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Exposição celebra os 25 anos de produção artística de Renato Bezerra de Mello

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A palavra grega palimpsesto significa “papiro ou pergaminho cujo texto foi raspado para dar lugar a outro”. De modo figurativo, seria um espaço que abriga memórias sobrepostas – onde o novo surge sobre o que já existia, ou ainda, uma sucessão de diferentes camadas de experiências. Qualquer dessas metáforas encontra lugar na poética dos novos trabalhos de Renato Bezerra de Mello, que comemora 25 anos de produção artística em exposição no Paço Imperial.

Milhares de cacos de taças e copos de cristal, colecionados pelo artista ao longo de duas décadas e quebrados por ele na instalação constituem o fio condutor da nova exposição, que contém uma série de sete trabalhos realizados a partir do vidro: Vidro como vídeo; Vidro como bordado; Vidro como desenho; Vidro amalgamado; Vidro como fotografia; Vidro como pó; Vidro como instalação sonora.

– Renato recupera, nos novos trabalhos, os cacos da obra de 2004 – e os versos de Antonio Cícero, cantados na voz de sua irmã, Marina Lima – que o inspiraram à época: “Quem vai colar os tais caquinhos do velho mundo?” – comenta a curadora Paula Terra-Neale.

– Cada nova obra guarda algo de obras anteriores, diz o artista – cujas obras carregam, em seu DNA, o universo das memórias.  – Sempre relacionei a quebra dos copos no Castelinho à demolição da casa dos meus pais, no Recife, e às ruínas da fábrica de tecidos do meu avô – também em Pernambuco , registradas em vídeos que fazem parte da mostra. Mas sem nostalgia; ao contrário, como um momento de ruptura, de transformação. Assim como eu estou ressignificando o vidro, a natureza se encarregou de mudar a configuração arquitetônica da fábrica, por exemplo, com a mata “invadindo” o espaço – e criando uma nova imagem belíssima – conta Renato. 

– Colecionador de destroços e apreciador do frágil, Renato transforma cacos e ruínas em preciosidades, desafiando a nostalgia e sustentando valores existenciais e humanistas permanentes, ao apontar para a poesia de Armando Freitas Filho – tudo o que é frágil brilha sem medo do esplendor. O que nos oferece é o espetáculo esplendoroso do acontecimento da arte. Imagens, vídeos, instalações sonoras, bordados, desenhos e objetos compõem um espaço para a imaginação criativa e afirmam as liberdades pessoais e políticas como antídotos à distopia – destaca a curadora. 

A EXPOSIÇÃO

Um tablado central, paralelo ao chão, ocupa quase todo o espaço da Galeria Terreirinho, no térreo do Paço Imperial. Num jogo harmonioso de cores e formas, desenhos em cacos de vidro, construções lúdico-espaciais e círculos de vidro amalgamados por fusão em alta temperatura misturam-se a objetos/esculturas e composições com várias gramaturas de pó de vidro, como um grande e instigante quebra-cabeças.

Paula Terra-Neale explica que, nos desenhos atuais, Renato elabora uma soma matemática e intuitiva das pequenas peças de cristais, compondo-as livremente, porém alinhadas por suas arestas. – Os cacos são agrupados a partir de suas cores originais. Não é mais a beleza da forma do objeto utilitário, já destruído, mas a beleza que existe na materialidade do fragmento, na redução da matéria ao universo das coisas mínimas, na fluidez do processo compositivo, na ênfase nas possibilidades infinitas, na liberdade das escolhas, no jogo de peças de encaixe; enfim, na potência da criatividade humana face à fragilidade – afirma.

O bordado, que perpassa a produção do artista, também marca presença na exposição. Uma das obras é composta por três lenços que pertenceram a seu pai, nos quais Renato desenvolveu um bordado delicado. São percursos de ponto e linha que acompanham o nome do pai – já gravado no lenço, como se fazia antigamente – conta Renato.  

Ao longo de alguns pontos do trajeto expositivo, a poética do artista se completa pela sinfonia sutil do tilintar de cristais, do som da chuva caindo nas ruínas e pelo ruído do mar – uma gravação em slow motion que integra a obra.

SERVIÇO  9 de dezembro até 1º de março de 2026 / Centro Cultural do Patrimônio Paço Imperial Praça Quinze de Novembro, 48, Centro / Entrada gratuita / www.amigosdopacoimperial.org.br

Rota Cult
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Redação do site E-mail: contato@rotacult.com.br

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