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“Férias”põe parênteses na rotina do teatro brasileiro, num exercício elegante de humor

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Ação entre amigos, com Drica Moraes a curtir o companheirismo (de cena e de quilometragens de amizade) com Enrique Diaz, “Férias” é certamente uma farra para eles e para o publico. A trama traz um casal que pausa os compromissos do dia a dia e sai num cruzeiro pelo Caribe e se mete em encrencas. É uma “Sessão da Tarde” com versão brasileira Herbert Richers, com inspirações à Steve Martin e Goldie Hawn puro, aliás, o que há de diferencial é o amadurecimento da escrita de Jô Bilac.

Em “Conselho de Classe”, Jô tomou a cena teatral de assalto ao expor inquietudes sociais à luz da vida em sociedade, no âmbito escolar. “Beije Minha Lápide” ratificou a excelência de sua caligrafia dramática ao expor as tripas que recheiam as entranhas da solidão, numa conversa com Oscar Wilde. 

O arame farpado parecia ser lugar de expressão, com verbos de fúria e com advérbios de desamparo, mas “Férias” prova que ele vai além. É o indício de que ele saber fazer crônica de costume com leveza e gargalhada.  

Há lugar para sazonais digressões metafísicas sobre parceria e sobre a arte de amar (a dois). Há ainda uma reflexão quentinha sobre limites morais. No todo, contudo, “Férias” é feriado de si mesmo praquele Jô mais combativo e reflexivo, numa curva de risco inventiva. 

Drica apronta em cena coisa que só Dercy Gonçalves fazia, em chanchadas dos anos 1950 (tipo “A Baronesa Transviada”). Salta daqui, salta dali, emplaca um palavrão acolá, mete um aforismo onde menos se espera. Tá que é a corda toda. Enrique Diaz não fica pra trás. Pula que nem pipoca e nos sai com tiradas inusitadas, nas horas mais serenas. Encarna bem a fase em que o corpo masculino é chamado de “ô, paizão” pelos novinhos. A fase do “condor”, com dor aqui, com dor ali.  

A fuzarca da dupla se azeita à plenitude sob a direção de movimento de Marcia Rubin, fulcral para que o projeto estético sugerido no texto de Bilac se efetive… e transcenda os limites da palavra. A cenografia de Dina Salem Levy (feita com a assistência de Tuca Bevenutti e Alice Cruz) facilita um bocado a fricção das estrelas com uma pista digna de tobogã no palco

Nesse espaço, sob a iluminação apolínea de Wagner Antônio, o bagulho fica doido para “H” e “M” , juntos há 25 anos, quando eles, em alto-mar, resolvem soltar o canguru perneta da jaula e provar do Kama-Sutra em experiências no balanço do mar. Flagrados por câmeras de segurança no barco onde cruzam as águas caribenhas, eles acabam expulsos, desembarcando nas areias da Colômbia, onde conhecem um casal de mochileiros, “X” e “Y” (também interpretados por Drica e Diaz) com quem passam a dividir um apartamento. Ali, o “mão naquilo, aquilo na mão”, somado a cogumelos que não teriam lugar nos games de “Super Mario Bros.”, levam “H” e “M” a repensarem seus pudores e suas limitações. Pouco a pouco, cena após cena, a gargalhada acochambra o afeto e a paixão e redefine “Férias” como RomCom (comédia romântica), daquelas que afagam as omoplatas.  

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