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Brado é mais um passatempo do cineasta Kim Rossi Stuart

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Existem dois lados pra onde se analisar a estreia de Brado, que chega essa semana aos cinemas brasileiros. A primeira, e que parece mais arbitrária (mas não é) é a da distribuição brasileira do filme, que em tese nada tem a ver com a qualidade final do produto, porém através dela é pintado um representativo do lugar onde essa obra se encaixa. O segundo é o mais óbvio, das ambições do filme em si, e que também conversam com a carreira de seu diretor. Em ambos os casos, a análise é subjetiva – assim como toda o é – mas aqui em particular, porque estamos falando de um título que encontrará facilmente seu público, porque ele existe e é abrangente. Só resta saber se esse público em particular está na zona de percepção do mercado e da distribuidora em si.

BradoEntão vamos ao universo de Brado, para que posteriormente consigamos entender seus méritos e deficiências, assim podemos chamá-las de tais. Já vimos isso antes: pai caído em desgraça (pelo desfile de motivos de sempre) tem apenas uma fagulha de salvação em si: sua relação com os cavalos. Como isso, no passado, o uniu aos filhos, hoje o rapaz decide voltar a cavalgar o animal preferido para, com isso, salvar o que resta ali, seja na relação entre eles, na história do pai em particular, da sua própria existência, para tentar um perdão que poderia nunca vir. Inspirador e, ok vá lá, comovente! Mas,  o filme tem um espectador sedento por ele à sua espera, mas onde estaria tal público? É fácil encontrar, hoje, alguém pra ir ao cinema conferir tal projeto?

Vamos às questões que ele carrega. Kim Rossi Stuart já foi um nome promissor no cinema italiano, tanto na frente quanto atrás das câmeras. Com os anos, percebemos que ele nunca mentiu. Vejamos Brado, por exemplo. Uma produção popular elevada à enésima potência, até com um visual bacana e uma fotografia que se mostra eficaz, e uma síntese da obra de Stuart. Mas, na verdade é que o moço nunca tentou ir além disso, mostrando aqui, um vendedor de entretenimento. O que talvez seja seu melhor filme, As Chaves de Casa, não tem resultado muito diferente do que vemos aqui. É bom deixar claro que não há qualquer problema em um cineasta perseguir a acessibilidade irrestrita, mas fazendo como faz, seus filmes nunca ambicionaram nada além do que o passatempo esquecível.

Aqui, isso se repete. O filme não incomoda ninguém com o conforto que pretende oferecer ao público, mas mesmo o cinema popular, se quiser realizar vibração em quem o assiste, precisa oferecer a seu espectador mais do que já foi feito. Mais ou diferente, ou excitante, ou visualmente algo superlativo, assim Brado nem tenta chegar a esse lugar. Se o que oferece não agride com sua convencionalidade, também é ela que torna a experiência descartável e com pouca textura. Caso a ideia seja embarcar em uma viagem já experimentada em tantas ‘sessões da tarde’ que a conta já foi perdida, o conselho a não perder essa estreia é imediato. Ainda assim, com público cada vez mais exigente, um filme como esse talvez hoje só seja apreciado por quem quer relaxar sem compromisso.

Quanto a distribuição, que parece uma ideia irrelevante na análise de uma obra (e talvez o seja, de verdade), o toque é mais particular. A Imovision é um espaço que se destina obviamente à excelência, busca por identidade de vanguarda através do que lança. Mesmo quando desagrada parcela de quem assiste, com provocações como Clímax e Benedetta, eles cumprem o papel que se incumbiram de estar no lugar mais elevado quanto ao que oferecem para o circuito. Brado, nesse sentido, é uma raríssima bola curva, uma produção de padronagem esquecível, embora cheio de boas intenções – exatamente aquelas que não livrou ninguém do inferno. Por isso também, seu lançamento durante um dos maiores festivais de cinema do país (a Mostra SP), onde eles contam com dez pré estreias, parece destinado a cumprir tabela.

O filme de Kim Rossi Stuart não pretende qualquer outra situação que não o breve esquecimento. Ainda que ninguém vá sofrer durante suas quase duas horas de projeção, Brado deixará no espectador as mesmas lembranças que ficam em quem passou um dia no parque, depois de visitar 128 parques na vida. Por maiores que sejam as emoções do momento, na virada da próxima esquina, nada terá ficado na memória. Apenas a vontade de assistir algo que realmente nos motive, pra dentro ou pra fora.

 

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