. Essa é uma provocação válida, que vai instigar subjetividades de espectadores dispostos a ficar de um lado ou outro, mas que pode ser encarada de maneira negativa. 

Consigo observar essa dualidade de sensações. Existe um filme querendo se libertar das frustrações de seu protagonista durante grande parte de sua duração, e que encontra um motivo para respirar justamente através do personagem/ator que deveria exalar amargura. É recompensador assistir a performance inspirada de Stan, mas ela só é possível com seu espelho invertido encarnado por Pearson. Está no corpo desses dois atores muito mais do que o sucesso do filme, mas acima de tudo está nessas duas atuações o que faz de Um Homem Diferente ainda mais interessante do que seu autor propunha. Por trás dos óbvios gatilhos de roteiro que sustentam algumas metáforas bobas, surge o corpo de seus dois personagens centrais, que resolvem o filme inteiro sozinhos. 

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