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 Jovens Amantes faz imersão nas questões do anos 90

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Existem obras onde a energia vital por trás delas, onde sua garra inconfundível, onde o caos gerado pelo frescor, é a mola mestra para sustentar seu interesse, sua narrativa em uma lufada de novidade. Esse é o caso de Jovens Amantes, filme que passou pela competição principal do Festival de Cannes e infelizmente não conseguiu nenhum prêmio por lá. Isso porque sua investigação imagética sobrepõe qualquer mera especulação diante do que está sendo contado, em uma palheta orgânica. Existe um claro prazer de se assistir a pulsão de vida que exala daquele grupo de pessoas, que como em todo grupo etário pouco avançado, tal empuxo signifique também seu exato oposto; toda vida reflete também seu inverso. 

A diretora é a veterana atriz Valeria Bruni Tedeschi, que não está aventurando-se pela primeira vez atrás das câmeras. Nessa sua sétima incursão (entre os mais badalados, estão AtrizesA Casa de Veraneio Um Castelo na Itália), Tedeschi encontra-se não apenas em seu habitat natural, como plena de suas capacidades como realizadora. Como já dito, Jovens Amantes exala o que cada ator em cena pretende exibir, e o fazem com profunda convicção, acima de tudo, estamos diante de um grupo cheio de vigor em seus desejos. Talvez por isso, mesmo com tantas formações amorosas sendo apresentadas textualmente ao longo de sua projeção, o filme não precise defini-las graficamente, porque está na preparação intensa de seus personagens essa força sexual que obviamente deságua em algum lugar. 

Impossível não se sentir convidado para essa festa do corpo e de implicação cênica, diante de 12 jovens escolhidos pela prestigiosa ‘Les Amandiers’, companhia teatral francesa dirigida no fim dos anos 80 por um dos diretores clássicos de seu tempo, Patrice Chéreau (de A Rainha Margot). De caracterização perfeita, o filme captura não apenas a polvorosa excitação de um grupo de pessoas cujo talento era evidente, mas que viu a década ruir diante de seus excessos. Jovens Amantes é imbuído desse contexto social e compreende cada um daqueles personagens, se joga em suas inquietações e transforma a tela em palco, para conseguir traduzir cinema e teatro com suas características. Os riscos e os sonhos de um grupo fadado ao sucesso pelo seu tempo, mas com a propensão de derrota muito factível em cada nova decisão. 

Ao mesmo tempo em que somos levados a acompanhar os ensaios, as frustrações e as alegrias esfuziantes dos 20 e poucos anos, Jovens Amantes também nos convida ao outro lado de sua atmosfera. O abismo que separa os momentos de euforia nunca é dissociado desse lado escuro da psiquê humana, tão presente em artistas em formação. Com o advento da década de 1980, essas expressões são exacerbadas de forma acelerada, estão em cena o vício em drogas, a explosão da epidemia do HIV, e a união de todos esses elementos resulta em uma forma muito particular de enfrentamento. Estamos diante dos resistentes e dos resilientes que se posicionam de maneira explosiva para tais eventos, em diferentes e agudos níveis. 

O elenco de Jovens Amantes, certamente, consegue a formidável composição de conseguir espaço a todos em cena, e estamos falando de um grupo de quase vinte atores. Desde talentos frescos como Nadia Tereszkiewicz (de O Crime é Meu) e Vassili Schneider (de O Conde de Monte Cristo), ambos formidáveis, até um momento bem singular de Louis Garrell, fora de sua zona de conforto. Micha Lescot (de Tempo Suspenso) talvez seja a figura mais intrigante em cena, unindo mistério e sedução que cabe exatamente ao seu personagem, um dos professores, que gera uma paixão inexplicável em uma das alunas. São figuras bastante peculiares, que se revelam em cenas muito fortes, como a da chamada no orelhão, na chuva. 

Tedeschi exibe essa urgência no tanto de paixão que seus personagens revelam. Mesmo as tendências fatais que estão em cena, são jogadas em cena com o tanto de impetuosidade que advém da jornada dos tipos em cena, do tempo da ação, do campo de atuação de seus eventos. Jovens Amantes não deixa o espectador imune à virulência com que aqueles corpos agem, com que as lágrimas imprimem na tela, e que chegam no público com muita força. Quando percebemos, o filme nos ocupou por completo, e a ideia de imersão de um corpo de elenco em situação inicial, com suas dores e amores, alcança quem os assiste, transformando as reações do teatro em momentos de cinema. 

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