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Five Nights at Freddy’s 2 trabalha em um universo de excessos

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Há exatos dois anos atrás, recém saídos da violência da pandemia do COVID-19, um sucesso inesperado chegada aos cinemas: Five Nights at Freddy’s, adaptação de uma série de videogames, custou apenas 20 milhões de dólares e arrecadou, em todo mundo, quase 300 milhões. A sequência era inevitável e foi decidida no auge daquele sucesso, como é de praxe na máquina hollywoodiana. O resultado reencontra todo o grupo original, incluindo o trio de protagonistas, os produtores, o roteirista Scott Cawthon e a diretora, Emma Tammi. A título de comparação, Five Nights at Freddy’s 2 eleva tudo o que já era absurdo no primeiro à uma potência que não parece ter sido suficiente ainda, já que a terceira parte tem tudo para já está no caminho, e a escala deve subir mais. Antes, é preciso esclarecer que, a despeito da expressão, está tudo dentro do esperado pela produção, incluindo (e talvez principalmente), os absurdos. 

Vejam só, trata-se de uma adaptação de um videogame criado pelo mesmo Cawthon que assina os roteiros, logo, ele sabe muito bem o que pretende aqui, e o filme deixa claro que ninguém em cena está livre dos méritos (ou culpas) do resultado. Criado em 2014, o jogo inicial tornou-se uma febre tão imediata que logo seu caminho mais óbvio foi procriar-se, dando luz a novos capítulos, livros, jogos de RPG, teorias autônomas criadas por fãs e espalhadas pela internet. Ou seja, o que vemos em Five Nights at Freddy’s 2 provavelmente é um calhamaço possível de campos intermináveis, onde a cada nova curva, uma saída absolutamente diferente da anterior é proposta. E o que a produção faz? Banca o novo rumo, para qual lado for. Em linhas gerais, o filme é escrito por uma única pessoa, mas isso nunca fica claro pela quantidade infindável de ideias que são absorvidas ao fim e ao cabo. 

As ideias estão sim todas em tela, e quanto mais elas aparecem, mais o filme as tem e se acoplam também ao que estamos acompanhando, camada em cima de camada, e mais e mais. Resultado: Five Nights at Freddy’s 2, assim como sua primeira parte, trabalha em um universo de excessos, e é justamente isso que o faz irregular, e não alguma deficiência estética. Tammi é uma diretora eficiente, com um olhar aguçado para o passado e o presente, que aqui continua ecoando entre os personagens. Já não se trata mais do pretérito longevo, mas também dos eventos do episódio anterior, que cunhou em seus personagens um novo campo de traumas. Em muitas passagens, o filme conversa tanto com O Telefone Preto, quanto com It, na necessidade de suas narrativas em recuperar uma histórias de horrores metafóricos e concretos, para moldar os adultos que serão e os que também já estão à sua volta. 

Já não se trata exclusivamente de uma espécie de saudosismo que permitiria ao horror uma conexão ainda mais abrangente com o espectador, mas com um lugar de reconhecimento do próprio passado enquanto mola propulsora do desconhecido. Os temas frequentes de narrativas do gênero, como a solidão do personagem à margem, que funciona como um componente de atração do horror, são utilizados de maneira a compor uma obra que não abre mão de qualquer possibilidade à vista. Five Nights at Freddy’s 2 joga com os tradicionais ‘jump scares’ do gênero, mas é também adepto desse código ancestral que olha para o ontem não com saudade, mas no seu lugar oposto – a incompreensão, que leva à aproximação de forças que moldam o mal. 

O elenco em forma (o trio Josh Hutcherson, Elizabeth Lail e Piper Rubio defendem seus tipos com ainda mais intensidade) é acrescentado pela participação especial de um sumido Skeet Ulrich, que formou com Matthew Lillard a dupla de assassinos do Pânico, e aqui encontram-se em lados antagônicos, mas seus esforços pensam um painel incompleto. Repleto de contradições, caminhos inconclusos e jogos que parecem nunca se encerrar antes de dar prosseguimento a um novo tópico, Five Nights at Freddy’s 2 não sustenta o que vemos, porque seus caminhos não tem limites, esbarram em qualquer nova rota e as segue sem a preocupação de compor os arcos. Tudo o que é dito na narrativa, pode ser contradito na cena seguinte, e o filme não se importa com a ausência de consequências para esses deslizes, parecendo inclusive que procura tais falhas para tornar-se mais exótico, talvez. 

Parte dessas características já estavam no filme de dois anos atrás, mas aqui o filme abandona sua própria lógica a cada vez que o roteiro precisa, como quando os personagens animatrônicos conseguem escapar da pizzaria. A partir de tal momento, Five Nights at Freddy’s 2 chega a se tornar engraçado, porque a cada nova decisão narrativa, o filme abandona a decisão anterior. A produção tem clima, o ambiente onde o filme se passa é verdadeiramente assustador, o elenco está dedicado ao seu ofício, mas o que fazer quando personagens somem, o próprio universo em questão entra em colapso para que os eventos possam prosseguir (ainda que falte concordância)? Talvez a saída seja encarar como a realização se apresenta, e curtir cena a cena, sem preocupação com racionalidade que seria cobrada normalmente. Afinal, se tem uma adolescente que sente falta de bonecos assassinos, a protagonista mente descaradamente para a única pessoa que ainda gosta dela, e tudo isso ao redor dos personagens é encarado com normalidade, é sinal de que o público tem que relaxar e embarcar no jogo. 

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