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Teenage Funclub faz festa indie no Circo Voador com simpatia e simplicidade

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Sem firula nem entrada pomposa (como algum trecho de ópera como trilha sonora), o Teenage Funclub adentrou o palco do Circo Voador. O riff de guitarra seguido de um cantarolar melódico – maneirismos facilmente reconhecíveis da banda escocesa – poderia até ser confundido com alguma faixa dos álbuns dos anos 1990, mas pertence ao recente “Nothing Lasts Forever”, de 2023.

Mesmo sem ser muito conhecida da maioria dos presentes, causou euforia na pista, afinal de contas, são 14 anos sem pisar em terras cariocas. Tempo suficiente para o público que compareceu ao show de 2011, sob a mesma lona da Lapa carioca deixar distante a alcunha de “teenage”. O hiato foi compensado com muita simpatia durante todo o show, que não deu espaço para muito papo. Apenas um afável “obrigado” aqui e ali, devidamente anotados em uma colinha posicionada no tablado. Nâo tardou para que se iniciasse o primeiro coro em uníssono da noite, com About You, clássico que abre o excelente Grand Prix, de 1995. Um Circo Voador não totalmente lotado (a parte superior tinha bastante espaço), mas com gente suficiente para fazer tremer a estrutura com cheiro de nova pós-reforma.

Foto: Cesar Monteiro

Aliás, do Teenage original estão Norman Blake, no vocal e guitarra, eventualmente arrancando solos desconcertantes, Raymond McGinley também na guitarra e no segundo vocal, às vezes assumindo o principal, além de Francis Macdonald (bateria), que esteve na fase inicial, em 1989, mas logo deixou a banda, retornando em 2000. Eles são acompanhados por Dave McGowan (baixo, substituindo Gerard Love desde 2019) e Euros Childs (teclado).

Ao fim de uma música e o início de outra eles se entreolham, Blake arranha a introdução, às vezes precisando retomar o início, em um despojamento típico do indie rock garageiro. A sonoridade do TF pode ser rotulada como redundante para os mais ranzinzas, dado o fato de as músicas obedecerem rigorosamente ao modelo estabelecido há mais de três décadas. A faixa-título do álbum de 2021, “Endless Arcade”, assim como a primeira música do show, poderia estar perdida no meio de Thirteen de 1993, por exemplo. Mas não há como negar que, olhando em retrospecto, na usina sonora um pouco menos distorcida e soturna que a de seus conterrâneos predecessores do Jesus & Mary Chain as evoluções melódicas não negam e atestam que a música envelhece muito bem. E, certamente, podemos dizer que é exatamente sobre isso a atual fase do Teenage Funclub: envelhecer bem, mesmo sem se preocupar com relevância de outrora, quando chegaram a ter seu álbum de estreia, “Bandwagonesque”, de 1991, eleitos pela revista Spin o melhor disco daquele ano, que teve o lançamento do “Nevermind”, do Nirvana. Aliás, o próprio Kurt Cobain classificou os escoceses como a melhor banda do mundo.

Curiosamente, o repertório, de um modo geral bom, não contemplou tantos sucessos como no show de 2011. Na ocasião, Bandwagonesque, que completava 20 anos, e Grand Prix tomavam a maior parte do repertório. Já em 2025, o setlist foi mais distributivo, dando chance à toda a discografia, ainda que faixas fundamentais como “Sparky’s Dream”, “Don’t Look Back” e “Star Sign” tenham sido deixadas de lado, em prol de outras menos conhecidas, frustrando boa parte do público. Mas para o indie de carteirinha carimbada na Matriz (alguns ali até na Bunker) é impossível não se contagiar com o entusiasmo dos tiozões alternativos, Blake se esbaldando em solos, e até trocando a guitarra pelo baixo em 120 mins, e McGinley abusando dos efeitos e eventualmente assumindo os vocais, como em Bad World. “Depois dessa, preciso de uma cerveja”, disse Blake, bem-humorado, tomando um gole de latão após a plena comunhão com a plateia em Neil Jung.

Depois de “The World’ll Be OK”, o vocalista e guitarrista anunciou o fim da apresentação, gerando uma reação imediata da plateia. A clássica “The Concept” fechou, na verdade, o tempo regulamentar. A banda ainda voltaria para o bis. No entanto, a expectativa de um set enfileirando as canções mais pop que faltavam foi quebrada. A abertura com “Mellow Doubt” até alimentou esperanças, mas na sequência vieram “Back In The Day” e “Falling Into The Sun”, dos discos de 2023 e 2021 respectivamente. Por fim, a saideira ficou por conta do primeiro single dos rapazes, “Everything Flows”, de 1990.

Com zero estrelismo, o Teenage Funclub saiu de cena com a mesma simplicidade da entrada, ainda assinando alguns discos de vinil de quem estava no gargarejo. Mesmo não sendo a chuva de hits que muitos esperavam, não deixou de ser a demonstração de grandeza da banda que há 35 anos se tornou presença obrigatória em qualquer rádio e festa college pelo mundo, deixou sua marca, mas segue discreta em sua longevidade. O segredo parece mesmo o gosto pela diversão. Após o show, atenderam fãs, autografando pôsteres, vinis e CDs no cercadinho que separa o backstage, como se estivessem recebendo amigos em uma festa.

 Confira o Setlist:
Tired of Being Alone 
About You 
Endless Arcade 
The Cabbage 
Alcoholiday 
I Don’t Want Control of You 
Everything Is Falling Apart 
120 Mins
It’s All in My Mind 
Metal Baby 
It’s a Bad World 
What You Do to Me 
Come With Me 
Neil Jung 
Middle of My Mind 
I’m in Love 
The World’ll Be OK 
The Concept 
Bis:
Mellow Doubt 
Back in the Day 
Falling into the Sun 
Everything Flows 

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