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A Sogra Perfeita 2 traz muitas confusões familiares, com humor

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Neide é a mulher mais comum do cenário brasileiro, e por isso mesmo está na classe que produz mais semelhantes ao seu redor. Ela é mais uma mulher com a qual o Estado não se importa, e que está consigo mesma na luta diária, é cabeleireira, de classe média, vai a pé pro próprio salão e tem poucos sonhos, alguns já realizados em A Sogra Perfeita. Agora, Neide está afastada dos dois filhos, com a possibilidade de viver uma nova história de amor (ou só um chinelo velho para seu pé pouco cansado), mas acima de tudo, Neide está em busca de crescimento profissional.

Em A Sogra Perfeita 2, Neide continua envolvida com algum tipo de matrimônio, ainda que, dessa vez, seja um ‘não’ que ela acabou de dar para esse chinelo citado – mas agora luta muito mais por si, e pelas suas. A diretora Cris D’Amato foi uma máquina em 2025. Logo no início do ano, lançou de cara dois filmes, Viva a Vida Missão Porto Seguro.

Com a estreia de A Sogra Perfeita 2, o número chega a três e está baixo, porque ela tem a meta de lançar Silvio Santos Vem Aí ainda esse ano, em um esforço sobrenatural de trabalho quase ininterrupto. O ano também marca uma clara evolução da cineasta, saindo de produtos menos ambiciosos para caminhos onde o humor não é substituído por alguma densidade, mas por um cuidado narrativo e emocional. Assim sendo, sua obra cada vez mais volumosa parece entrar finalmente em atrito com os modelos de produção, para ousar um caminho onde a obviedade não precisa drenar os propósitos qualitativos de qualquer obra. 

De cara, A Sogra Perfeita 2 entendeu o que Mônica Martelli demorou também um episódio para alcançar, e Samantha Schmutz pegou logo de cara. Em tradução, Martelli acerta com Minha Vida em Marte o que Schmutz já tinha compreendido em Tô Ryka!: o discurso feminino que coloca relacionamento físico acima da amizade não somente é antigo, como estimula a competição e, na experiência humana real, resume a troca entre os seres a ser primordialmente romântica. Dessa vez, Neide quer sim estar ao lado de alguém, mas a própria estrutura do roteiro terceiriza esse tema, enquanto a sua centralidade está na competição que ela embarca (em busca da tal emancipação profissional) e na amizade com Sheila, abalada antes que ela reveja os próprios valores. 

O que o primeiro capítulo tinha de naturalmente engraçado, essa segunda parte tem de reestruturado, e essa reestrutura não impede que a graça invada a cena, mas é por causa dela que um tanto do olhar para o filme mostre-se mais experimentado. Nasce então essa nova cara para A Sogra Perfeita 2, que é um filme que contém alguns dos elementos originais do projeto, mas antenado com um pensamento que se comunica com uma empatia coletiva. Com isso, um tanto dos personagens masculinos foi suprimido, para revelar um cotidiano onde o lastro feminino vá além do humor, sem deixar essa essência apagar. Ainda assim, reconectar essa mesma pegada com sensibilidade e comicidade própria de uma observação sem a aposta na competição, e sim na cumplicidade. 

Isso é alicerçado pelo roteiro de Flávia Guimarães e pela direção de D’Amato, que aqui recebe o auxílio de Bianca Paranhos, formando uma dupla de criadoras. Isso concede uma força de gênero a A Sogra Perfeita 2 que é impossível de ser diluída. Estão na linha de frente do jogo três mulheres que entendem que têm mais do que espaço cênico para ocupar, mas uma dobradinha deliciosa entre o humor e o afeto, um sem atrapalhar o outro, porém absolutamente invadidos. Junto à estrela maior Cacau Protásio, se coloca necessária a reedição da dupla com Evelyn Castro e a adição de uma inspiradíssima Fafy Siqueira para carregar de energia um filme do qual elas são os pilares, carregando com seus nomes e seu carisma o que de melhor a produção tem a oferecer. Marcelo Laham e Luis Miranda são o auxílio luxuoso presente em cena. 

No fim das contas, no que pese a dobradinha com Paranhos, o que salta de frente em A Sogra Perfeita 2 é esse novo momento de uma diretora que não perdeu seu instinto cáustico de humor, mas entendeu que um modelo superior é essa busca pelo equilíbrio. Seus filmes, que sempre tiveram uma resposta do público evidente, encaminham seu olhar, a partir desse ano, para um espaçamento menos óbvio, com uma entrega menos explícita do ponto de vista esperado. É significativo esse novo tempo, que embora ainda não esteja lapidado, aponta para um futuro que pode sim criar uma nova perspectiva no material final que ela entrega, e esse novo encontro mais carinhoso com Neide parece um tubo de ensaio para o amanhã. 

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