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“De Milton a Millôr” revela um Millôr Fernandes para além da figura pública

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Influente na imprensa e na cultura do país, o jornalista, escritor e desenhista Millôr Fernandes é tema do livro “De Milton a Millôr: a trajetória de um jornalista ipanemense, pasquiniano e sem censura”, da historiadora Andréa Queiroz.

Resultado de uma pesquisa que atravessa seu doutorado e anos de investigação, a obra reconstrói a infância de Milton Viola Fernandes no subúrbio e acompanha sua transformação em Millôr Fernandes, figura central no jornalismo brasileiro. “O que me interessou desde o início foi entender como um menino órfão do Méier se tornou um dos intelectuais mais importantes do país sem passar pela universidade e sem se curvar aos mecanismos formais de legitimação”, afirma Andréa.

O intuito de transformar a tese em livro surgiu depois que um dos achados da pesquisa de Andréa foi citado pela imprensa, destacando a atualidade de um texto de Millôr publicado há 56 anos na Revista Pif Paf. “Percebi que havia uma urgência em tirar esse estudo do campo acadêmico e compartilhar com um público mais amplo. Millôr segue atual e necessário”, explica.

Com abordagem histórica e analítica, o livro percorre os diferentes períodos da atuação de Millôr, de O Cruzeiro à  Pif Paf, da Veja ao Pasquim, onde ele se tornou símbolo da imprensa alternativa e da resistência cultural à ditadura. “Millôr transforma humor em método crítico. Ele não usa a ironia como mero recurso literário, mas como estratégia política e ferramenta de sobrevivência diante da censura e como forma de expandir as possibilidades de leitura do mundo”, destaca a autora.

Ao longo da obra, Andréa evidencia como Millôr construiu uma escrita marcada pela experimentação. Neologismos, trocadilhos, versos, releituras gráficas e rupturas discursivas formam o repertório que ele utilizava tanto para driblar interditos quanto para provocar o leitor. “Ele entendia as palavras como um lugar de batalha. Para Millôr, brincar com a língua era também questionar autoridades, desmontar discursos prontos e confrontar formas sutis de censura”, analisa.

Além da dimensão estética, o livro ilumina a importância de Millôr como observador do Rio de Janeiro, especialmente de Ipanema, e das transformações da cidade na segunda metade do século XX. Suas crônicas, em especial no Pasquim, construíram uma representação da Zona Sul como metáfora do país. “Entender Millôr é também entender o Brasil, suas contradições, a vida urbana, a política e os modos de subjetivação produzidos pelo período da ditadura”, afirma Andréa.

Além disso, a obra também revela aspectos pouco conhecidos de sua trajetória, como a formação autodidata e o aprendizado do jornalismo “de dentro”, começando como contínuo. “É curioso como a figura do ‘Millôr ipanemense’ muitas vezes apaga o menino suburbano. Mostrar esse percurso foi um dos meus compromissos neste trabalho”, ressalta a historiadora.

Rota Cult
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Redação do site E-mail: contato@rotacult.com.br

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