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June e John conta história sobre o poder transformador do amor

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Podemos dizer que Luc Besson já viveu dias melhores e mais prestigiosos, mas ao mesmo tempo o cineasta raras vezes foi tão prolífico quanto agora. Lançou um filme ano passado (Dogman), nos próximos meses lança sua própria versão adaptada do Príncipe das Trevas (Drácula: Uma História de Amor), e nesse Dia dos Namorados apresenta seu mais novo filme, June e John. Como quantidade não é sinônimo de qualidade, já fazem alguns filmes que o cineasta de Imensidão Azul não acerta. June e John apresenta uma quantidade tão absurda de clichês, que não resta outra coisa ao espectador que não elencá-los, um a um, e tentar prever quando e de onde sairão os próximos. Dica: será logo, e em profusão. Tanto que fica a impressão de tratar-se de uma comédia pastelão onde, em algum momento, tudo isso se revelará como piada.

Na trama, um rapaz repleto de fobias da atualidade (todas as síndromes possíveis) sobrevive em um emprego onde é seguidamente massacrado, recebendo o escárnio dos colegas e o desprezo de um chefe irritante. Um dia, bate de frente com uma jovem no metrô – não necessariamente bate, eles se veem através de vagões – e ao descobrir seu contato pela internet, permita que invada sua vida um furacão. Ela rouba o banco onde ele trabalha e eles fogem juntos rumo a lugar nenhum, e rapidamente ele saberá que não há futuro para eles. O que vale então é viver o agora, cheio de adrenalina e paixão, ao longo das estradas estadunidenses. Ou seja, já vimos June e John algumas muitas vezes, e definitivamente não vale a pena ver de novo. Ao menos não a versão que Besson pensou para esse amontoado de repetições.

É bom deixar claro que June e John é um filme sem qualquer capricho, e isso vai além desse roteiro mal ajambrado, ou de um campo que buscaria uma assinatura despretensiosa. Estamos diante de uma direção preguiçosa, que concebeu um filme que, na ânsia de ser cru e parecer indie e descolado, soa apenas como uma produção feia. Não sei como é possível que um cineasta gabaritado como Besson, que já entregou títulos cuja beleza estética era um predomínio e uma busca, possa se contentar em encontrar beleza em algo tão artificial, com aparência desleixada. Seu propalado cuidado, dessa vez, não está em cena, e o resultado do que é mostrado incomoda tanto quanto o resto do que se vê, ou se sente, ou se lê daquela ambiência. Em suma, não há credibilidade no que é apresentado.

Se tem algo especificamente que incomoda bastante no filme de Besson é o fato de que, apesar de pedir o tempo inteiro para não ser levado a sério, o diretor o faça. Essa é uma crítica que pode ser feita ao próprio diretor, que poucas vezes sabe rir de si mesmo. Por exemplo, um filme como Joana D’Arc, sua incursão no épico protagonizada por Milla Jovovich em 1999; feito nas raias do absurdo, o grande problema encarado aqui era sua seriedade extrema, quando as fissuras da comédia estavam dispostas em cena, quase o tempo todo. Isso se repete em June e John, que como já foi dito, é tão assolado de lugares comuns, com tantas provocações típicas de uma sátira, que decepciona que ele não abra mão de uma seriedade e de um senso de tragédia absolutamente cafona. 

Lá pelas tantas, quando não há mais qualquer esperança ou chance de redenção, acontece enfim uma cena que acende um resquício de verdade em June e John. Depois de tantas encenações raquíticas, de um texto bastante pobre proferido sem qualquer interesse (e verdade seja dita, não podemos culpar seus atores por tal), esse arremedo de Bonnie & Clyde ilumina-se. Com o perigo de proferir um spoiler, os personagens resolvem se casar, em mais um arroubo de falta de criatividade do projeto. Mas, do fim desse poço, surge um lampejo: June se sente abandonada e acaba encontrando refúgio em uma figura que conhece na rua, provavelmente uma prostituta em fim de estágio. John, por sua vez, esbarra em um morador de rua, e do encontro desse quarteto, aliados a um padre latino em cenário desconcertante, algo vive na tela. Um arrepio fugidio mostra que esse cineasta tão imaginativo não está morto, e ainda é capaz de um ato solitário de beleza e inspiração. 

Isso unido ao derradeiro plano do filme, o faz escapar da pecha de ‘pior filme do ano’. Nesse momento final, o que faz diferença é o corte, feito de maneira tão aguda quanto certeira; não há o que dizer além daquilo, é o final possível e pronto. Redime uma produção tão caótica, essa colcha de remendos puída e de mal gosto? Não. Mas jaz em um lugar escondido que as capacidades de Luc Besson podem ser ressuscitadas a qualquer momento, prontas para um novo round de cinema. De longe do que vemos aqui, restarão esses momentos muito fugazes de uma verdade perdida entre o aborrecimento e a preguiça ininterrupta. Melhor que nada? Fica a critério de cada um. 

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