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Capitão América: Admirável Mundo Novo é ousado em discurso

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Em determinado momento próximo ao fim de Capitão América: Admirável Mundo Novo, um diálogo entre os dois protagonistas do filme ampliam uma discussão que já estava posta há mais tempo. Nele, o personagem-título e seu futuro escudeiro elaboram uma ideia a respeito de suas origens, minorias dentro do universo Marvel – um negro e um latino. Ainda que Pantera Negra seja um herói com representatividade a seu favor, estes lugares ainda são ínfimos perto da aceitação. Isso reflete uma discussão que já estava disposta em outros momentos da produção, que chega em momento crucial, porque estamos no limiar de um novo tempo, em todos os sentidos. Esse é, de uma maneira coletiva, o filme que chega para definir muitos novos parâmetros dentro de uma indústria visivelmente cansada dos excessos que ela mesma bancou, e agora parece cobrar o ‘algo mais’ que há tanto não era entregue. 

Capitão América: Admirável Mundo Novo

Sendo o filme que abre mais uma fase do multiverso Marvel Cinematic Universe (MCU), Capitão América: Admirável Mundo Novo chega repleto de ansiedade e obrigações. 2024, certamente, não foi o melhor dos anos para os produtores de filmes de super-heróis, e para essa nova temporada respostas rápidas serão esperadas. As previsões para o filme são boas, e pelo menos mais dois próximos capítulos do universo são esperados para ainda esse ano. Mas se o sabor é de novidade pela expectativa e pela renovação de um elenco, o mesmo não pode ser dito do resultado final, que carece de frescor visual. A narrativa inclusiva de muitas formas reorganiza as ideias por trás do campo natural, mas mantém o que seu público já se acostumou a ver intacto. Se isso é um sinal de conforto em todos os sentidos, também é uma maneira de não mexer em um time que talvez não seja mais tão invicto assim. 

Esse é o terceiro longa de Julius Onah, cineasta nigeriano com um vasto currículo de curtas-metragens, que já foi produzido por Spike Lee e cujos filmes anteriores (O Paradoxo Cloverfield Luce) provavelmente criou na Marvel Studios uma ideia do que eles poderiam encontrar, e talvez quisessem. O primeiro é parte da franquia de monstros da Paramount e, embora não tenha sido bem recebido, funcionou como uma demonstração de suas capacidades. O segundo é um drama intimista, com algum senso de claustrofobia social impressa em sua mensagem, com uma certa dureza em sua entrega. Capitão América: Admirável Mundo Novo carrega essa necessidade de transformar esses dois olhares de seu jovem diretor, mas a reforma parece mais aproximada pelas entrelinhas. Sim, elas importam, mas enquanto o invólucro manter sua aparência original, o espectador pode também manter sua relação com a imensa franquia. E essa não é necessariamente a melhor relação, atualmente.

Além do olhares sobre as diferenças, Capitão América: Admirável Mundo Novo também é um filme que olha para seu subtítulo tentando desmistificar seus novos códigos. Para isso, coloca uma pecha no seu próprio país, para identificá-lo da maneira como o mundo exterior o vê. No clímax da produção, o representante maior da nação expõe sua verdadeira face, de violência e tentativa de uma supremacia hoje desmascarada. É uma forma de denunciar a história dos Estados Unidos, um país que é exatamente tudo o que acusam de ser, e o próprio filme corrobora essa tese. É ousado em discurso, e até um pouco sofisticado ouvir que um estúdio que age pelo mundo afora com a mesma truculência que seu país de origem está apontando o dedo para táticas que ele mesmo aprova. Por trás do discurso, no entanto, está um filme cuja dinâmica direta não é exatamente a renovação que se imaginava.

Nesse sentido, temos uma produção que se beneficia de uma proposta diferenciada para apresentar o mesmo resultado estético. Ou seja, valerá a pena mover o campo narrativo, se o encadeamento da ação permanece o mesmo? Na seara que os filmes do gênero apresentavam até então, creio que a resposta mais correta seja sim. Porém, se esse ainda é um lugar onde não tenha mais de onde extrair frescor do ponto de vista estético, o rumo de suas atividades é não funcionar mais com público algum, em determinado momento. A própria subfranquia Capitão América já apresentou, no passado, uma representação imagética que saltava aos olhos diante do resto do material empregado na Marvel. A esperança é que estejamos diante de uma renovação geral, que possa agregar algum valor em algum ponto. Por enquanto, temos um sinal amarelo aceso para toda a marca, que pode no futuro sinalizar para lados opostos. Aguardar para conferir.

Que a motivação de avançar narrativamente, aos poucos, sejam alcançadas também por esforços imagéticos. Capitão América: Admirável Mundo Novo é corajoso, não podemos negar, mas o que precisa acompanhar sua mudança de chave são os códigos prementes da ação, propriamente dita. O que faz a narrativa avançar ao largo das entrelinhas, tais como motivações de vilões e desenhos de personagens coletivos. O campo está aberto, e a torcida é para que a sintonia se afine. Se um mesmo grupo de ação pode ainda entregar algo como Guardiões da Galáxia Vol. 3, é sinal de que nem tudo está perdido. Ou, existe sim vida inteligente esteticamente ligada ao MCU, falta perceber a necessidade de renovação total. O espectador espera mais, e isso já está claro para eles. Mãos à obra, Kevin Feige. 

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