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Resistência transforma reflexão em uma jornada do herói típica

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Gareth Edwards já é um nome tão estabelecido na indústria, que não parece que ele tem apenas quatro longas, e seu primeiro já faz treze anos de lançado. Desde que Monster surgiu, seu nome foi atrelado a uma experimentação de gênero que não se concretizou. De lá pra cá, sempre esteve ligado a projetos de grandes estúdios como diretor contratado, a reimaginação de Godzilla e o derivado da saga de George Lucas, Rogue One. Esse novo, Resistência parece com o que de mais autoral ele poderia alcançar hoje, mas sua carcaça tem mais de uma obediência a servir. Como se não fosse mais possível apresentar uma ideia original de comunicação perene com o público, o estúdio precisa de uma resposta imediata às produções, não há como esperar uma década para ser introduzido a uma liturgia clássica.

O resultado traz um filme que se comunica com as incursões de Neil Bloomkamp (especificamente, Elysium e Chappie), mas principalmente uma ideia sobre inteligência artificial que Brian Aldiss apresentou em “Superbrinquedos Duram o Verão Todo”, conto que seduziu Stanley Kubrick. Não conseguindo ter tempo para sua adaptação, fomos apresentados à versão de Steven Spielberg para A.I., uma das mais subestimadas obras do diretor. Isso era um outro tempo, e Spielberg é, certamente, um diretor que pode se dar ao luxo de empregar dinheiro para um filme que sobreviva ao seu ano, Edwards não. Tendo essa mecânica conhecida para lidar, o roteiro de Edwards e de Chris Weitz (indicado ao Oscar por Um Grande Garoto) acaba por ter que seguir duas diretrizes, que não precisariam parecer distintas, mas acabam por sê-lo.

Existe o filme que o autor queria dirigir e disseca as possibilidades das inteligências artificiais hoje, e ao mesmo tempo tem a coragem de tentar proteger essa nova tecnologia, no exato momento onde se discute os malefícios dela para a arte. Edwards  o faz até de maneira radical, com robôs performando monges budistas, em tentativa de sintonizá-los com o Bem. Ainda assim, trata-se de uma posição autoral de defesa, elaborando um discurso que nos posiciona em lados opostos, e mais uma vez aponta os Estados Unidos como o vilão. As alusões à Guerra do Vietnã são pouco disfarçadas mas funcionam, tanto no campo simbólico quanto na vontade de aproximar o cinema estadunidense do asiático, que precisam continuar colaborando mutuamente.

Infelizmente, Resistência tem obrigações mercadológicas que o apontam como um projeto desafiador para o nosso tempo. E na necessidade de atender essas metas, Edwards sucumbe a transformar sua reflexão em uma jornada do herói típica, repleta de ação e efeitos especiais de qualidade inegável, mas que deturpam o quadro geral. A cada momento que o filme poderia explorar mais seus conceitos de explanação de suas camadas, o “patrão” do diretor parece lhe lembrar que precisa de mais ação, mais aventura, mais romance, mais formas de capturar o público médio. Em pleno 2023, quando a indústria já se encontra melhor do que nos últimos anos, mas ainda não o suficiente para produzir um título de pensamento de nicho, o filme paga o preço da obrigatoriedade em ser o mais popular possível.

Dois pontos transformam positivamente Resistência, esses sim responsáveis pela conexão que se almeja. Em um filme que precisa ser comprado pelo público, é o material humano que fará isso. No primeiro momento, Allison Janney é a grande responsável pelo nosso envolvimento, em um monólogo sobre maternidade e baixas de guerra do qual a atriz mantém seu nome entre as maiores da atualidade. No segundo momento, é o encontro entre John David Washington e Madeleine Yuna Voyles, o coração de todo o projeto. Além disso, o filho de Denzel Washington se agiganta como ator ao contracenar com a pequena atriz, e ambos transformam uma relação robótica (trocadilho infame) em um momento de genuíno afeto nascido entre seus talentos.

Planos muito bonitos construídos por Edwards deixam claro os horrores de qualquer guerra em qualquer tempo, incluindo as explosões mais impressionantes feitas pelos Efeitos Visuais, assim Resistência sobrevive como um ponto positivo em sua área, ao mesmo tempo que não deixa de ser considerado vida inteligente dentro do blockbuster, ainda que sua situação se assemelhe a de um enfermo se debatendo para respirar. Ao aproximarmos nossa lupa crítica para próximo de sua direção de arte, da trilha de Hans Zimmer e do que é demasiadamente humano em cena, acaba sendo evidente que as qualidades excedem a tentativa de um grande estúdio em vender mais uma linha de produção.

 

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