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 O Esquema Fenício: Wes Anderson resgata o gênero espionagem com louvor

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A cada nova estreia de um novo filme dirigido por Wes Anderson, voltam os mesmos gritos acusatórios a respeito de uma possível repetição estético-narrativa no que ele empreende como autor. Se tal apontamento pode ser visto como realidade para uns, outros tantos identificam autenticidade e assinatura em seu olhar. O Esquema Fenício acabou de chegar do Festival de Cannes em uma recepção morna, condizente com o que aconteceu com os últimos filmes do diretor: apatia crítica e injustiça com a obra. Mais uma vez, não houve boa vontade com uma peça de cinema que tenta dialogar com suas bases de gênero através de uma chave satírica, e que representa mais um avanço de Anderson a uma filmografia arriscada. 

 O Esquema Fenício

Após o brilhante Asteroid City, as expectativas para sua nova empreitada não eram poucas. Com uma sofisticação que exacerbava o visual, Anderson encontrou lá o recorte ideal para a comunicação do caráter fabular de sua obra. Esse novo filme é mais um dos títulos que serão apontados como ‘dissidente de O Grande Hotel Budapeste‘, mas que tem um desdobramento próprio dentro da arte. Se esse último citado era um mergulho na arte de contar histórias que já estava também em Moonrise KingdomA Crônica Francesa sendo uma ode ao conhecimento através da imprensa e seu filme anterior uma carta de amor ao teatro, O Esquema Fenício resgata o que de mais saboroso poderia existir na espionagem, enquanto gênero cinematográfico. 

Apesar de ser vendido como uma produção menos leve do cineasta, com uma cena de abertura especialmente chocante – pelo inesperado de um plano – existe um tom sarcástico, sem exatamente leveza, que acaba garantindo a produção que se embarque em uma diversão mais adulta. Enquanto sua filmografia é calcada em uma observação humana de um projeto fabular, O Esquema Fenício ressignifica a estrutura que compete a Anderson com essa demarcação absurda do de um gênero tratado de forma jocosa. É como se o diretor estivesse realizando o seu particular Top Secret!: Super Confidencial, comédia dos anos 80 dirigida pelo trio David & Jerry Zucker e Jim Abrahams que satirizava de maneira rasgada o filme de espiões (e no esquema, sobravam farpas para a Guerra Fria, para 007, e tantos mais). Sem a agudeza do grupo ZAZ, Anderson indica que aquele era um filme inspirador. 

Quanto mais rápido o espectador compreender que o melhor a ser feito é tentar, dessa vez, não ser tão fiel à leitura do roteiro de Anderson e Roman Coppola, mais habilmente vai absorver as questões que o filme quer propor. Diferente de tudo que ele fez anteriormente, em O Esquema Fenício o cineasta quer mais sair de seu espaço habitual narrativo, e se entregar a mise-en-scene. Ainda que seu visual seja o forte desde a estreia, dessa vez a fotografia de Bruno Delbonnel (indicado ao Oscar algumas vezes, incluindo por seus trabalhos em A Tragédia de Macbeth O Fabuloso Destino de Amélie Poulain) trafega pelos planos, sem deixá-los com a aparência constante de contemplação. Desde o tal plano inicial explosivo, o que temos em cena é um cineasta interessado em confundir, muito mais do que em explicar. 

A direção de arte de Adam Stockhausen continua impressionando, mas dessa vez me parece que existe mais um interesse na ideia de como tais quadros estão dispostos. Na maneira como cada construção é lida pelo plano, e em como tais elementos podem construir para a história ser contada. Porque serão os planos que a contarão, muito mais do que a narrativa disponibilizada; talvez essa seja uma maneira que Anderson forneça pouco para a sua filmografia. A ideia do projeto do título, por exemplo, é a chave para a (in)compreensão do todo; conforme suas ações descritas avançam de maneira a não fazerem sentido, incorpora-se que o todo procura essa ideia. 

Seguindo uma lógica que é, dessa maneira, tanto uma busca pela autoria esperada e uma tentativa de romper com alguns códigos, para situar uma nova ordem de reflexão, O Esquema Fenício é uma produção menos direta que as recentes de seu diretor, e talvez novas visitas a ela façam-se necessárias no futuro. Para um olhar inicial, ainda que o frescor de sua obra anterior seja ainda uma sombra difícil de fugir, encontramos aqui uma tentativa de progressão, ainda que de maneira enviesada. Com um trio de protagonistas absolutamente genial (Benicio Del Toro, Michael Cera e a jovem Mia Threapleton, filha de Kate Winslet), são eles que carregam a energia vital de uma obra disruptiva dentro da filmografia de seu autor. Se todos os elementos não estão exatamente à vontade, a gana de sempre está intacta. 

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