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Avatar: Fogo e Cinzas arde nossa paciência nas chamas do tédio

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Quem viveu os anos 1980 e sobretudo 1990 in loco testemunhou, em tela grande, o tempo em que James Cameron foi artista. O homem previu o porvir da IA cm “Exterminador do Futuro” (1984). Hoje, ele é um dínamo da tecnologia, com expertise alta em efeitos visuais, e é um ecologista ferrenho, em especial apreço pelos oceanos. Tem esplendor tecnológico da mais fina grandeza em “Avatar: Fogo e Cinzas” e tem educação ambiental aos montes. Já arte… aquela que se escreve com A maiúsculo… ousada… Aí… 

Indicado ao Globo de Ouro de Melhor Canção (“Dream As One”, de Miley Cyrus) e de Melhor Blockbuster, Avatar: Fogo e Cinzas tem um glacê cheio de pompa, que impressiona, a ponto de refinar o legado técnico do filme original – uma espécie de Dança Com Lobos nas estrelas. Já o recheio desse novo tomo da franquia – que promete nos aporrinhar até 2031 – é insípido.  

Em linhas gerais: a) nenhum personagem é explorado de forma aprofundada; b) todas as sequências de ação minimamente tensas são decalques do que se viu no “Avatar” original, com o agravante de que elas são repetidas, exaustivamente, pelo menos umas 40 vezes ao longo de três horas e quinze minutos que parecem durar 365 dias; e c) dói, e muito, ver a apropriação cultural de ritos e tradições das civilizações indígenas da Terra nos Na’Vi, o povo do espaço.  

Aliás, é possível que, nestes tempos de falência do filão super-herói, Avatar: Fogo e Cinzas lote tal qual seus antecessores, pois a experiência sinestésica de adentrar a Lua de Pandora causa, em seus primeiros 25 minutos, um impacto. O uso do 3D amplia uma experiência que, estruturada sobre uma trama sem sustância, não demora a esvanecer e nos entediar. 

Esse épico tem a promessa de repetir os feitos de seus antecessores. O primeiro, lançado em 2009, custou US$ 237 milhões e faturou US$ 2,9 bilhões, disparando como a maior bilheteria mundial da História. Some a seu rol de vitórias 89 prêmios, entre os quais o Oscar de Melhor Fotografia, o de Melhor Direção de Arte e o de Efeitos Visuais. 

Sua continuação, o já sofrível Avatar: O Caminho da Água, lançado em 2022, faturou US$ 2,3 bilhões. É a terceira maior receita cinematográfica de todos os tempos, atrás só do original e de “Vingadores: Ultimato” (2019). 

A Parte Três que nos chega em 2025 explora a Lua de Pandora e seu povo, a civilização Na’vi, a partir do que se passou 12 meses depois do longa anterior, trazendo de volta (dos mortos) o militar assassino Quaritch (Stephen Lang), a fim de eliminar a família Sully, formada pelo ex-humano (sim, ele troca seu corpo terráqueo para virar um na’vi) Jake (Sam Worthington), sua companheira, Neytiri (Zoe Saldana), e seus filhos.

Um ano após se estabelecerem com o Clã Metkayina, a família de Jake e Neytiri lida com o luto após a morte de Neteyam (Jeremy Irvin). Eventualmente, eles encontram uma nova e agressiva tribo Na’vi, o Povo das Cinzas, liderada pela feroz Varang (Oona Chaplin, neta de Carlitos). Ela é a única personagem capaz de despertar nossa inquietude, numa interpretação competente.

Interessada em possuir fuzis, para fazer da pólvora um instrumento de expansionismo, Varang aliou-se ao inimigo de Jake, Quaritch, enquanto o conflito em Pandora se intensifica com consequências devastadoras. Aparentemente, nessa dinâmica, passamos para um novo nível de complexidade com o novo filme, não só pela introdução do Povo das Cinzas, mas também porque tivemos um evento trágico no segundo filme, que foi a morte do filho mais velho de Neytiti e Sully. Fala-se de luto um bocado, por conta disso. 

Essa discussão, entretanto, não carrega a ontologia o existencialismo que tal debate exige. O que se vê é troca de tiros entre Jake & os seus de um lado… o Povo das Cinzas do outro… e as tropas terráqueas no meio do caminho. Poderia até brotar um espetáculo de adrenalina como “True Lies”, que Cameron lançou em 1994. Mas, para isso, falta Schwarzenegger. Falta afinação com a evolução que o cinemão de pancadaria alcançou com a franquia “John Wick”.

O que nos é entre é um videogame. E ultrapassado, é como se alguém presenteasse um Master System ou um Phantom às gerações que foram alfabetizadas nas manhas digitais. Isso não se admite de um visionário como Cameron. Desde sua estreia na profissão, com o curta “Xenogenesis”, ele filmou apenas 14 longas. Relativize esse “apenas” ao incluir Titanic (ganhador de 11 Oscars em 1998), com sua bilheteria de US$ 2,2 bilhões entre seus feitos. O sujeito fez “O Segredo Abismo” (1989), que é uma pérola absoluta. Em algum lugar, suas boas intenções de salvar o planeta naufragaram seu poder de gerar transcendência estética. Haja paciência!

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