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Oscar 2025: Saiba tudo sobre a maior premiação da industria

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Uma pergunta será feita no futuro: onde você estava na madrugada do dia 3 de março de 2025? Como o Carnaval é uma data volante, a maior festa popular do mundo será marcada como o palco coadjuvante de um evento possivelmente maior que ela, porque raro. Porque único. O Brasil acaba de conquistar seu primeiro Oscar na História, com Ainda Estou Aqui conquistando a concorrida categoria ‘melhor filme internacional’. Outras coisas ficaram em segundo plano para nós, brasileiros, como a maciça vitória de Anora com V maiúsculo, porque nós estamos nesse momento no centro da Terra. E porquê?

Há duas semanas, fomos anunciados como o país homenageado do ano no mercado internacional de Cannes, um dos mais prestigiados mercados de cinema no mundo. Nesse mesmo dia, Gabriel Mascaro e seu O Último Azul saíram do último Festival de Berlim com o Urso de Prata, o Grande Prêmio do Júri – uma espécie de segundo lugar da competição. E hoje, o Oscar de filme internacional, que tinha nos escapado anteriormente com O Pagador de PromessasO QuatrilhoO Que é Isso, Companheiro? Central do Brasil, finalmente chegou. E chegou grandão, em uma disputa cabeça a cabeça com Emilia Pérez, o filme com o maior número de indicações do ano, e que só não saiu com a pecha de grande decepção da noite porque Um Completo Desconhecido saiu zerado. 

É difícil não ser ufanista quando vemos Walter Salles, o diretor do filme, ser ovacionado no caminho ao palco, no abraço dele em Fernanda Torres, que será eternamente uma ‘Indicada ao Oscar de Melhor Atriz’ com muito orgulho. É difícil não acreditar que somos imensos quando chegamos no que é considerada a maior vitrine de visibilidade do cinema. Não que fôssemos menores antes disso, ou sem isso; nunca. O Brasil vive há alguns anos uma primavera sem hora para acabar quando falamos do nosso cinema; somos mencionados e premiados em Berlim, Cannes, Veneza, Locarno, estamos nos maiores festivais de cinema do planeta, sempre em posição de destaque. O Oscar parece até atrasado em uma festa que já acontece com frequência há pelo menos uma década. 

Fernanda Torres

Ainda Estou Aqui é um filme que já levou 5,3 milhões de espectadores aos cinemas no Brasil, é um sucesso de bilheteria em todos os países onde foi lançado, e o nosso futuro parece assegurado, com ou sem Oscar. Ele chega apenas para confirmar respostas que já recebemos há alguns anos, e para reforçar a alguns grupos da qualidade óbvia que é reconhecida pelo topo de uma pirâmide do mercado. Esse impacto da vitória pode carregar não apenas o público ao cinema de uma maneira mais constante, como também transformar a mentalidade de quem ainda precisa de aprovação exterior quanto a um produto de sabida excelência. 

O resto da noite foi marcada por duas mensagens fortes. Uma foi a derrocada do candidato francês já citado, Emilia Pérez. Um plano arriscado da Netflix norte-americana, o filme surgiu como o principal candidato da corrida 2025, com números de indicações expressivos em todas as premiações. O Globo de Ouro foi o único que apoiou sua candidatura de maneira ostensiva, ganhando a categoria principal. Desde então, o filme perdeu tração graças a uma série de erros de programação coletiva, desde as declarações infelizes descobertas em redes sociais feitas pela sua protagonista, até a postura arrogante e defensiva de seu diretor. Isso tudo levou ao questionamento das qualidades intrínsecas do filme, revelando o trabalho de retaguarda do streaming, que estava assegurando um filme superior ao visto. 

A outra mensagem vem do âmago do resultado, onde um imenso campeão de bilheteria (Oppenheimer) é substituído pelo candidato mais primordialmente ‘indie’ da temporada. Anora é o terceiro vencedor da Palma de Ouro a ganhar o Oscar de melhor filme – os anteriores são Marty Parasita – e essa vitória esmagadora para que se cale a boca de detratores, que existem em número enorme e agora só terão ainda mais voz. O filme de Sean Baker é acusado de não ser digno das vitórias em solo francês ou dessa mesma consagração, diminuindo o poder crítico de uma comédia e tirando de Baker o valor discursivo que ele sempre teve, o de conversar com o cinema político de maneira moderna sem abrir mão do cinema de gênero. 

Anora

O filme entra para uma seara recorde. Sean Baker, que estava indicado a quatro Oscars (lugares onde já estiveram Warren Beatty e Alfonso Cuarón, por exemplo), levou os quatro prêmios, tornando-se o primeiro nesse lugar; Walt Disney tinha feito isso em 1954, mas foi por filmes diferentes. Durantes as últimas semanas, muito foi dito (por mim inclusive) a respeito da derrota que ele sofreria em alguma dessas, porque não se acreditava que esse recorde pudesse ser batido, e o lugar mais lembrado para essa derrota seria a categoria de montagem, onde ele dividia favoritismo com Conclave, que saiu com ‘apenas’ melhor roteiro adaptado da noite. 

Baker mais uma vez apresentou um discurso memorável a respeito da importância da ida aos cinemas, e em como as telas grandes ainda são responsáveis pela viabilidade de projetos como Anora, o mais barato dos indicados ao prêmio máximo deste ano. Ele já tinha feito o mesmo na noite de entrega do Independent Spirit, que também consagrou seu filme, e representou um retorno da Academia aos filmes verdadeiramente pequenos, como no ano onde Nomadland venceu nas duas noites. Essa é a base de um discurso consciente de uma classe onde Baker é um representante consistentemente político, onde a falência do sonho americano fala alto, e aqui cria uma parábola a respeito do lugar de onde tal sonho é repetidamente derrotado. Suas falas pedindo a volta do público a esse tipo de filme, adulto e sem concessões, e o eventual aceno de Hollywood para esse lugar, é uma forma de reconhecer a excelência do que é feito sem o espaço que a indústria dá para os Chistopher Nolan da vida. 

