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 Until Dawn – Noite de Terror, adaptação do game da PlayStation, chega aos cinemas

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Podemos dizer que alguns temas encerram seu ciclo para o cinema narrativo, e ainda que surjam novas versões que ainda batam nessa tecla, tudo o que poderia ser contado sobre tal narrativa se esgotou. Em 1993, Harold Ramis lançou um filme tão surpreendente quanto delicioso, e o cinema passou os 30 anos seguintes repetindo variações da fórmula de Feitiço do Tempo. Em determinado momento, os dias não apenas passaram apenas a se repetir em modo perpétuo, como também os personagens começaram a morrer nesse mesmo dia, e acordar seguidamente na data repetida à exaustão. Como sair dessa repetição macabra? Em 2015, a Playstation lançou um novo jogo que se transformaria em uma febre: Until Dawn beberia na fonte da repetição do tempo aliado a essa mortalidade consecutiva. Sua adaptação para os cinemas, Until Dawn – Noite de Terror, funciona como um funeral para essa narrativa, embora não creio que exista, depois daqui, mais algum lugar onde essa ideia alcance que represente alguma novidade. 

Until Dawn

Aliás, a brincadeira está no olhar metalinguístico que conecta game e cinema, em uma intercomunicação surreal. Ora, o universo do videogame, por excelência, é aquele onde a morte representa apenas o impedimento do avanço de alguma fase, podendo ser facilmente atingido caso você supere os obstáculos, ou não – você morre. E retorna a vida. E morre. E retorna a vida. E morre. E retorna a vida. Pois não é esse exatamente o conceito por trás dessa narrativa, e que cai como uma luva em Until Dawn? Logo, o que acompanhamos na produção não é apenas essa utilização narrativa, como o aspecto definitivo dela, como se estivéssemos na frente de um console, sem direito a um joystick. É, também nessa definição, uma adaptação de game das mais bem sucedidas, mesmo não sendo fiel ao jogo, porque carrega para dentro do roteiro exatamente as sensações que um jogador é acometido, observando ciclos/fases continuamente, morrendo, e retornando ao início. 

Na base da jogabilidade do produto original, o arbítrio é uma chave que move o controle; cada decisão tomada, revela uma nova possibilidade, e dependendo das escolhas do jogador, toda a resolução pode mudar. Isso é outra característica mantida por Until Dawn – Noite de Terror, onde seus personagens percebem que as diferentes maneiras de morrer e dos possíveis assassinos que encontrarão são alteradas a cada nova etapa. Dentro do universo dos roteiristas Blair Butler e Gary Dauberman, essa desconexão entre as situações de cada fase são assim desenvolvidas porque isso permite aos personagens manterem-se na constância do medo, pois não sabem qual será o próximo passo que a nova fase irá apresentar. Mais uma ideia que funciona dentro do que assistimos e também entre os espectadores, que não se acostumam com cada nova sequência. 

São decisões criativas que fazem do filme dirigido por David F. Sandberg uma experiência tão interessante, que contornam vários caminhos óbvios dentro de uma proposta já repetida à exaustão. Estamos diante de um dos filmes mais instigantes do diretor, que dirigiu os dois Shazam! e estreou na direção com Quando as Luzes se Apagam, reinvenção de seu próprio curta-metragem. Aqui, Sandberg lida com um campo de possibilidades levemente alteradas, que possibilitam leituras muito mais ricas sobre seus apetrechos. Como essa formalidade do medo, ou dilemas morais texturizados, como as decisões de vida e morte sob o jugo da culpa. São simplicidades que nem ocupam a totalidade do discurso, mas que fazem de Until Dawn uma melhoria considerável dentro do terror, sem excessos de expectativa. 

Além disso, na linha estética, o filme é provocativo, e trata as imagens que cria com algum cuidado. Um bom filme de terror precisa ter pelo menos alguma sequência de impacto, e Until Dawn caminha relativamente bem até sua metade, com visuais interessantes para os inúmeros assassinos que invadem a tela, e que tem seus desenvolvimentos em roteiro tratado de maneira rápida, mas eficaz. Na metade do filme, uma mágica acontece: existe uma sequência ali no meio, que dura mais ou menos uns 10 minutos, que sai da sessão junto com o espectador. Se visualmente o filme fica na nossa memória, o carro chefe do filme é esse momento que, sem spoilers, posso definir como ‘a sequência das explosões’. Acredite, esse momento não envergonha qualquer título do gênero, e ajuda a colocar o filme em particular em um lugar que não será esquecido. 

Embora seja conciso e curto, Until Dawn – Noite de Terror não alcança a excelência e isso nem é algo que o filme pareça não ter se preparado. Inclusive porque em determinado momento, na reta final, o roteiro justifica o fato de que até o medo que é tão renovado entre os personagens, acaba também caindo na mesmice. É um argumento que o filme preparou para si, mas que não impede essa sensação de repetição perder espaço para o cansaço. Ainda assim, poucos filmes recentes que tenham largada tão descompromissada, pareceram ter fôlego proporcionalmente inverso à seu deslanchar. Até o desfecho dos personagens concentra alguma ideia nova, dentro do que estamos acostumados a ver. De mansinho, Until Dawn, como diz o meme, não prometeu nada e entregou, se não tudo, ao menos muita coisa. 

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