- Publicidade -

Baby: Marcelo Caetano explora relações afetivas

Publicado em:

É positivamente curiosa a relação que Marcelo Caetano estabelece entre seus dois trabalhos de ficção, Corpo Elétrico Baby, um dos filmes brasileiros mais premiados no recente circuito dos festivais. Enquanto o primeiro é uma efusiva história sobre as intrínsecas relações do trabalho e o do prazer, enquanto matérias apartadas, esse segundo é uma visão ainda mais ampla dessa mixologia, encadeando os elementos anteriores a uma recôndita descoberta de algo que Rihanna cantou, ‘encontrando o amor em lugar sem esperança’. E se a masculinidade já era investigada lá atrás, aqui ela é um dos pilares do amálgama que brota entre Ronaldo e Wellington (ou Baby). 

A exploração desse universo masculino não é fechado a um aspecto somente, principalmente porque seus dois protagonistas têm idades muito diferentes entre si. Além de não fechar a ótica feminina ao que acontece em sua centralidade, quase como um coro grego que comente os acontecimentos centrais, o roteiro de Baby explora a dualidade que existe de maneira natural entre dois seres periféricos. Mas isso não significa que suas trajetórias estejam no mesmo ritmo, e tais diferenças são enfim explicitadas enquanto se aprofundam. Na tela, estão um jovem sem expectativas ou norte, e um um homem com o dobro de sua idade, vivendo em conforto com sua desestabilidade emocional, que aos poucos é escancarada. 

As questões que Caetano dilui em seu roteiro não têm caráter explícito. Por exemplo, a forma como o roteiro se utiliza do trabalho para unir tais personagens, e como eles lidam com o que precisam fazer, e em como seus corpos trafegam por uma seara de obrigações. Nada disso é sublinhado pelo que estamos vendo, sem uma promoção direta de uma ideia; isso está impresso nas ações, mas esse não é um comentário que provoque reflexão de outros sujeitos, que não os externos – nós, espectadores. Aos poucos, o mesmo trabalho que serve para conectar os protagonistas e que se mostra necessário e automático, é também o que provoca cisão e afastamento. 

Mesmo o afeto experimentado, e talvez até essencialmente ele, é um motor que trabalha na redoma da masculinidade, se mostrando como crucial para entender o quanto tais figuras de ação revelam sua própria maleabilidade diante do outro. Enquanto Baby é uma figura da explosão juvenil, com seu impulso de desejo movendo-se imperativo dentro das relações, Ronaldo é o tipo que a vida regulou dentro de uma rede de exclusão do que seria sensibilidade. A mutação que ocorre em ambos é sintomática não apenas da falta de preparo para racionalizar seu papel social, como também para recalcular a rota diante de uma mudança tão radical de perspectiva. É compreender melhor e mais rapidamente com o que preenche vazios históricos, e a inação diante do novo. 

Nesse sentido, o corpo de Ricardo Teodoro vibra mais positivamente diante das dúvidas e da represa de sentimentos, com João Pedro Mariano se movimentando de maneira mais livre diante das mesmas novidades. Se colocando como uma análise sobre a erupção do novo diante da rigidez do estabelecido, e do choque entre extremos, Baby vibra com esses pólos tão diferenciados. De maneira mais orgânica, Teodoro compreende cada curva mais complexa que seu personagem trafega por fazê-lo a mais tempo, e pelo tanto de recursos que os anos manejam automaticamente dentro de alguém que fica, e já observou inúmeras partidas. Quando mais uma vez isso precisa acontecer, na derradeira cena da produção, nada precisa ser dito para a compreensão. Esses dois atores tão especiais, com a inclusão igualmente delicada de Luiz Bertazzo e Marcelo Várzea em composições tocantes de outras masculinidades igualmente perdidas em seus desejos, que denotam um alvoroço de incompreensão interna, fazem parte desse centro nervoso de relações absolutamente quentes. 

O personagem plus de Baby, as ruas do centro de São Paulo, denota o elemento derradeiro de formação de textura de sua narrativa. Árida e quente, escondendo a carência por trás de cada luz difusa, de cada curva perigosa, esse é um espaço que abriga a fauna que Caetano filma com a maestria de quem conhece cada elemento de cena, ou incide luz sobre eles. É tocante a forma como cada espaço filmado parece tão vivo quanto os seres que o habitam, da Praça da República ao ABC Bailão, passando pelos cinemas eróticos espalhados por suas ruas. Todos eles formam esse conjunto de proposições sob as quais tais corpos precisam sobreviver todos os dias, entre a necessidade de continuar existindo e o vazio que é preenchido pela umidade ao final – seja ele proveniente de suor, gozo, chuva ou lágrimas, ou tudo isso junto, indissociável.


Após viajar por festivais de todo o mundo, o novo longa de Marcelo Caetano, estreia nos cinemas brasileiros no dia 9 de janeiro de 2025. No dia seguinte, sexta-feira, 10 de janeiro, o filme recebe uma sessão especial seguida de debate no Cinesystem Botafogo (Praia de Botafogo, 316 – Botafogo) com a participação de Marcelo Caetano e mediação de Anita Rocha da Silveira, diretora de “Medusa”. Os ingressos estão disponíveis.

Mais Notícias

Nossas Redes

2,459FansGostar
216SeguidoresSeguir
125InscritosInscrever
4.310 Seguidores
Seguir
- Publicidade -