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 Downton Abbey: O Grande Final encerra franquia em clima de despedida

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Até 24 horas antes da sessão de Downton Abbey: O Grande Final, eu não fazia ideia de quem eram Lady Hexham, Lady Mary, o mordomo Carson e tantos outros tipos que fizeram a alegria de milhares de fãs entre 2010 e 2015. Não é preciso apresentação ao leitor, mas quem vos escreve sim precisava compreender e ser apresentado ao universo de Downton Abbey, a série, mergulhando em um ‘intensivão’ com os longas anteriores horas antes de conferir o novo. O resultado, para um novato recém chegado à família, é que a produção recente é a mais bem acabada e redonda das incursões cinematográficas, e a que mais tocará o fã, afinal, trata-se de uma anunciada despedida e o clima no filme é de último encontro, com arcos se fechando e uma sensação de encerramento bem costurado. 

Enquanto o primeiro filme tinha uma espécie de reencontro com os personagens, e uma tentativa de azeitar a narrativa com a preparação de um crime que não chega a se concretizar, o segundo diz respeito apenas ao elenco, já que seu roteiro é muito raso e a montagem tentou dar uma dinâmica que aquele universo não permite. Ainda assim, o elemento artístico que coletivamente é dado a Uma Nova Era é aproveitado em O Grande Final para que metáforas sobre a relação com a arte e o cinema, o saudosismo e a iminência do futuro, sejam utilizadas sem impressões vazias. Os diálogos inspirados de Julian Fellowes (vencedor de um merecido Oscar pelo roteiro de Assassinato em Gosford Park, o embrião de Downton Abbey) abordam todas as questões impregnadas nessa discussão ampla acerca do passado e do futuro. 

Como era de se esperar, Downton Abbey: O Grande Final representa, dentro do seu universo, uma espécie de passagem de bastão coletiva, que a obra original tinha em seu arco. É normal então que seja anunciado o momento de uma nova geração assumir novas posições, tanto nos andares subterrâneos da imensa residência, quanto em seus donos/administradores. Com isso, a produção naturalmente flerta com o avanço de novas ideias dentro do que é mostrado, que servem como ponte de análise com o novo saudosismo no cinema – que, como sempre falo, é um mote que Hollywood não larga há décadas, embora esteja com força redobrada hoje. Isso é uma espécie da mais fina ironia para Fellowes, que trata exatamente do que esse elemento deve desapegar dos indivíduos, quando é chegado o momento de seguir em frente, em novas direções. 

Simon Curtis, o responsável por essa direção e pelo filme anterior, não mexe em time que está ganhando, e nem é do seu feitio que o trabalho tenha algum toque autoral. Downton Abbey: O Grande Final segue os padrões já estabelecidos pela série em tecer uma maior conexão emocional entre seus personagens, o que por eles é dito e na forma como tais elementos são erguidos naquela estrutura social prestes a passar por ressignificação. Por esse sentido, existem tantas tessituras para redefinir lugares pré-arranjados por sua redoma de origem, e a manutenção das vigas que seguram esse arranjo. Não à toa, sua protagonista Lady Mary aqui está em situação de flagrante mudança de status, em um momento de mudança dos novos códigos em vigor, e que podem aglutinar ainda mais camadas que, em outro momento, foram mais bem definidas. 

Dessa forma, toda a qualidade da produção é erguida em torno da união de dois pilares: o texto e a criação como um todo do universo de Fellowes, e claro, a absoluta competência de todo aquele elenco. A essa altura, não há mais o que ser criado de novas procedências entre os atores, então é uma imensa (e deliciosa) reiteração acerca do que já conhecemos. Essa naturalidade com que cada mínima relação ali foi construída, em Downton Abbey: O Grande Final acaba por funcionar como esse prolongado adeus, em que também é inserido um elemento mais grave acerca da troca das mãos do dinheiro. Mas o roteiro propriamente falando não está mais interessado em provar nada novo, levando em consideração que mesmo os pequenos toques que poderiam inserir alguma nova curva dramática, soam tímidos diante da vontade do filme em mostrar mais um pedaço daquele cotidiano. 

Como se fora um olhar para a diária troca de guarda do Palácio Real Britânico, as evoluções de Downton Abbey: O Grande Final são pouco perceptíveis. Mas aqui existe uma costura coletiva que não impede os indivíduos de mostrarem suas nuances de questionamentos; todos os personagens estão em cena, e mostram a que vieram. Também o quebra-cabeça que é montado aqui, se não completa a contento o quadro, ao menos mostram o que a gravura queria dizer com exatidão. Com a excelência já empregada há 15 anos, os personagens enfim saem de cena, mas com esse recado final dado, da continuidade e da passagem contínua de bastão entre o passado e o futuro, mostrando que não há sentido de existência se essa comunicação não for afinada a contento. 

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