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Ganhador do Urso de Ouro, Nicolas Philibert fala sobre a força poética da palavra

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Tem um projeto novo do francês Nicolas Philibert já em gestação, mas ele não fala de projetos em curso, até pelo tanto de história que ele tem para contar sobre as produções que integram a retrospectiva de sua carreira, a começar nesta terça-feira na Caixa Cultural. “No Adamant” (“Sur L’Adamant”), que rendeu a ele o Urso de Ouro na Berlinale de 2023, é o título de abertura da mostra, sob a curadoria de Jeanne Dosse e Tatiana Devos Gentile.  

“Amor, amizade, beleza… tudo isso faz parte da arte e faz com que ela nos eleve”, afirmou o documentarista de 74 anos em sua chegada ao Rio, num papo com o Rota Cult, antecipando a discussão que vai travar com a cinefilia carioca no espaço exibidor do Centro, no abre-alas da programação, às 17h, deste 9 de setembro.

No ano passado, ele voltou ao Festival de Berlim “Averroès & Rosa Parks” (agendado pela Caixa na quarta, às 17h10) e, na sequência, zarpou para Cannes, para presidir o júri da competição pelo troféu L’Oeil d’Or, a Palma da não ficção. Nascido em Nancy, há sete décadas, o realizador fez fama com experimentos pautados pela inclusão, como “O País dos Surdos” (1992), a ser exibido no Rio no domingo, às 14h. Nos últimos anos, a Psiquiatria virou um dos objetos de estudo de Philibert, interessado numa prática de tratamento calcada mais em técnicas de escuta e menos apoiada em ansiolíticos.  “O indivíduo é mais do que seu sintoma”, disse ao Rota. 

Conhecido em nosso circuito exibidor por “Ser e Ter” (2002), Philibert passou ao posto de diretor em 1979, ao lançar “A Voz de Seu Mestre”, ouvindo executivos em posição de chefia em grandes empresas. Na entrevista a seguir, ele explica o que existe de político em ouvir (e em registrar) a voz do outro. 

Seu cinema faz da palavra um organismo vivo, elegendo-a como sua matéria poética. Mas onde fica o silêncio na sua forma de documentar pessoas? 
Nicolas Philibert – 
Filmar palavras é filmar gente e ver como os corpos ocupam espaços, com seus gestos, com suas pausas. A pontuação que existe na fala inclui os parênteses e inclui as hesitações. Elas também são eloquentes. 

Falando em palavras, de que maneira os filmes que o senhor faz – incluindo “No Adamant”, que lhe rendeu o Urso de Ouro de Berlim, em 2023 – alargam o sentido do termo “empatia”?
Nicolas Philibert – 
Os últimos longas que eu fiz abordam o universo da Psiquiatria a partir de um universo de pessoas que estão no limite da tolerância, mas que jamais podem ser reduzidas a um clichê. São pessoas que nos levam a refletir sobre quem somos. Por essa singularidade, eu não posso ter um método prévio, pois cada pessoa é uma pessoa. Com algumas, de extrema inteligência, eu criei uma amizade, o que não foi algo determinado, até pelo fato de a mise-en-scène em si ser algo que me distancie dos personagens. Nessa distância, mediada pela câmera nasce o meu olhar e dele vem a minha subjetividade.    

Que lugar exista para o documentário hoje na França?
Nicolas Philibert: 
Ao longo das últimas duas décadas, a cada semana estreiam de 15 a 18 filmes inéditos na França, dos quais pelo menos três são documentários. É um sinal de vitalidade. Os investimentos ainda são precários, mas um cineasta com a minha trajetória consegue levantar seus projetos.  

Qual foi a lição mais preciosa que o cinema lhe deu?
Nicolas Philibert – 
A certeza de que eu faço filmes para dar respostas, mas, sim, para aprender.

Esse aprendizado mudou como com a tecnologia digital, com as câmeras de celular?
Nicolas Philibert
– Filmes são demarcados e mediados pelo afeto daqueles que os fazem e a tecnologia não mudou as minhas recordações ou as minhas vivências do passado. O digital me permite filmar mais do que a película, porque um filme analógico custava caro. O suporte mudou, mas a minha abordagem segue fiel ao que eu era, até pelo fato de eu nunca ter sido o tipo de diretor que filma muito para extrair o que será ideal. Eu busco relações. Na França em que eu trabalho, o que me interessa são as pessoas que resistem.  

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