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“Tráfico”, auto ficção de Sergio Blanco, no Teatro Poeira

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Eros e Thanatos, deuses mitológicos que na psicanálise correspondem ao desejo erótico e ao fascínio pela destruição, vivem simultaneamente em todo ser humano é a partir desse entendimento de coexistência entre as pulsões de vida e de morte que se desenrola “Tráfico”, monólogo do franco-uruguaio Sergio Blanco.

Com direção de Victor Garcia Peralta, o espetáculo foi idealizado pelo ator Robson Torinni, que entra em cena como um garoto de programa que acaba se tornando um matador de aluguel diante da falta de oportunidades na vida. A montagem repete a bem-sucedida parceria entre autor, diretor e ator, depois de “Tebas Land” (2018), que fez temporadas premiadas no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Trafico
Foto: Gabriel Nogueira

A peça se passa na periferia de uma cidade latino-americana, cheia de desigualdades, onde vive Alex, um jovem garoto de programa. Os problemas familiares, o relacionamento conturbado com a sua namorada e a vontade de vencer na vida, representada pelo sonho de comprar uma moto de alto luxo, o levam para caminhos sedutores e também muito violentos. A partir de uma paixão, a história chegará às áreas mais sombrias da vida desse personagem que, paralelamente à sua profissão de garoto de programa, se tornará um assassino de aluguel. Aos poucos começa a surgir uma trama fascinante que mistura a narração dos seus encontros, sonhos e seu dia a dia. Ao longo da peça, Alex vai se desnudando, expondo o seu lado mais ingênuo e mostrando o seu lado mais monstruoso.

“A peça fala sobre pessoas sem chances na vida, que acabam tendo que seguir caminhos violentos, da corrupção dos poderosos e da hipocrisia de um grupo de progressistas”, define Victor Garcia Peralta. “A história de Alex é a história de muitos no Brasil. Pessoas pobres, frutos de um sistema que não lhes dá oportunidades, que sofrem violência familiar, morte de pais, e precisam se virar muito cedo na vida”, acrescenta o diretor.

No espetáculo, Sergio Blanco investe mais uma vez na autoficção, gênero pelo qual ficou conhecido, que mistura relatos reais com invenção, verdade e mentira. A peça começa com o ator Robson Torinni explicando ao público que vai contar a história de Alex. Trechos da vida do dramaturgo também aparecem na criação de um professor universitário que leva seu nome, se envolve com Alex e ganha o apelido de “o francês”. É ele quem encoraja Alex a entrar no mundo do crime. Pela primeira vez Robson Torinni estará sozinho em cena, como Alex, que, ao lado de sua moto (e sonho de consumo), alterna relatos de encontros sexuais com outros de grande violência, e dá voz a todos os outros personagens da trama.

“Foi o próprio Sergio Blanco quem me mostrou o texto, sugerindo que eu montasse. O maior desafio deste projeto é não ter outro ator para trocar em cena. É a minha primeira experiência em um solo, então estou aprendendo a jogar com a plateia. O texto me tocou bastante desde a primeira vez em que li, por falar sobre uma pessoa que, pelas circunstâncias de uma vida periférica sem oportunidades, não conquista nada e segue pelo caminho do crime. A partir daí, a peça toca em vários temas como desejo, sonho, criação, solidão, sexualidade, vício, separação, falta de esperança, beleza, traição e crime”.

Tráfico
Temporada: De 11 de julho a 23 de agosto de 2023.
Teatro Poeira (Rua São João Batista, 104 – Botafogo)
Dias e horários: terça e quarta, às 20h.
Venda de ingressos pela Sympla
Classificação: 18 anos

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Redação do site E-mail: contato@rotacult.com.br

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