No bonde das comemorações de seus 70 anos, Zico ganha estátua de cera, livro e HQ

Com a frase “Hoje o AquaRio vai ganhar um Galinho”, em referência ao apelido do cidadão mais famoso do bairro de Quintino, o maior acervo para apreciação e estudo da vida marinha da cidade inaugurou, num tom de festa, uma estátua de cera em deferência aos feitos do craque Arthur Antunes Coimbra, o Zico. Uma multidão de torcedores (a maioria vestida com camisas do Flamengo, time que celebrizou o jogador) prestigiou a cerimônia, iniciada às 10h, numa toada de ovação. Zico descobriu um pano que cobria a escultura – que reproduz suas feições em 1981/ 82, sua fase áurea de glórias – com bom humor.

“Tô bem mais bonito aqui”, brincou. “Para quem estranhar a minha aparência, eu queria que a fisionomia numa época em que a gente ganhava o mundo. Hoje, nosso futebol passa por uma fase difícil, perdendo para seleções de nível mais baixo. Mas nosso técnico atual (Dorival Júnior) mostrou competência por onde passou e pode fazer diferença”.

Na massa de fãs que gritava “Zicô! Zicô! Zicô!”, numa forma circunflexa de falar o nome do ídolo, nos moldes do brado da torcida rubro-negra, estava o cantor Bucheha. “Vim reverenciar alguém que já me deu muita alegria jogando”, disse o ídolo do funk melody. A estátua dele fica no Dreamland Museu de Cera, que opera no interior do AquaRio. A réplica do dono da camisa 10 do Flamengo se junta a outras 35 peças. No local, além de Zico, os visitantes ainda verão estátuas em tamanho real de grandes personalidades, celebridades como Tom Hanks, Rainha Elizabeth II, Bruce Lee, Albert Einsten, o Papa e o também jogador Lionel Messi. Ao ser ovacionado, o craque da claque flamenguista fez uma ode ao Rio de Janeiro, destacando a honra que é receber esse tributo em sua cidade natal.

Em resposta ao Rota Cult, ele comentou o simbolismo de ser uma espécie de embaixador da cultura carioca no mundo. “É bom ser embaixador sem ter compromisso com ninguém. É um peso grande”, disse Zico, que teceu suas considerações acerca dos atuais entraves do Campeonato Carioca.

“É uma pena que, no início, os próprios times não respeitaram o campeonato como deveriam. Não usar as equipes principais nos jogos é um desrespeito. Um campeonato merece o respeito das agremiações”.
Zico lamentou não ter sido escalado para segurar a Tocha Olímpica nos Jogos de 2016 e lembrou o quanto é reconhecido no Japão, por suas contribuições à formação das equipes nipônicos.

“Eu também sou técnico. Um técnico pode escalar uma equipe como quiser, pois a cabeça que vai rolar é a dele”, disse o jogador, comovido ao ver suas feições eternizadas no AquaRio, e já disponível para visitação do público.

O processo todo da Dreamland, do convite até a finalização do modelo da estátua, durou dois anos. Tudo começou em fevereiro de 2022 quando Zico aceitou a homenagem e, a partir daquele momento, foram discutidos o período da carreira que seria retratado, a pose e o figurino. Em julho daquele mesmo ano, ex-jogador passou horas realizando mais de 250 fotos, além de tirar 300 medidas para serem utilizadas no desenvolvimento do busto e do corpo. Todas as informações ajudaram a criar a estátua em cera com a representação exata de tonalidade da pele, cor dos olhos e cabelos, além de formato de rosto.
Depois de aprovada a peça, foi escalada uma equipe de 20 artesãos estrangeiros, todos fãs do futebol brasileiro. O ateliê responsável pela confecção era localizado em Londres. Foram necessários 18 meses para esculpir a estátua que pesa cerca de 40kg.

Um vídeo documental integrou a inauguração da estátua, abrangendo momentos decisivos da vida do jogador. Parte dos episódios que celebrizaram seu nome são relembrados no livro “O Efeito Zico”, de Marcos Eduardo Neves, já à venda. No bonde das comemorações dos 70 anos do atleta, até os quadrinhos entram no gramado, representados pela HQ “Zico – 50 anos de Futebol”, de Flávio Soares e Samuel Bono.