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“Azira’i”, solo autobiográfico, volta ao circuito carioca

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Desde a estreia, em outubro de 2023, “Azira’i” seguiu uma trajetória surpreendente de sucesso e repercussão mundo afora. Após ganhar o Prêmio Shell de Teatro de Melhor Atriz e percorrer 12 cidades em uma turnê que incluiu países como Colômbia e Estados Unidos, Zahy Tentehar retorna ao Rio para uma curta temporada do espetáculo no Teatro Firjan Sesi Centro a partir de 9 de janeiro.

“Azira’i” é, antes de tudo, um espetáculo sobre a relação entre uma filha e sua mãe. Com a dramaturgia construída a partir das memórias de Zahy, este solo autobiográfico foi construído para resgatar a sua vivência com a mãe, “Azira’i”, a primeira mulher pajé da reserva indígena de Cana Brava, no Maranhão, onde ambas nasceram. Com direção de Denise Stutz e Duda Rios, o espetáculo tem produção da Sarau Cultura Brasileira, de Andréa Alves e Leila Maria Moreno.

A montagem recebeu ainda o Prêmio Shell de Melhor Iluminação e foi indicado em quatro categorias no Prêmio APTR: Espetáculo, Direção, Iluminação e Jovem Talento. No último ano, o trabalho passou por diversas cidades brasileiras (São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Curitiba, Brasília, Santos, São José do Rio Preto, Caxias, Macaé, Itaperuna) e fez temporada internacional em Bogotá (Colômbia) e Chicago (Estados Unidos).

Azira’i foi uma mulher muito sábia e herdeira de saberes ancestrais, com vasto conhecimento sobre o mundo espiritual. Como pajé suprema, ela usava três ferramentas tecnológicas para curar: as plantas, a mão e o canto. Ao gerar e criar Zahy nesta mesma aldeia, deixou para ela seu legado espiritual. 

Ao longo da jornada como artista, Zahy fez do canto uma de suas expressões, o que poderá ser visto no espetáculo, em que ela cantará lamentos ensinados por sua mãe e canções originais compostas por ela com Duda Rios sob a direção musical de Elísio Freitas, produtor responsável pelo premiado álbum ‘Nordeste Ficção’, de Juliana Linhares, que também divide a autoria de algumas composições com a atriz e o diretor. É neste verdadeiro ‘musical de memórias’ que se apresentam Azira’i e Zahy, mãe e filha, mulheres nucleares, distintas, diversas e espelhadas.

Azira’i faleceu em 2021, ao longo do processo de criação da montagem, que começa em 2019, quando Zahy e Duda Rios se conhecem no elenco da montagem de ‘Macunaíma’, dirigida por Bia Lessa e encenada pela companhia Barca dos Corações Partidos, também um projeto da Sarau. Nas conversas de camarim, Duda se surpreendia com o que Zahy contava – ela mesmo se define como uma contadora de histórias – e surgiu ali mesmo a semente de criar um espetáculo a partir daquela vivência em um contexto tão próximo, mas também tão distante.

Duda formatou a dramaturgia junto com a atriz, em uma estrutura narrativa que percorre a história por diversos pontos de vista, como os da própria Zahy, mas também o de sua mãe e de uma narradora. No último ano, Denise Stutz se juntou à dupla de amigos criadores e a encenação propriamente dita começou a ganhar uma forma. 

‘O nosso maior desafio foi selecionar, entre tantas histórias que ela havia me contado ao longo de quatro anos, quais iriam compor a dramaturgia da peça. Às vezes queremos abordar muitas coisas num espetáculo e terminamos perdendo o fio da meada. Mas se temos um eixo narrativo claro, a chance do público se envolver é maior. Nesse aspecto a chegada de Denise foi fundamental, pois ela entrou no projeto pouco antes do início dos ensaios, com um olhar fresco que nos ajudou a identificar o que era essencial pra nossa narrativa’, conta Duda Rios.

“Azira’i” nasce ainda do desejo que Zahy tinha de contar as suas histórias reais, mas mostrando uma visão absolutamente não romantizada dos povos indígenas. ‘Uma história que é minha, mas também é a verdade de muitos brasis. É muito libertador poder falar do ser indígena de uma forma mais humanizada, sem estereótipos ou políticas. Quero poder contar a história de uma pessoa, como outras, que saiu de sua reserva, foi para a cidade, aprendeu uma outra língua e teve uma relação intensa com a mãe’, reflete a atriz.

No palco, ela alterna cenas em Português e também em Ze’eng eté, trazendo para o centro da cena o debate sobre os processos de aculturamento aos quais sua mãe foi submetida. Neste momento em que o país tem pela primeira vez um Ministério dos Povos Originários, a realização de um espetáculo como “Azira’i” ganha ainda um contorno mais especial.

‘Não por acaso, estamos realizando alguns projetos em que pensamos o Brasil a partir do que veio antes da chamada História Oficial. Ao falar de biografias que foram atravessadas e violentadas pela colonização, pensamos também no país que somos e projetamos o futuro que queremos’, celebra Andréa Alves, da Sarau Cultura Brasileira, que recentemente foi responsável pelas montagens de ‘Museu Nacional’ e ‘Viva o Povo Brasileiro’, trabalhos marcados por um acerto de contas com a turbulenta biografia do País nos últimos séculos.

Serviço: De 09 de janeiro a 09 de fevereiro de 2025.*

*Não haverá sessões nos dias 26 e 30 de janeiro.

*Sessões extras nos dias 01 e 08 de fevereiro (sábados), às 15h

Quintas e sextas, às 19h. Sábados e domingos, às 18h*

Teatro Firjan Sesi Centro / Ingressos a venda  na Sympla / Classificação: 12 anos

Rota Cult
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Redação do site E-mail: contato@rotacult.com.br

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