- Publicidade -

Anita Schwartz Galeria de Arte recebe exposição com obras de Cildo Meireles

Publicado em:

Anita Schwartz Galeria de Arte  recebe “Cildo Meireles: percurso e presença“, uma homenagem ao maior expoente da arte conceitual brasileira. A exposição resgata uma seleção de desenhos produzidos nas décadas de 1960, 1970 e 1980; e gravuras de 2009 inspiradas em desenhos da década de 1960. Além das obras gráficas, foram reunidos alguns objetos em pequena escala, elementos de instalações simbólicas de sua produção no plano tridimensional.

Desenhar viria a ser uma forma de expressão e reflexão, um meio para detalhamento de ideias e, também, principal fonte de receita do artista carioca até quase 1990. A venda de desenhos para amigos e colecionadores possibilitou que Cildo se dedicasse à carreira artística e realizasse projetos mais complexos, pelos quais se tornaria mundialmente conhecido. 

“O desenho é a primeira percepção visual. Numa segunda etapa é preciso voltar ao desenho, detalhar. Ele acompanha esse processo de detalhamento de uma ideia. Mas sua função é captar essa coisa que passou como um relâmpago, que ainda não tem forma, cor, tamanho.” (Cildo Meireles, em entrevista publicada no catálogo da exposição “Algum desenho [1963-2005]”, editado pelo CCBB-RJ, em 2005)

Em entrevista ao crítico Frederico Morais, ele conta que aos nove anos de idade, morando em Belém do Pará, ganhou alguns trocados na escola vendendo desenhos. Após mudar-se para Brasília, já na escola secundária, seguiu praticando. Foi a forma que encontrou de estar mais perto do real e mostrar aos colegas a sua forma de pensar. Em 1963, aos 15, passou a frequentar o Ateliê Livre da Fundação Cultural do Distrito Federal, dirigido pelo artista peruano Felix Alejandro Barrenechea. Lá exercitou o desenho de observação e com modelo vivo. Na mesma época, ingressou no curso de cinema do CIEM, escola experimental, vinculada à Universidade de Brasília. 

Foi nessa ocasião que passou pela cidade uma exposição do acervo de arte africana da Universidade de Dakar, no Senegal, reunindo esculturas e máscaras. A mostra exerceu forte influência na formação do artista, que se sentiu estimulado a enfrentar qualquer superfície com o intuito de resolver o problema da representação, a figura transportada para outro plano. Em 1964, momento de grande adversidade no país com o início ditadura militar, o curso de arte da Fundação Cultural foi fechado, mas Cildo continuou frequentando o ateliê de Barrenechea. Desde então, a prática do desenho o acompanha, e lá se vão mais de seis décadas.   

Entre as obras selecionadas estão desenhos livres de diferentes temáticas e formatos: alguns inspirados nas máscaras africanas mencionadas anteriormente; outros, seguindo uma linguagem narrativa com nichos alusivos aos de histórias em quadrinho, com situações que se desenvolvem de forma arbitrária. Há também composições abstratas com predominância da cor, desenhos que misturam pinceladas arredondadas e tracejados evocando situações de dor e violência e, ainda, cenas específicas guardadas na memória do artista. 

Além disso, a galeria contou com a colaboração de Antônio Carlos Barreto na captação de obras como a emblemática série Espaços Virtuais: Cantos, iniciada como desenho em 1967, é exibida em forma de gravura. Nela, o artista analisa o fenômeno da perspectiva e virtualidade através do módulo euclidiano de espaço (três planos de projeção frontal, lateral e horizontal), e seus desdobramentos Volumes Virtuais Ocupações, constituídos de linhas e dois ou três planos de suporte que, partindo da parede, criam ambiguidades espaciais. Além dos desenhos e gravuras, são apresentados múltiplos colecionáveis — muitos fazem alusão às suas grandiosas instalações.    

Camelô remete às memórias de infância do artista, que costumava frequentar o centro da cidade do Rio de Janeiro com seu pai. Na ocasião, ele observava a presença de camelôs vendendo objetos muito simples como alfinetes, barbatanas de camisa e marionetes de papelão e plástico. Aquela situação o intrigava, como aquelas pessoas podiam sobreviver vendendo itens tão insignificantes? Anos depois, dessa lembrança surgiria o múltiplo Camelô, ou vendedor ambulante, que vende palhetas de colarinho em uma mesa e alfinetes marcados com as iniciais do artista na outra.

Por fim, são exibidos um relógio e um conjunto de quatro trenas de madeira, objetos componentes da grandiosa instalação Fontes, 1989-1992 que subverte as convenções humanas de medidas de tempo e espaçoNa obra completa, trenas de madeira com diferentes unidades de medidas são justapostas ao centro da sala, algumas seguindo o sistema métrico decimal e outras o sistema de polegadas, enquanto relógios de igual tamanho, porém com posicionamento e intervalos irregulares dos algoritmos indicativos das horas ocupam as paredes, com números caídos ao chão, criando um paradoxal agrupamento de objetos de igual tamanho e formato, mas que apresentam medidas diferentes. 

SERVIÇO: 5 de junho até 5 de julho de 2025 / Anita Schwartz Galeria de Arte R. José Roberto Macedo Soares, 30 – Gávea / Visitação: segunda a sexta, 10h às 19h; sábado, 12h às 18h

Rota Cult
Rota Cult
Redação do site E-mail: contato@rotacult.com.br

Mais Notícias

Nossas Redes

2,459FansGostar
216SeguidoresSeguir
125InscritosInscrever
4.310 Seguidores
Seguir
- Publicidade -