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“Por que não cantando?” faz reflexão sobre os preconceitos que marcam gerações

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Em 2013, chegou aos palcos a peça “Aos nossos filhos”, obra de temática LGBT+, estrelada pelas atrizes Maria de Medeiros e Laura Castro, com direção de João das Neves. Em cena, mãe e filha travam um embate geracional, que coloca em discussão famílias formadas por casais homossexuais, memórias da ditadura brasileira e quebra de paradigmas. Indicado a melhor dramaturgia pelo Prêmio APCA, o texto foi adaptado para o cinema em 2022 em produção protagonizada por Marieta Severo e direção de Maria de Medeiros.

"Por que não cantando?"

Pouco mais de 10 anos depois, Laura Castro desenvolveu a continuidade do espetáculo original, e finalizou um terceiro ato com o desfecho da trilogia dramatúrgica “Contra o Vento”, que coloca novos e antigos dilemas familiares em foco, superando preconceitos a partir do amor de geração em geração.

Protagonizada por Sarah Cintra e Felipe Maia – mãe e filho na vida real –, “Por que não cantando?” explora as complexas dinâmicas de aceitação, amor e preconceito dentro de uma família que desafia os padrões heteronormativos.

A peça acompanha a história de uma mãe lésbica, Tânia (Sarah Cintra), que, apesar de ter enfrentado discriminação e rejeição ao se assumir, nos anos 2000,,se vê reproduzindo com seu filho trans, Davi (Felipe Maia), os mesmos julgamentos que sofreu no passado. 

A partir da perspectiva da doc-ficção, as experiências vividas na transição do ator Felipe Maia em sua relação com a mãe, Sarah Cintra, deram ainda mais peso para a construção da dramaturgia. Em uma semi-arena, a cena se alterna com o diálogo entre mãe e filho. Diante do embate, surgem os questionamentos: Precisa ser tão difícil se assumir? Ser aceito? Ser respeitado? Será que não haveria outra forma? Por que não cantando?

“Em um mundo que acaba de eleger Donald Trump como presidente dos EUA e vê os direitos da população LGBT ameaçados, ainda acredito no amor como resposta. “Por que não cantando?” aposta nas relações familiares como espaço para o diálogo e a superação dos preconceitos”, declara Laura, que também já está adaptando o texto para o cinema, novamente em parceria com Maria de Medeiros, numa coprodução franco-brasileira. 

Davi está em uma fase decisiva de sua transição de gênero, prestes a completar 16 anos, expõe para a mãe seu desejo de iniciar o tratamento com hormônios e trocar definitivamente seu nome nos documentos, o que faz aflorar um turbilhão de emoções, confrontando tabus, traumas familiares e preconceitos internalizados. Entre tensões, diálogos cortantes e momentos de profunda reflexão e afeto.

“Por que não cantando?” nasce da força desses laços e de um encontro de vivências. Nasce da urgência de que sejam ouvidas as vozes daqueles que precisam resistir antes de existir. É no íntimo que são vistas as faces mais duras do preconceito e da opressão, mas também os mais delicados atos de amor. A arte é temida por aqueles que não enxergam para além de seu conforto e nela veem uma ameaça, mas persevera por todos que nela encontram voz.”, comenta Felipe Maia, ator que interpreta Davi.  

A trilha sonora intensifica o drama contemporâneo. Musicista e diretora musical do espetáculo, Angeliq Farnochia, de 23 anos, transicionou em 2021, e levou para a cena suas vivências, acrescentado novas camadas à montagem. A onipresente “Balada de Tim Bernardes” reforça a urgência do debate sobre o respeito verdadeiro, e como isso pode ser tão desafiador quanto libertador, trazendo à tona questões universais sobre identidade, afeto e o que significa realmente apoiar a quem se ama. 

Em “Por que não cantando?”, Laura Castro amplia o debate sobre as lutas que desafiam cada geração, chegando aos dias de hoje em um alerta contra a gritante transfobia que domina mundialmente a pauta de costumes. Basta olhar os projetos de lei em trâmite no Brasil e os discursos que se amplificam nos Estados Unidos, minando direitos civis e projetos de inclusão.

“A arte sempre assustou aqueles que querem impor formas únicas de existir. Justamente por isso precisamos falar sobre a importância de respeitar as diferenças, de reconhecer a dignidade de cada pessoa em sua singularidade e garantir que ninguém precise justificar ou lutar pelo direito de ser quem é. Em um mundo onde discursos autoritários ganham força, reafirmar esses valores não é apenas necessário – é um ato de resistência”, afirma a atriz Sarah Cintra.

O preâmbulo “Aos nossos filhos” tem como centro narrativo a personagem Vera, que se vê diante de um abalo existencial ao saber que sua filha Tânia pretende ter um filho por inseminação artificial com sua companheira, Vanessa. Mas a história familiar, na verdade, começa antes, durante os anos 1960. Vera havia participado da luta armada contra a ditadura militar brasileira, foi presa, exilada, casou três vezes e teve dois filhos. 

Desta vez, o eixo se desloca. Aos 50 anos e entrando na menopausa, Tânia é mãe, e teme o futuro de seu filho Davi, prestes a completar 16 anos. Davi transicionou durante a pandemia e a vida em casa foi turbulenta. Tânia erra o pronome ao se dirigir ao filho, sente medo, culpa e mergulha na depressão. A cena se forma ao redor do palco, como um grupo de apoio. “O tempo é todo junto, sem separação”, diz Davi, assim como se apresentam as lutas pregressas e as vindouras, o pêndulo dos ventos da história e a urgência de cada indivíduo na busca por ser o que se é. É preciso estar atento e forte.

SERVIÇO: Datas: de 29 de março a 22 de junho (de quinta a domingo) / Local: Queerioca – Travessa do Comércio, n.16 (Arco do Teles), Centro, Rio de Janeiro / Ingressos:   Sympla  / Classificação indicativa: 12 anos 

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Redação do site E-mail: contato@rotacult.com.br

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