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Oscar 2024: veja os ganhadores

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Podemos reclamar de obviedades ao tratarmos de premiações de cinema estadunidense, e mais especificamente de quando passamos mais de três meses por ano acompanhando uma corrida que, até o resultado do último páreo, não faz outra coisa que não afunilar? Entendo de verdade uma reclamação de previsibilidade quanto à noite de ontem vinda do público leigo, mas somente eles têm esse direito, o experimentado, não. O que vemos na noite final de uma premiação não é um festival de mesmices, mas o capítulo final de uma história que começa muitos e muitos meses antes, quiçá anos.

De maneira concreta, Oppenheimer consagrou-se vencedor em 7 das 13 disputadas, entre elas as nobilíssimas filme e direção, finalmente consagrando um artesão da indústria como Christopher Nolan. Anos e anos de premiação ‘indie’ – o último vencedor imenso tinha sido Argo, onze anos antes, aliás, já tinha passado da hora do Oscar voltar a premiar o entretenimento de larga escala, e poucos hoje representam isso melhor estabelecido hoje como o britânico. Do ponto de vista estratégico, Oppenheimer era tudo o que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas ansiava, podendo agora voltar a mostrar que seus passos continuam indo na direção do ‘artístico’, para o bem e para o mal.

Com a internacionalização de seus membros de forma robusta, o Oscar tem preferido se comunicar com a sociedade atual do que necessariamente com a indústria. Falem o que quiserem, mas eu prefiro ver essa nova versão da Academia, com dez indicados em melhor filme, onde cabem três filmes dirigidos por mulheres, três produções não faladas em inglês, e que isso se torne uma tendência cambiável, do que o que cresci vendo. Cabem cada vez menos o espaço para vitórias de Coração Valente, de Forrest Gump, de Rain Man, em detrimento a discussões modernas comportamentais, visões de mundo menos quadradas, e um cinema que converse com a realidade, e não com uma espécie de bom mocismo.

Apesar dessa grande vitória, houve sim o espaço para essa Academia renovada, e praticamente ela esteve em todos os outros prêmios que não os dados a Nolan e cia. Espécie de segundo lugar não-oficial, ‘Pobres Criaturas’ é o que mais se aproxima de um cinema ‘fora dos padrões dentro dos padrões’, e que os votantes se identifique. O prêmio de melhor atriz pra Emma Stone, em uma atuação despudorada, corajosa, cheia de nuances e vitalidade, representa o vigor que não vimos nos outros prêmios de atuação, mas que estão os três (Cillian Murphy e Robert Downey Jr., em ‘Oppenheimer’, e Da’Vine Joy Randolph, em ‘Os Rejeitados’) em recortes introspectivos. Ou seja, o que era mais tradicional em conceito, também foi o que menos representa o que as premiações respeitam, a exposição.

Vitória japonesas em efeitos especiais e animação (respectivamente ‘Godzilla Minus One’ e ‘O Menino e a Garça’) juntaram-se aos irrepreensíveis prêmios de ‘Zona de Interesse’ e ‘Anatomia de uma Queda’ para reafirmar esse lugar globalizado da Academia. O Oscar é um prêmio da indústria estadunidense, então em tese o normal é ‘Oppenheimer’ fazer a festa. Quando cinco filmes fora dos padrões tomam de assalto o jogo, e quando aceitamos que O Filme da Indústria é uma anomalia da natureza – a densa biografia de um físico nuclear contada de maneira lenta por três horas de uma narrativa que vai e volta no tempo, em preto e branco e colorido, que rendeu quase 1 bilhão de dólares – é mais fácil parar de reclamar.

Tudo o que foi visto na noite de ontem, como abri o texto é o resultado de uma construção que se inicia em campanhas que duram meses, e que se dá certo com muitos títulos, com muitos outros naufraga – vide ‘A Cor Púrpura’, ‘Segredos de um Escândalo’, ‘Homem-Aranha Através do Aranhaverso’, ‘Todos Nós Desconhecidos’, ‘Maestro’ e tantos outros, em diferentes graus. Uns decepcionaram em absoluto, outros tiveram resultado espetacular e morreram na praia, e ainda existe o grupo onde está inserido o filme de Bradley Cooper; o copo está meio cheio ou meio vazio, quando um filme concorre a tudo em todos os lugares, mas não ganhou nada em lugar nenhum? Não importa se você é um bom filme ou um mau filme, quando todas as tentativas na direção de ter um discurso de vencedor não ganhou reverberação.

Muita coisa pode ter mudado na noite de ontem, mas os resultados de uma noite do Oscar nunca são sentidos de um ano pra outro, e sim ao longo dos tempos, muitas vezes de uma década para outra. Essa distância entre filmes milionários vencedores, por exemplo, só foi ficando cada vez mais evidente, uns 5 anos após a vitória do filme dirigido por Ben Affleck. O predomínio dos independentes também não foi sentido de cara. Digo isso pra alertar que nenhum apontamento claro pode ser feito a respeito do que ‘Oppenheimer’ causou, mas tenho pra mim que esse era um movimento necessário, de apaziguamento da indústria, que inclusive foi apadrinhado pela crítica, o que é raro; ou seja, o Oscar só corroborou algo que inclusive os jornalistas sacramentaram nas últimas semanas.

Em linhas gerais, tem mais personagens alegres que tristes. A melancolia fica quase que exclusivamente com Martin Scorsese, cujo ‘Assassinos da Lua das Flores’ saiu injustamente de mãos abanando, mais uma vez. Mas a verdade é que o pensamento coletivo talvez seja o de que o diretor de ‘Taxi Driver’ já foi devidamente condecorado por anos a fio, e seu nome já está encravado na História, do Cinema e do Oscar. Bradley Cooper também não está feliz, mas nesse caso, existe um merecimento a cada derrota de um filme tão desastrado quanto ‘Maestro’.

Parece apressado, mas provavelmente já estamos diante do primeiro indicado a melhor filme da próxima temporada (‘Duna: Parte 2’). Isso indica que as conversas que culminarão em próximos vencedores já começaram, mas talvez não exista a necessidade de um próximo blockbuster vencedor. Quem vem aí? É uma incógnita hoje, que mês a mês nos aproximaremos de uma resposta mais concreta, em movimentações de bastidores sempre fascinantes.

Vencedores do Oscar 2024:
FILME: Oppenheimer
DIREÇÃO: Christopher Nolan, por Oppenheimer
ATOR: Cillian Murphy, por Oppenheimer
ATOR COADJUVANTE: Robert Downey Jr., por Oppenheimer
ATRIZ: Emma Stone, por Pobres Criaturas
ATRIZ COADJUVANTE: Da’Vine Joy Randolph, por Os Rejeitados
ROTEIRO ORIGINAL: Anatomia de uma Queda
ROTEIRO ADAPTADO: Ficção Americana
INTERNACIONAL: Zona de Interesse
ANIMAÇÃO: O Menino e a Garça
FOTOGRAFIA: Oppenheimer
MONTAGEM: Oppenheimer
TRILHA SONORA: Oppenheimer
FIGURINO: Pobres Criaturas
DIREÇÃO DE ARTE: Pobres Criaturas
MAQUIAGEM: Pobres Criaturas
CANÇÃO: ‘What Was I Made For?’, de Barbie –
SOM: Zona de Interesse
EFEITOS VISUAIS: Godzilla Minus One
DOCUMENTÁRIO: 20 Dias em Mariupol
DOCUMENTÁRIO – CURTA: The Last Repair Shop
ANIMAÇÃO – CURTA: War is Over!
FILME – CURTA: A Incrível História de Henry Sugar

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