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Novelas: Deus e Diabo na terra onde a dramaturgia é rainha

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Programa que faz parte da vida do espectador brasileiro comemora 70 anos de vida.

Ela é popular, soube se reinventar e agora completa mais um aniversário em plena forma física. Olho-a de forma fascinada todos os dias, posso me permitir achar graça ou pensar sobre determinado assunto. Eu poderia estar falando da minha avó ou mãe, mas não. Eu estou falando das novelas, que completou setenta anos de vida.

Novelas
Reprodução Internet

Seja em tela em preto e branco ou em aparelho de TV 4K ou em formato smart, totalmente plana e a cores elas estavam lá, exuberantes, no rádio. Quando a TV finalmente chegou, ela rapidamente se adaptou ao novo formato, sendo exibida ao vivo e com apenas duas exibições semanais. Sim, as novelas eram ao vivo, e sim, assim era a televisão dos anos 50. Quase que voltamos aos “Tempos do Imperador” para “Seguir Além do Tempo”, não é? Pois é.

Eu estava conversando com uma tia de coração (mãe de uma grande amiga), quando comentei que precisaria escrever sobre as novelas, perguntei a ela o que ela achava sobre o assunto e ela sem hesitar me disse que, as novelas lhe eram uma espécie de terapia. Isso pode sintetizar bem o poder hipnotizador e de bem-estar provocado pelas novelas desde a sua primeira aparição ainda antes de minha mãe nascer, em 1951.

Seu sucesso universal, às vezes, nos confunde. Não sabemos mais se inventamos histórias ou se contamos nossas próprias histórias como se fossem enredos de novela, mas isso pouco importa, pois pode ser que tudo seja ilusório, mas nada que impeça de ainda assim ser possível. A novela brasileira, certamente, sobreviveu as demais abordagens, feitas quase ao mesmo tempo em outros países. Tudo porque conseguiu ter sua própria vida ou tomar como sua a vida da gente. É isso que garante ter chegado aos setenta tão bem. Seu poder de influência e seu poder de reinvenção, surpreendentemente, sobreviveu até mesmo aos anos de chumbo.

Depois da década 70,  ela domina o almoço da família, entra nos papos entre amigos na mesa do bar, faz com que a gente durma pensando no próximo capítulo. E, aliás, ainda ousa inserir temas que são pouco discutidos em nossa sociedade. Percebi ao, mais uma vez, observar minha tia de coração por um dia. Ela senta, liga a TV no “Vale A Pena Ver de Novo” e ali fica. Omite opinião, se indigna em frente à TV, troca de emissora para ver o que se passa na novela do outro canal e assim viaja na grade horário até que a última novela seja exibida. Eu, claro, sentei com ela!

Dona Marlene, minha mãe, nasceu em 1952. Ao escrever este texto lembrei-me dela na sala durante a primeira exibição da novela “O Clone” (2001). Minha família que na época morava no mesmo bairro se reunia. Minha tia vinha do curso, jantava enquanto fazíamos silêncio para assistir. Com o tempo, nós que estávamos sendo expostos a cultura árabe todos dias, em pouco tempo, estávamos dizendo os mesmos bordões, usando os itens da personagem principal (Jade) e adquirindo os dois discos com as músicas da trama. Lembro-me que chegamos a gravar o capítulo final da novela na fita VHS para que a minha tia pudesse assistir depois. Imaginem vocês, era “Inshalá” para tudo quanto é lado!

Há quem diga que as novelas são as responsáveis pelo empobrecimento da cultura brasileira, que é coisa da sociedade de massa e que decorre do capitalismo. Tudo porque ela trabalha no inconsciente, mas quem nunca quis dançar como Jade? Quem nunca quis depois da experiência da novela ir ao Marrocos ou milhões de outros lugares que conhecemos pelas  novelas? Embora tudo faça parte da verdade, a indústria cultural expande constantemente seu próprio jogo e delas poucos conseguem escapar. Então, para além de mero entretenimento, novela é, sim, coisa séria. Novela é um ativo da própria cultura brasileira. Um patrimônio que, na maioria vezes, conversa mais com o brasileiro que os professores conversam com seus alunos em salas de aula. Se marcar, não tenho certeza, é capaz de se passar mais tempo frente à TV que dentro da sala de aula. Por isso, vamos ao que interessa!

O poder da imagem nos nossos tempos é indiscutível e se torna fundamental para a alfabetização social. Um mundo fora da nossa realidade. O olhar para fora sem encarar a realidade aqui dentro. Famílias de classe média à alta, praias formosas, centro urbano focado somente no eixo Rio-São Paulo. O Brasil é mais que isso, não? Essas velhas narrativas começaram a ser postas como ultrapassado e não dá mais para ser tolerada.

Com o tempo a novela começou a ser mais plural, mais próxima do real, trouxe diversidade em “Aquele Beijo”, “Olho no Olho” e mais recentemente em  “A Força do Querer”. Além disso, por maior diversidade e pluralidade nas novelas, personagens LGBT têm conquistado maior destaque nas tramas nos últimos nos últimos dez anos.

Como não lembrar de Félix, interpretado por Mateus Solano em “Amor à Vida”(2013), que protagonizou o primeiro beijo gay em uma novela da TV Globo, e formou par com Niko (Thiago Fragoso) ou de Britney, interpretada pela atriz Glamour Garcia, em “A Dona do Pedaço” (2019).Na trama, a personagem se casou com Abel (Pedro Carvalho).

Discussões sobre gênero em conflitos familiares são temáticas presentes nas tramas mais atuais, e assim esperamos que continue. As novelas seguem se adaptando aos assuntos da sociedade, devagarinho, mas, enfim, ganhando ainda mais espaço como formação de opinião ( e educação também).

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