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“DESERTO” aborda os últimos anos de vida do escritor Roberto Bolaño

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O premiado escritor chileno Roberto Bolaño (1953-2003), considerado um dos maiores autores latino-americanos da virada do século 21, é tema do espetáculo “DESERTO”, que chega Teatro do centro cultural Futuros – Arte e Tecnologia, no Flamengo. Com direção e dramaturgia original de Luiz Felipe Reis e atuação de Renato Livera, a peça pretende instaurar uma experiência multilinguagem, articulando dispositivos teatrais com a literatura, a poesia e a música, além de instalações de luz, som e vídeo.

DESERTO
Foto: Renato-Mangolin

Em cena, o espetáculo aborda os últimos anos de vida do escritor, diagnosticado com uma doença degenerativa, e apresenta a impressionante jornada do autor chileno que atravessa o continente rumo ao México e depois fixa-se na Espanha. “DESERTO” é a recomposição de rastros dessa aventura, recriando em cenas fragmentos de sua vida e obras: a travessia de um espírito inquieto marcado pela inconformidade com as normas, pelo desejo de ruptura, fuga, viagem, e então seu encontro com o desterro, o exílio, o deserto do real e, enfim, com a criação artística.

” “DESERTO” é a recomposição de rastros dessa aventura. A travessia de um espírito inquieto marcado pela inconformidade com as normas, pelo desejo de ruptura, e que, então, se relaciona de modo muito particular com o exílio, com o desamparo e com o “deserto do real” de um mundo globalmente colonizado e dominando pelo imperativo do lucro, da utilidade e da eficácia a serviço do capital – como resposta ao horror e a aridez do real, Bolaño reafirma continuamente uma relação inseparável com a criação artística. Sua obra e sua vida são afirmações de uma ética de existência: a aventura poética como uma forma de vida, como uma forma de escapar e de se contrapor ao nomos e ao ethos – conjunto de normas e hábitos – impostos pelo regime totalitário do capital em sua forma contemporânea, neoliberal, marcada pela financeirização de tudo”, comenta o diretor Luiz Felipe Reis.

Em cena, Renato Livera se aproxima e se abre aos influxos do inconsciente, dos sonhos, da obra e da vida do escritor chileno Roberto Bolaño. É uma travessia no imaginário de um dos maiores escritores do nosso tempo, e também a primeira dramaturgia original criada a partir da sua vida-obra. Bolaño surge para o mundo literário em meados dos anos 1990, celebra seu primeiro grande sucesso em 1998, com “Os detetives selvagens”, mas cinco anos depois morre e não vê sua obra-prima “2666” ser publicada. A temporada do espetáculo DESERTO no Futuros – Arte e Tecnologia é também uma celebração dos 20 anos do lançamento da obra-prima “2666” e dos 10 anos de formação da companhia Polifônica.

“Toda sua trajetória, e sobretudo seus últimos anos de vida representam, de certa forma, nossa batalha poética-cotidiana no mundo contemporâneo, uma luta contínua contra as forças de morte, de desertificação das subjetividades e de desvitalização do imaginário a que estamos sendo submetidos pelo mundo neoliberal e digital. Sua obra, assim como nossa peça, ao menos esperamos, são contra-cenas que se opõem ao estado desértico a que o mundo ruma, à disseminação irrestrita do horror e das forças de destruição que se alastram e englobam a Terra: violência neoliberal, necropolítica, ecocídio, feminicídios, fascismos e autoritarismos que vicejam em todos os tempos nas Américas e além”, comenta o diretor Luiz Felipe Reis.

Revelando o motivo da escolha do nome do espetáculo, Luiz Felipe Reis chama atenção para duas obras de Bolaño em que os protagonistas são poetas ou escritores desaparecidos. Em “Os detetives selvagens”, dois poetas vão em busca da mãe da poesia, uma mexicana que desapareceu no Deserto de Sonora, no noroeste do México. Já em “2666” um escritor alemão desaparece no mesmo Deserto.

“O Bolaño vai então escrever em diálogo e em fricção constante com esse ‘lugar’, com o deserto enquanto realidade e metáfora, lugar em que desaparecem, sofrem violências e morrem as vítimas deste mundo machista-capitalista-neoliberal em que vivemos, ou seja, mulheres, poetas, artistas, trabalhadores, etc. O deserto enquanto metáfora do estado atual do mundo, assim como a nossa peça, têm a ver com esse processo, em que a poesia ou a possibilidade de uma vida criativa, lúdica, sofre inúmeras formas de violência num mundo cada vez mais orientado por uma lógica quantitativa, numérica, regida pela maximização infinita do lucro e das finanças”, conclui Luiz Felipe Reis.

Atualmente, pode-se dizer que Bolaño já é reconhecido como um “clássico contemporâneo”, mas ainda hoje sua obra é muito mais conhecida do que efetivamente lida. Ao recriar em cena fragmentos da vida e da obra do autor, DESERTO pretende contribuir para a difusão de sua obra, atuar como porta de entrada ao seu fascinante universo literário e iluminar seu legado artístico. Após sua morte, em 2003, e a publicação de “2666”, em 2004, Bolaño se tornou um dos maiores fenômenos literários da virada do último século – considerado por muitos o maior expoente das letras latinas desde Gabriel García Márquez.

Serviço
Temporada: 02 de maio a 23 de junho de 2024, quinta à domingo, às 20h
Local: Futuros – Arte e Tecnologia
Rua Dois de Dezembro, 63, Flamengo, Rio de Janeiro (próximo ao Metrô Largo do Machado)
Ingressos pela Sympla
Classificação indicativa: 16 anos

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Redação do site E-mail: contato@rotacult.com.br

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