- Publicidade -

#SalveRosa: Karine Telles e Klara Castanho abordam adultização nas redes sociais

Publicado em:

O momento oportuno para lançar um filme brasileiro nos cinemas não costuma ter uma resposta fácil. Diante de um campo cada vez mais competitivo no circuito nacional, muitas vezes uma produção com imensas possibilidades de engajamento de público, que responderia a isso com um sucesso, é uma matemática dominada por poucos. Pois #SalveRosa é um caso raro onde tudo parece dar certo, depois da tripla premiação no Festival do Rio (melhor filme pelo júri popular, melhor figurino e melhor atriz, para Klara Castanho) e da presença maciça – e imprescindível – do youtuber Felca Vs. debates recentes acerca da cada vez mais precoce adultização nas redes sociais. Foi formado então essa condição perfeita para um lançamento, de um raro thriller de suspense com ares de ‘true crime’. 

Susanna Lira é uma de nossas mais prolíficas realizadoras, tendo em seu currículo filmes como Torre das Donzelas e Fernanda Young: Foge-me ao Controle. Sua presença na ficção é menos frequente, e não é de se admirar que sua porção aqui acabe recheada dessa experimentação de sucesso do momento, como uma apropriação dos códigos que os documentários sobre crimes reais tem utilizado. Mas restam poucos olhares sutis em #SalveRosa, quando desde os primeiros cinco minutos de filme a trilha sonora bem característica do suspense não nos deixa acreditar que a vida de comercial de margarina de Rosa e sua mãe Dora carrega alguma verdade. É um caminho que não permite uma conversa sobre outras opções, porque o discurso foi entregue rápido demais. 

Estamos falando de um tema que, na vida real, não permite sutilezas mesmo, sob o risco de perdermos a conversa sobre o avanço da internet na educação de jovens e crianças, indiretamente. Diariamente, milhares de adolescentes sonham com o lugar que Rosa já alcançou, o de subcelebridade monetizada das redes sociais. E por conta disso, o espaço aberto para todo o tipo de assédio é aberto muitas vezes com o consentimento dos próprios pais, chegando aos extremos de exploração dentro de casa. O doentio dessa relação simbiótica entre mãe e filha reflete apenas uma partícula dos eventos do mundo real, e #SalveRosa tem a preocupação de lidar com seriedade a respeito do seu tratamento, quase de maneira didática até. 

Todo esse relaxamento no tratamento da realização deixa claro que as intenções do projeto eram as melhores, principalmente da parte de Lira, mas que isso não era o suficiente para a condução de um cinema de gênero. Quando você entrega todo seu arsenal já na primeira curva, o que resta para acrescentar camada ao projeto? Ainda que narrativamente não se segue a relevância de #SalveRosa, no que diz respeito à transposição dessa temática para os códigos do suspense, o filme abertamente retira todas as matizes do seu universo logo de cara, restando ao espectador não ter dúvidas de seu plot logo todos os elementos sejam revelados. 

Quem melhor entende a proposta que o filme desenhou é Karine Teles. Ainda que Castanho tenha sido a premiada, muito provavelmente uma espécie de incentivo à seu novo momento de carreira e à construção que empreende ao interpretar alguém 10 anos mais nova, é Teles quem laça um touro em cena aberta. Ela compreende que #SalveRosa ia descarrilar na direção do artifício desde o início, tanto que sua composição vai saltando espaços na nossa frente, tornando-se cada vez mais absurda. Atriz de ilimitados recursos, talvez seja aqui que sua persona assuma um tom mais caricatural sem jamais perder um fio de humanidade. É muito inteligente que ela abrace os exageros sem restrições, pulando num abismo sem rede de proteção, e saindo do filme ainda mais reafirmada em suas potencialidades. 

Não é difícil perceber o que levou #SalveRosa a ganhar um prêmio de melhor filme por júri popular, e isso não é apenas uma leitura sobre o estado das coisas, tão deflagrado em jornais e revistas. O filme é uma jogada para a absorção de gêneros que o cinema brasileiro ainda não aprimorou, mas que tem um interesse popular evidente. Não deixa de ser muito excitante assistir a um filme pulsante como esse, mas esse trilho operístico que o andamento da produção ganha, em comparação com a dramaturgia derramada do mesmo espaço. Mas não é por essa emoção barata que deixaremos de levantar os passos em falso desse raro empreendimento. E que não nos falte Karine Teles barbarizando em boates e tornando sua encarnação contemporânea de Mamãezinha Querida um trunfo indispensável para um filme que vence a batalha da narrativa, mas não a guerra da realização. 

Mais Notícias

Nossas Redes

2,459FansGostar
216SeguidoresSeguir
125InscritosInscrever
4.310 Seguidores
Seguir
- Publicidade -