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Limonov: O Camaleão Russo percorre discurso do poeta russo

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Eduard Veniaminovich Limonov foi um escritor, poeta e dissidente político russo. Faleceu há cinco anos, pouco depois de completar setenta e sete anos e, infelizmente, antes de ver estrear nos cinemas uma biografia que mais percorre suas ideias e pensamentos que necessariamente sua história, e essa é a parte positiva de Limonov: O Camaleão Russo, que estreia essa semana depois de participar da última competição do Festival de Cannes. O filme consegue nos fazer compreender sua personalidade com o afinco que uma biografia dirigida por outra pessoa não conseguiria, mas talvez falte a obra uma dimensão menos concentrada dessa narrativa, com um equilíbrio mais harmonioso das partes de seu personagem-título.

O responsável pela produção talvez seja hoje o expoente maior do cinema na Rússia, Kirill Serebrennikov. Mundialmente conhecido desde o lançamento de Verão, em 2018, o cineasta alcançou o auge de sua carreira em seu filme anterior, a obra-prima A Esposa de Tchaikovsky. Obcecado com infortúnios reais, dessa vez ele debruça-se sobre esse nome provocador de nosso tempo, mas que não é uma figura exatamente conhecida do espectador médio brasileiro. Por essa qualificação, a estreia de Limonov: O Camaleão Russo é por si só digna de comemoração pelo alcance de seu realizador na atualidade, e que serve como uma digna aula de História contemporânea, com um viés menos quadrado do que é visto por olhares anglo-americanos de figuras reais.

Passada a curiosidade inicial, o filme precisa interessar o espectador pelo modelo cinematográfico escolhido, e por isso nosso estranhamento é mais sedutor que uma situação negativa. Serebrennikov é um cineasta com grande visão autoral, que preocupa-se com enquadramentos e a disposição visual de suas discussões, e desse modo Limonov consegue exalar algum sentido de impacto. Após Pawel Pawlikowski (o diretor de Guerra Fria) desistir de uma adaptação do romance de Emmanuel Carrère e manter-se apenas como roteirista, não poderia ser escolhido um responsável mais sedutor para contar tal história de maneira mais gráfica. O resultado são inserções de tonalidade que realçam seus apontamentos narrativos e estéticos, em uma balança nem sempre tão segura.

Além disso, outro ponto de atração da obra é a presença do britânico Ben Whishaw no papel principal. Muito premiado pela minissérie A Very English Scandal, esteve nos premiados Entre Mulheres, Passagens e A Garota Dinamarquesa, além de ser a voz original do ursinho Paddington. Aqui, Whishaw exercita lados que o título em português conseguem compreender bem em camadas. Trata-se de um homem complexo, com um olhar firme para si mesmo e para o mundo que o rodeia, muito bem norteado por esse ator que parece estar pronto para voos ainda mais radicais. Ele encontra um projeto aqui que pode funcionar como um trampolim para esse futuro de certezas, exprimindo uma gama de sensações através de um homem que não conseguimos apreender com facilidade.

Essa também é a proposta de seu diretor, e do projeto como um todo. Ao ter em mãos uma trajetória de exílio, de sobrevivência e de posições claras, Limonov: O Camaleão Russo resolve bancar os resultados de exprimir essa multiplicidade em tela, tanto nas cores que definem seu personagem divergindo entre si a cada nova tentativa de captura, quanto na ideia gráfica da produção, com uma pulsação menos dinâmica do que poderia. A ideia no geral soa como uma tentativa válida de cumprir, mas que não se aprofunda em suas decisões. Diferente do que fez em seu filme anterior, Serebrennikov aqui tenta com mais vigor os caminhos que sua obra tenta encampar, mas o resultado não é imprimido na tela; suas tentativas, sim.

Com um circuito engessado, restrito a obras consagradas de diretores estelares ou projetos de blockbusters que nem sempre mostram ao que veio, é quase um ato de coragem que um filme cheio de possibilidades como Limonov: O Camaleão Russo se apresente, mesmo no circuito independente. Ainda que não lhe caiba somente acertos, é uma obra cheia de vontade de abraçar o mundo pelas vias menos óbvias e cores marcantes. Essa é uma característica já compreendida de seu autor, um diretor de cinquenta e cinco anos que explode na tela com muita vivacidade, uma vontade de comunicar talvez comparável à de seu personagem. É uma felicidade ver um filme tão intenso, ainda que nessa ânsia de entregar seu mosaico, algumas imagens pareçam mais arrebatadoras que outras.

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