O quinto Oscar de Anora foi um que trouxe uma certa tristeza para nós e pelo menos outra candidata mais obviamente. Mikey Madison, que vive a personagem título, tem apenas 25 anos e uma curiosidade no currículo: ela nasceu quatro dias após Gwyneth Paltrow vencer o Oscar de melhor atriz em cima de Fernanda Montenegro, por Central do Brasil. Ela derrota a filha de Fernandona esse ano, e também Demi Moore, que parecia ter construído uma narrativa irresistível demais para deixar passar. No fim das contas, falou mais alto o preconceito com o ‘body horror’, que parecia ter ficado nas sombras das 5 indicações que A Substância tinha conseguido, quatro delas em categorias nobres, todas derrotadas. Além disso, saiu vitoriosa também a denúncia que o filme apresenta, sobre o eterno etarismo em Hollywood, que Moore vinha denunciando desde seu primeiro discurso. Hollywood simplesmente fala que a estrela de Ghost e seu belo filme estão certos sim, e que o etarismo deve ser aplaudido. Com todo o respeito ao grande desempenho de Madison, sua premiação explicita o óbvio: uma jovem com apenas sete longas no currículo e já premiada, vence uma estrela com uma filmografia que se estende por 40 anos com diversos sucessos de bilheteria no currículo. A denúncia se mostra precisa. 

Já O Brutalista, filme que parece ter sido moldado para os maiores lugares do podium, teve sua narrativa “reduzida” a três vitórias, fotografia, trilha sonora e ator, para o celebrado Adrien Brody. Maior discurso da noite, o ator agora tem uma marca pessoal excepcional: duas indicações ao Oscar, que geraram duas vitórias. A anterior o marcou como o mais jovem vencedor da categoria, em O Pianista. Esse ano, seu rival Timothée Chalamet poderia ter batido seu recorde se vencesse por Um Completo Desconhecido, mas a biografia de Bob Dylan dirigida por James Mangold, que teve uma saída excepcional e que se mostrou um belo campeão de bilheteria, teve resultado decepcionante como um todo – seu único prêmio em toda a temporada televisionada foi o SAG de melhor ator para Chalamet. 

Wicked Duna – Parte 2 se estabeleceram como os grandes feitos técnicos da temporada, ganhando dois Oscars de suas respectivas áreas (o primeiro Duna inclusive já tinha sido premiado nas mesmas categorias que agora, melhor som e melhor efeitos visuais). Já Emilia Pérez também ficou com os dois únicos Oscars que pareciam salvos do naufrágio, melhor canção e melhor atriz coadjuvante; Zoe Saldaña, transformada em porta voz oficial da produção, teve seus esforços reconhecidos, e El Mal’ conseguiu fazer com que Jacques Audiard saísse da festa com ao menos uma das quatro indicações que tinha conseguido. 

Uma curiosidade: os três curtas-metragens premiados foram dirigidos por mulheres, e mesmo o documentário em longa, o impressionante Sem Chão, tem uma mulher entre seu quarteto de diretores. É uma representatividade importante, em um ano onde tivemos o primeiro homem negro vencedor do Oscar de figurino, Paul Tazewell, aplaudido de pé, por Wicked

É um dia onde devemos dormir de alma lavada e com a consciência de que o dever foi cumprido com maestria. Ainda Estou Aqui ganhou um Oscar de melhor filme, e isso representa as duas outras indicações a que fomos indicados. É um prêmio que Fernanda Torres recebe, mas também Selton Mello, sua mãe anteriormente indicada e também no elenco aqui, os produtores Rodrigo Teixeira e Maria Carlota Bruno, o público que continua conferindo o filme nas telonas e aumentando o número de espectadores, e o país como um todo, que agora também é o país do Cinema. Mas me diz… onde você estava essa madrugada, dia 3 de março? Guarde essa informação, nos próximos anos você repetirá essa resposta muitas vezes. 

Confira os vencedores do OSCAR: 

MELHOR FILME INTERNACIONAL: Ainda Estou Aqui (Brasil)

MELHOR FILME: Anora

MELHOR DIREÇÃO: Sean Baker, por Anora

MELHOR ATRIZ: Mikey Madison, por Anora

MELHOR ATOR: Adrien Brody, por O Brutalista 

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Zoe Saldaña, por Emilia Pérez

MELHOR ATOR COADJUVANTE: Kieran Culkin, por A Verdadeira Dor 

MELHOR ANIMAÇÃO: Flow

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO: Peter Straughan, por Conclave

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: Sean Baker, por Anora

MELHOR MONTAGEM: Sean Baker, por Anora

MELHOR FOTOGRAFIA: Lol Crawley, por O Brutalista 

MELHOR TRILHA SONORA: Daniel Blumberg, por O Brutalista

MELHOR DIREÇÃO DE ARTE: Wicked

MELHOR FIGURINO: Wicked 

MELHOR SOM: Duna – Parte 2

MELHOR EFEITOS VISUAIS: Duna – Parte 2

MELHOR MAQUIAGEM: A Substância 

MELHOR CANÇÃO: ‘El Mal’, de Emilia Pérez

MELHOR DOCUMENTÁRIO: Sem Chão 

MELHOR CURTA – DOCUMENTÁRIO: A Única Mulher na Orquestra

MELHOR CURTA – ANIMAÇÃO: In the Shadow of the Cypress

MELHOR CURTA – FICÇÃO: I’m Not a Robot

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