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GOAT: Jordan Peele critica o machismo em novo filme

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A expressão ‘GOAT’ foi cunhada pelo futebol americano, e é uma sigla para ‘greatest of all time’, ou ‘o maior de todos os tempos’. A palavra ‘goat’ é traduzida como bode para o português, e isso justifica o fato de que muitos fã-clubes de jogadores do esporte se caracterizarem como os animais em seus mais diferentes formatos e tamanhos. Batizado no Brasil GOAT, o novo suspense com toques de horror foi produzido por Jordan Peele (de Corra! Nós) e estreia no país hoje, mostrando como a expressão que vazou dos estádios e acaba sendo cada vez mais associada a astros de quaisquer outros esportes, ou música, e até do cinema – depende do grupo de fãs. Essa introdução é necessária para apresentar o estranhíssimo filme, que se arrisca ao máximo no que se propõe, com resultados que precisam ser avaliados com cuidado. 

No original em inglês, ‘him’ – em tradução, ‘ele’ – mostra mais do que um imaginado público interessado na produção, mas a que tipo de personagem o filme quer provocar, e/ou atingir. Um ‘clube do Bolinha’ que de engraçado não tem nada, e provoca mais do que desagravo a suas atitudes e posicionamento, o ambiente majoritariamente masculino cria pontes esperadas com a toxicidade e a (auto) destruição em frequência cada vez mais amplificada, em tempos de polarização. GOAT é como olhar pelo buraco da fechadura de um banheiro para homens cis (papel que, ao contrário, já foi proposto por muitos filmes) e encontrar ainda mais alarmes do que poderíamos supor. Porque o machismo e a violência inerentes ao gênero provocam horror contra quem não faz parte dessa seara, mas ainda mais a quem mergulha com vontade em tais “práticas” de comportamento abusivo.

Tudo o que é do feminino na tela, é transposto por algum estereótipo – proposital ou não. A mãe abnegada que deseja o melhor para o seu filho e a namorada cuja relação transcende a fama são dois clichês colocados sem alarde; já a figura hiper sexualizada que tenta seduzir o protagonista a todo custo tem tintas berrantes. Essas são, afinal, as tintas escolhidas para pintar GOAT, que trata seu universo com o tom mais farsesco e feérico possível, em uma lógica estridente que creio estar criticando tudo o que vemos. A passos largos, o filme se joga em uma fonte de exageros estéticos que contribuem para montar um painel muito debochado do que vemos: homens com inúmeras fontes de problemas, descontando na histeria suas ausências e frustrações. 

Ainda que boa parte do que vemos esteja metaforizado pelos ideais do patriarcado e outro tanto das imagens insiram olhares para o universo esportivo de competição dentro e fora de quadras, GOAT não tem qualquer pretensão de sutileza. O esforço em mostrar-se como uma crítica desse ambiente, incluindo sequências que parecem ter sido produzidas por marcas de energéticos, ou tênis e roupas atléticas sempre deformando o quadro real (deixado de lado a cada nova sequência) não blinda a produção de alguma cafonice estética – como, aliás, é tanto do material de marketing de marcas ligadas a esportes. Mas também esse mesmo exagero se torna palco para sequências de muita aflição e efetivas dentro do cinema de gênero como o treino de arremesso de bola, tão apavorante e aflitiva que parece ter sido editada no que poderia ter de pior. 

No elenco, o muito jovem Tyriq Withers encarna o personagem central de um filme que é constantemente roubado por um Marlon Wayans indomável. Grande ator que nunca se limitou a comédia, ao drama ou a ação, o astro de Todo Mundo em Pânico As Branquelas nunca escondeu o talento que também estava em Air ou Réquiem para um Sonho. Aqui, ele interpreta o ídolo de um jovem astro do futebol americano que, no pensamento de aposentadoria, acaba escolhendo seu fã como um provável sucessor, e isso se transforma em uma espécie de Whiplash cada vez mais anabolizado, sem perder sua porção provocativa. O resultado não irá agradar a todos, e mesmo entre os admiradores, haverá quem questione os métodos pouco tradicionais (e às vezes até cansativo) da produção. 

Justin Tipping, seu diretor e roteirista, é igualmente jovem e destemido, como o filme, mas que talvez precise de rédeas para um próximo empreendimento. Peele o deu liberdade irrestrita para criar um festival de imagens hiper saturadas com sabor de propaganda, que são ao mesmo tempo uma piada irresistível e um problema claro. Com um desfecho de teor e captura de imagens bastante parecido com o de um dos mais celebrados filmes do gênero da temporada passada, GOAT é uma experiência que não parece preocupada em agradar frontalmente seu espectador. Diferente de uma excrescência como Wake Up Tomorrow, aqui a linguagem publicitária escarnece de si mesmo, mas sempre corremos o risco da compreensão não alcançar o alvo pretendido. 

A única coisa que sai ilesa da inocência, aqui, é o Homem, enquanto figura de poder e mantenedor de valores universais. Seu porte decisório diante de grandes ameaças, sua vontade de encontrar saídas para todos os problemas, sua imagem de líder absoluto das verdades humanas, que já não passa pelo melhor cenário atual, é sistematicamente destituído de qualquer seriedade, ao longo da projeção. Um filme de terror debochado, ou uma comédia regada a sangue? Seja como for, GOAT não deseja o conforto; como seus personagens, o confronto é a única arma. Rir delas ou não, caberá a cada indivíduo… mas que é possível, é. 

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