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Besouro Azul traz mocinho com graça e charme em filme com tom cômico

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Bruna Marquezine  segura com categoria a pecha de ser uma mocinha da DC.

O universo cinematográfico que engloba as adaptações de HQs está passando por uma reformulação, mas isso atualmente está surtindo resultado mais no que concerne a recepção de público e crítica do que necessariamente os planos de suas maiores fomentadoras, Marvel e DC. Muitos fracassos esse ano, muitas decepções quanto às arrecadações, e um futuro incerto, ainda que com planos de reviravoltas nos “próximos capítulos”, mostram que é um período de transição, que eu não sei se a indústria encara como necessário (não da parte dos donos do dinheiro, com certeza), mas a conclusão é de que o desgaste finalmente chegou, pro bem e pro mal. No que isso afeta a estreia de Besouro Azul? Praticamente em tudo.

Até a chegada dos primeiros Guardiões da Galáxia e Pantera Negra, os riscos assumidos em histórias menos óbvias com personagens menos tradicionais foi substituído pela certeza de uma representação que o gênero não vinha tendo. Paralelo a isso, o gênero ainda era assolado pela mesmice absoluta na maior parte das vezes, com público e crítica simplesmente aclamando cada voo de personagem mutante e/ou extraterrestre. Talvez a pandemia tenha sido um choque de realidade para que o óbvio ficasse ainda mais óbvio para o espectador: nada muito diferente estava sendo tentado. A qualidade cada vez mais redundante dos filmes e o acabamento pela metade não ajudaram na crise, e o momento não é o mais propício para lançar mais um risco, como esse Besouro Azul – mas é uma realidade.

Tudo isso acima são dados concretos ou especulações próximas da verdade, que não traduzem especificamente o que na verdade é o título dirigido por Angel Manuel Soto. O porto-riquenho de 40 anos reproduz os anseios de um recorte latino americano quase na totalidade da origem dos personagens para encontrar esse mesmo público, do lado de fora da tela. A experiência é bem sucedida nessa abrangência do olhar, na multiplicidade de texturas que são criadas em torno de personagens que, no fundo, formam um setor da economia estadunidense, mas é muito diferente entre si. Quando essa diferença é demarcada, ainda que sem essa intenção, e vemos um jovem tímido e humilde, um homem mais velho brutalizado por conflitos armados, uma jovem patricinha engajada, uma menina debochada e mal humorada e um adulto expert em eletrônica, o caldo engrossa e funciona.

No entanto, Besouro Azul é um filme cujas tentativas nem sempre alcançam os alvos. Verdade seja dita, a expectativa não era das maiores, por uma série de motivos, incluindo o já citado desgaste do gênero. Isso contribui para que o olhar analítico acabe encontrando inúmeras rotas positivas no processo, que são resultado do talento coletivo, claro, e não do acaso. O carisma generalizado espalhado pelo longa, as boas participações de um elenco que parece verdadeiramente feliz e empenhado onde estão, e um mocinho que, como já diz as chamadas, não gostaria muito de estar nesse lugar, mas o realiza com graça e charme. Quando avançamos para os detalhes, os incômodos aparecem e tentam roubar a cena, criando uma ‘queda de braço’ que obviamente não é saudável, mas que não mancha a experiência.

Aliás, o principal arranhão da produção é quanto ao tom que é instituído à família Reyes, em coletivo. Cada um dos personagens, sozinho, funciona muito bem, e tem interações muito boas com o protagonista mais reservado vivido por Xolo Maridueña. Quando se juntam, no entanto, a tendência ao estereótipo fica bastante evidenciada, como vemos na cena em que vão acompanhar Jaime na reunião de emprego. É uma tentativa de criar uma zona de afeto que é percebida por Jenny Kord, mas que no espectador remete ao que de mais histriônico teriam em episódios da “Família Buscapé” ou”A Grande Família”. Além de não estarmos somente falando de clichês do audiovisual, mas também do comportamental e do lugar onde são colocados o padrão do que se vê como latino americano.

Besouro AzulPara nós, em particular, há ainda o interesse no ingresso de Bruna Marquezine no mercado internacional. Da minha parte, a atriz se sai muito bem, carismática e com ótimas cenas com Susan Sarandon, segurando com categoria a pecha de ser uma mocinha da DC, ainda bem que, hoje em dia, mocinhas não são apenas figuras inertes, e sua Jenny tem papel ativo em todos os estágios da narrativa, movimentando a narrativa rumo à continuidade. Sua química discreta com Maridueña é exatamente o que o filme pede, a um casal que só se pretende formar em episódios seguintes, mas tais episódios irão existir? A julgar pela cena pós-créditos, alguma torcida deveria cair no fã, já que o momento é bem interessante e verdadeiramente impactante, diferente do que vem acontecendo nos exemplares mais recentes.

Com direção de arte bem demarcada e uma fotografia chamativa que trata do neon com respeito a cargo de Pawel Pogorzelski (de Beau tem Medo), Besouro Azul não se pretendia ser um filme a mais de um universo cinematográfico. Sua intenção pela leveza e seu compromisso com valores familiares e demográficos até esbarram em uma opção pela violência em determinado flashback, e uma cena de um ataque de uma nave inseto demonstra que o filme poderia ter ido para um outro lado. Mas as escolhas são muito pertinentes em manter uma ponte entre uma certa doçura infanto-juvenil e um quadro artístico mais detalhado livra o título de uma chuva de problemas que tem ocorrido com frequência. Ainda que se observe as ressalvas do quadro geral, o saldo final tem gosto de ‘DC, aproveita eles!’.

 

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