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Paulo Antonio Paranaguá lança “História da América Latina em 100 fotografias”

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A América Latina sempre viveu sob contrastes: da violência herdada da colonização às sucessivas revoluções e intervenções estrangeiras; da exploração brutal da escravidão à diversidade incomparável de povos, culturas e paisagens. Em História da América Latina em 100 fotos”, o jornalista e historiador Paulo Antonio Paranaguá percorre séculos de história para compor um retrato iconográfico inédito e surpreendente do continente.

As imagens reunidas no livro captam momentos de transformação social, política e cultural — das independências no século 19 às grandes revoluções do século 20, passando pelo populismo nacionalista e pelos movimentos de libertação pela democracia.

Para Paulo Antonio Paranaguá, a trajetória da América Latina só pode ser compreendida como uma história conectada, marcada por laços permanentes com a Europa e os Estados Unidos, pela relação forçada com a África e até por um intercâmbio pouco conhecido com a Ásia desde o período colonial. “É fundamental pensar a América Latina em termos de história comparada e global, em diálogo constante com outras regiões do mundo”, ressalta.

A obra ilumina os bastidores da fotografia na América Latina. Com registros fotográficos de nomes consagrados como Evandro Teixeira, Marlene Bergamo, Lola Alvarez Bravo, Pierre Verger, Agnès Varda e José Medeiros, o livro mostra como o olhar fotográfico acompanhou o continente em ebulição, as populações marginalizadas e a vida cotidiana de um território em constante reinvenção.

Mais do que um registro histórico, Paranaguá propõe uma leitura crítica da fotografia e de seus usos, do eurocentrismo da etnografia colonial às criações que celebram a diversidade latino-americana e caribenha. 

A fotografia registrou as grandes descobertas arqueológicas feitas na virada do século 19 para o 20. No México e no Peru, o passado majestoso dos povos originários foi um aspecto fundamental da construção da identidade nacional, trazendo à tona esculturas monumentais, altares, túmulos, mosaicos, pirâmides magníficas e ruínas de cidades perdidas, como Machu Picchu, nos Andes.

A escravização foi um dos fenômenos mais cruéis e emblemáticos da história da América Latina. Estima-se que 12,5 milhões de pessoas oriundas da África foram traficadas para as Américas e o Caribe, sendo decisivas para a ocupação do vasto território. As imagens que retratam a relação entre os escravizados e seus “senhores” se torna mais relevante pelo que busca ocultar. É o caso do retrato anônimo de uma jovem baiana, posando em sua liteira com dois escravizados trajados à moda da época, que chama atenção pela domesticidade forçada.    

O século 19 latinoamericano e caribenho assistiu à fragmentação dos impérios coloniais por meio de sucessivas independências nacionais. Essa emancipação não foi acompanhada por um novo pacto social, apesar da abolição da escravatura. A liberação dos escravizados foi um processo caótico e demorado, que vai da Revolução no Haiti em 1793 à Lei Áurea assinada no Brasil no dia 13 de maio de 1888.

O século 20 foi marcado por revoluções: a Revolução Mexicana (1910), a Revolução Guatemalteca (1944), a Revolução Boliviana (1952), a Revolução Cubana (1959) e a Revolução Sandinista na Nicarágua (1979). As erupções sociais provocaram intensa  transformação social. Foi também o século de ascensão do populismo nacionalista, que ditaria os rumos políticos no Brasil, na Argentina e no Equador. 

O aperfeiçoamento técnico e estético da fotografia, bem como a difusão das imagens, favoreceu o surgimento de ícones fotográficos. A Revolução Mexicana ficou imortalizada no retrato de Pancho Villa e Emiliano Zapata sentados nas elegantes poltronas do palácio presidencial. O célebre retrato de Ernesto Che Guevara multiplicado em cartazes e camisetas mundo afora foi uma elaboração tardia e consciente. Evita Perón é um ícone reproduzido infinitas vezes, discursando atrás do microfone ou erguendo os braços para saudar os simpatizantes. 

Além disso, obra também traz imagens marcantes da profunda transformação do continente — da construção do Canal do Panamá, passando pelas insurgências operárias ocorridas em diversos países, o intenso fluxo migratório vindo da Europa, os ciclos econômicos, a ebulição de expressões artísticas que visavam a consolidação da identidade nacional, aos inúmeros golpes de Estado que marcaram a América Latina, como as ditaduras militares do Brasil, Chile e Argentina.

Dilemas contemporâneos, como a violência urbana disseminada e o poder paralelo dos quartéis de droga, também ganham destaque na seleta de imagens, assim como a resistência das manifestações das religiosidades afro-americanas e as constantes investidas dos Estados Unidos em seu autodeclarado “quintal”.

A história recente também ganha espaço, com destaque para o surgimento de novas pautas, como a luta dos movimentos feministas, LGBT+ e o abalo da fé católica dominante diante do avanço das correntes pentecostalistas. Na seara política, a obra coloca a lupa em lideranças políticas influentes no continente, como Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez. 

O resultado é um panorama visual amplo e crítico, em que o familiar e o inesperado convivem lado a lado. Uma viagem que convida o leitor a repensar a América Latina pelas lentes da fotografia.

Rota Cult
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Redação do site E-mail: contato@rotacult.com.br

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