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O Rei da Feira: Leandro Hassum protagoniza novo filme de Felipe Joffily

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Como anunciado, nada é o que parece em O Rei da Feira. E não estou falando exatamente da costura narrativa, ou os eventos que cercam o filme. Essa afirmação tem a ver com o que se imagina da produção, uma comédia estrelada por Leandro Hassum. Com essa informação, é criada uma base de argumento que se imagina contemplar o conceito acima, como um molde perfeito. O que o espectador percebe rapidamente é que não está diante de mais um título de encomenda, um produto de linha de fábrica vazio, ou repetitivo dentro do que fomos condicionados a encontrar. Em seu lugar, uma espécie de dispositivo de suspense que no cenário estadunidense é chamado de ‘whodunit’, e que nada mais é do que uma história de mistério, com um enredo geralmente ligado a uma descoberta, algo como um ‘quem matou?’. 

É exatamente nessa tradução que o filme se encontra, já que o melhor amigo do protagonista é encontrado morto logo na primeira cena do filme, que retrocede para antes desse momento, a fim de começar a proporcionar o quebra-cabeça para o público. Monarca é um policial detetive encarregado da investigação da morte do melhor amigo, e sendo ele criado nos arredores da feira onde a vítima Bode trabalhava, toda a ação ocorrerá ali naquele espaço, resumindo de maneira sagaz seu espaço cênico. O Rei da Feira também não se assemelha a outros filmes do ator, que tem uma estrutura de comédia mais ligeira e menos elaborada em seu campo estético. 

O diretor Felipe Joffily estreou nos cinemas com o que continua sendo, 20 anos após sua estreia, seu melhor filme, o tenso Ódiquê?. Desde então, ele emenda comédias comerciais, algumas de muito sucesso, como Muita Calma nessa Hora E aí, Comeu?, e alguns títulos curiosos, como Fervo. Nessa sua terceira parceria com Hassum (os anteriores são os bem sucedidos Os Caras de Pau Família, Pero no Mucho, também de 2025), a afinação entre ambos produz o que deve ser o mais apurado título de Joffily desde sua estreia. O tempero produzido em O Rei da Feira provoca uma fruição diferenciada não apenas dentro de sua filmografia, mas dentro da seara da comédia nacional contemporânea. 

A montagem do premiado Marcelo Moraes (de Meu Nome Não é Johnny Salve Geral) causa uma certa estranheza inicial dado o ritmo vertiginoso na forma como é contada a história, mas quando o espectador consegue mergulhar naquele modo de narrar, a narrativa flui. É um olhar radical para um gênero que tende a escolher um lugar comum de estrutura, e que aqui sai da zona de conforto para reconfigurar o jogo do roteiro. Escrito por Gustavo Calenzani, O Rei da Feira só não é melhor pelo apreço fora do comum com que o filme tem da construção dramática adquirida nele e que engessa as relações entre os personagens, seus diálogos e a própria forma que delimita as ações. Joffilly e Moraes melhoram o material como um todo. 

Assim como essa estranheza positiva dentro do quadro de gênero é cooptado por um elenco quase surrealista. Hassum está bem, mas ele encontrou para estar ao seu lado um grupo que, de tão heterogêneo, essa aparente falta de organicidade só complementa o quadro completo. Renata Castro Barbosa, por exemplo, é um dos casos onde não conseguimos entender porque o universo não foi melhor para ela, transformando-a em uma estrela desde sempre; já Talita Younan é uma daquelas ondas perfeitas que vemos se formando muito aos poucos, uma explosão de energia – ambas estão perfeitas. Everaldo Pontes é um mestre do nosso cinema, e Renata Gaspar é uma das melhores atrizes surgidas nos últimos anos. Vinicius Moreno é um achado, daqueles astros da próxima geração que teremos prazer real em acompanhar. Queríamos ver mais de Luana Martau e Márcio Vito, no entanto.

A cereja do bolo atende pelo nome de Pedro Wagner, o parceiro de Hassum em cena; grande ator visto em obras como CarvãoLispectorante e a série Cangaço Novo, sua presença é uma surpresa porque o ator é uma daquelas presenças mais ligadas ao cinema de autor. Ele oxigena o filme e a própria carreira aqui. Sua dobradinha protagonista com o astro de Até que a Sorte nos Separe carrega a malandragem do filme para um lugar especial, quando o filme precisa transformar essa relação em algo menos físico, e mais emocional. Através de uma fineza de intenções, nos vemos enfim envolvidos por uma daquelas amizades da vida toda, que precisa então encontrar um ponto final por força das circunstâncias… ou não. 

Como deveriam ter imaginado, os envolvidos com O Rei da Feira precisaram se preparar para reações controversas ao resultado, e que o filme derrapasse em meio a tentativas genuínas de evolução do lugar da comédia. De fato não é um filme que sustente tantas invenções de linguagem, mas é absolutamente compreensivo que isso aconteça, além de ser uma tentativa muito válida de empenhar um olhar mais arriscado dentro de uma fórmula já testada. A bravura de avançar um terreno cujas minas foram colocadas pelos próprios responsáveis é um ato que necessita de um aplauso verdadeiro, ainda que os resultados saiam erráticos. É o preço a se pagar pela ousadia, uma dessas que precisa abrir os caminhos para o novo. 

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